Grande Cruz Cardinal – Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

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Imagem alquímica

Imagine o seguinte cenário: um homem e uma mulher estão andando no meio do mato, numa região virtualmente desabitada, no crepúsculo. Estão numa terra que compraram recentemente, ainda sem as cercas e limites providenciais. De repente, deparam-se com dois homens armados com espingardas. São caçadores. Os quatro ficam instantaneamente tensos e defensivos. O homem e a mulher, além de proprietários da terra, são contra a atividade de caça e ali é uma região próxima a unidades de conservação. Os dois homens identificam-se também como proprietários da terra. A situação fica ainda mais carregada e o homem e a mulher não esquecem o fato de que os caçadores estão armados. A mulher então sugere tomarem um café no barraco improvisado que têm ali perto. Enquanto ela faz o café todos conversam, ainda muito tensos. Depois de longa conferência, chegam à conclusão de que a terra pode ter sido vendida duas vezes, já que pertencia a uma família numerosa que não tem muito controle de quem vende o quê. Os quatro trocam telefones e ficam de questionar a família sobre a venda da terra. Os caçadores despedem-se e vão embora enquanto o homem e a mulher ficam ainda tensos e inquietos. Não se sabe o desfecho da história, mas decisões e ações têm que ser tomadas imediatamente.

Grande Cruz
Urano, Júpiter, Vênus e Plutão foram a Grande Cruz Cardinal

Essa história aconteceu de fato e é uma excelente ilustração da dinâmica da Grande Cruz Cardinal presente no céu desses dias. Uma Grande Cruz é formada quando quatro planetas estão em quadratura entre si, com duas oposições cruzadas. A imagem é de um quadrado perfeito. A forma como ela opera depende da qualidade, se cardinal, fixa ou mutável. Essa é uma Cruz Cardinal, que exige decisão e ação. É muito dinâmica e ativa e toda essa atividade é gerada por tensão e fricção formidáveis. Esta, especificamente, é formada por Urano em Áries, Júpiter em Câncer, Vênus em Libra e Plutão em Capricórnio. Os dois eixos implicados são eixos que tratam essencialmente de relacionamentos: Áries-Libra, o eixo eu x o outro; Câncer Capricórnio, o eixo parental-familiar – Câncer-Capricórnio lida ainda com propriedade e sociedade.

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A Grande Cruz Cardinal trata essencialmente de equilíbrio e gestão de conflitos e o mais interessante dessa história citada acima é que ela constela exatamente o quadrado exposto no céu: há lutas de poder e propriedade, equilíbrio de relações, direitos, tensão, potencial para violência (embora não ocorra), dúvidas sobre quem tem a razão, quem fala a verdade e quem está mentindo, etc. Além de haver quatro pessoas envolvidas. Poderíamos dizer que a mulher é Vênus e o homem é Júpiter (Vênus e Júpiter costumam se dar muito bem), já os dois caçadores seriam simbolizados por Urano e Plutão, os disruptivos que trazem mudança e dúvida. Vênus em Libra é muito diplomática e hábil em conduzir situações complicadas a um desfecho favorável – a mulher sugere que todos conversem tomando um café, estratégia brilhante considerando-se que normalmente tendemos a nos desarmar quando partilhamos alimento com os outros, até porque as mãos estão ocupadas.

Numa Grande Cruz é como se quatro inimigos fossem trancados dentro de um quarto sem saída, cada um fica num canto, defensivo, sem querer dar as costas aos outros. Cada um deles tem interesses diferentes e está disposto a morrer por esses interesses. Por outro lado, é possível que dois deles aliem-se contra os outros, por terem mais afinidade, como seria o caso de Vênus e Júpiter, chamados os Benéficos em Astrologia Tradicional. Cada um dos quatro poderia argumentar que seu ponto de vista é o mais válido, ou mais verdadeiro, ou melhor, mas a verdade é que estão todos atados entre si, sem saída. Cada vez que um precisa agir, sua ação implica o envolvimento dos outros três. A Grande Cruz traz essa sensação de se estar sem saída, de se sentir puxado em várias direções, sendo obrigado a agir, mesmo que com recursos parcos, porque não agir é ainda pior, pois então os acontecimentos se dão à nossa revelia. É algo do tipo “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”

Tratando de quatro figuras em conflito, com interesses diferentes, trago o autor Marshall Sahlins, que fala no livro Ilhas de História (1) que o mesmo evento é visto de forma diferente por indivíduos diferentes, porque estes são influenciados pela simbologia cultural em que estão inseridos, o que não quer dizer que o evento seja certo ou errado, mas apenas que estabelece um estado de quase-mentiras e/ou quase verdades. Ele diz: “Um evento não é só um acontecimento no mundo, é a relação entre um acontecimento e um dado sistema simbólico”. Em outro ponto ele fala também: “mal entendidos criativos nascem de diálogos inter-étnicos, propiciados exatamente pelas discordâncias de significação que os diferentes agentes, pautados por diferentes esquemas culturais, atribuem aos eventos. (…) Os diferentes sujeitos, parecem interagir sobre as bases dessas ‘quase-verdades’, fragmentos de entendimentos que circulam por entre os referenciais culturais e os interesses encampados por cada sujeito”. Isso é algo que temos que ter presente nesses dias tão tensos em que nos sentimos divididos até a medula, e encontramos a mesma tensão fora de nós, com cisões diversas espelhando a tensão sentida por cada um: em se tratando de relações humanas, não existem verdades absolutas, existem, possivelmente, “quase-verdades” e/ou “quase-mentiras”, as minhas e as suas. Existe o ponto de vista pessoal, colorido pelas vivências e experiências de cada indivíduo, assim como pelas influências culturais do mundo em que ele está inserido. E os “eventos” que ocorrem em nossa vida também estão sujeitos aos nossos filtros simbólicos.

Voltando à história dos quatro indivíduos na mata, a situação toda se altera quando a mulher oferece o café. Não está completamente resolvida, mas uma ação foi tomada e um elemento novo foi adicionado. Esse novo elemento causa um impacto no ambiente, mas esse impacto é sentido de forma diferente por cada indivíduo, e isso acaba alterando, por conseqüência, a experiência como um todo. Agora já não se sabe mais quem são os caçadores e quem são os “caçados” ou se sequer permanece ou existe tal ameaça. Então, apesar de parecer que estamos todos encalacrados e sem saída, não fazer nada não é uma opção. Porque se eu não ajo, outros agirão e eu sofrerei o impacto de suas ações. E mesmo que haja mal entendidos criativos, eles ocorreram porque houve interação, houve troca. E neste caso, assim como em Astrologia, interação, mesmo que tensa e difícil, ainda é melhor do que interação nenhuma.

Pois bem, Plutão, Urano, Júpiter e Vênus interagem de forma muito tensa nos céus do momento, obrigando-nos a olhar para nossas relações, para o ambiente imediato e para o nosso impacto no mundo, para como negociamos e equilibramos nossos desejos, atenções e afetos (Vênus), como cuidamos e protegemos o que nos é caro e à sociedade à nossa volta (Júpiter), como lidamos com o poder de transformar e renascer no meio da crise (Plutão), e se conseguimos de fato revolucionar nossa vida de forma positiva, trazendo as mudanças que precisam ser implementadas (Urano). Como gerenciamos nossas relações e nossa ação no mundo.

Mas há muito café para ser tomado e muita conversação para ser feita.

Desde que Júpiter entrou em Câncer em junho, criou o potencial para formação dessa Grande Cruz Cardinal, pois está desde então em formação de Cruz (forma de T ou de pirâmide) com Urano-Plutão. Então, toda vez que um planeta trafegar por Libra, outra Grande Cruz será formada. Portanto, essa é somente uma das primeiras. Esses temas estarão sendo cozinhados em fogo lento daqui até meados de junho do ano que vem, com episódios semelhantes principalmente em setembro, quando o Sol trafegar o início de Libra, em dezembro, abril e junho,quando Marte fizer o mesmo.  Temos tempo para ir nos trabalhando e estar preparados para adotar as medidas necessárias na hora que for preciso, porque quando o bicho chega, não dá pra deixar pra depois, tem que olhar pra ele na hora, senão ele te pega!

Nota: A Grande Cruz Cardinal de agosto fechada por Vênus fica ativa até dia 30/08, com a semana de 23 a 30 de agosto sendo a mais tensa; ela se forma novamente em 06/09, com a Lua em Libra; é ativada novamente de 14 a 19 de setembro por Mercúrio; de 01 a 05 de outubro é o Sol quem fecha o circuito; ela desfaz-se temporariamente e volta a se formar de 22/12 a 24/01/14, dessa vez com Marte em Libra, tendo Urano e Plutão já em movimento direto e Júpiter retrógrado; de 02/04 a 10/06/14 ela fica realmente difícil porque é fechada novamente por Marte, que está então retrógrado em Libra – super defensivo.

(1) Shalins, Marshall – Ilhas de História – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,1990

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Maria Eunice Sousa é astróloga de orientação psicológica, formada pelo Centro de Astrologia Psicológica de Londres, fundado e dirigido por Liz Greene. Mora em Cuiabá, onde atende com Astrologia, trabalhando também como tradutora e intérprete (Inglês-Português). Além de Mapa Natal e Revolução Solar, também atende com Astrocartografia e Espaço Local (formada pelo Kepler College), Mapa Infantil, Mapa de Relacionamento e Mapa Vocacional.

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