Netuno – A Subversão das Massas e a Dissolução da Passividade – "Vem pra Rua" Parte 2
“Vem pra Rua” – Parte 2
O segundo significador de peso para o atual momento de “levante” em que o povo sai às ruas para mostrar sua indignação diante de absurdos políticos que acontecem no país é Netuno trafegando o Ascendente da carta natal do Brasil, fazendo aspecto tenso com a Lua e Júpiter natais em Gêmeos, na casa 4.
O Brasil tem Ascendente (ASC) em Peixes. No mapa natal de uma pessoa, o Ascendente e a primeira casa representam a imagem desta pessoa, sua persona, a maneira como é vista por aqueles com quem convive e a forma como olha para a vida e para o mundo. Também trazem informações sobre sua aparência física, as condições de seu nascimento e ainda sobre a infância. O Ascendente, a primeira casa e seu regente, juntamente com o Sol e a Lua, são elementos decisivos para a interpretação do mapa. No mapa de um país, de uma empresa ou instituição esses elementos fornecem informações parecidas. É dito que o Ascendente representa mesmo a nação como um todo, seus mitos, as características nacionais, a maneira como este país se vê assim como a imagem que projeta para os outros povos. Em Mundane Astrology, Baigent, Campion e Harvey dizem que “em termos de evolução do Estado, poderíamos talvez tomar a primeira casa como representando a sociedade original que existia antes que o Estado fosse formado”.
O Brasil tem Peixes no Ascendente. Peixes é um signo de Água, de qualidade Mutável, o signo que finaliza o ciclo simbolizado pelo zodíaco. Rege os oceanos, as grandes águas, todos os tipos de peixes, assim como parasitas do reino animal e vegetal. No corpo rege os pés. Rege a imaginação, a música, a criatividade, o álcool, todos os tipos de líquidos, inclusive combustíveis, todos os tipos de drogas, legais ou ilegais, a falta de limites, o caos, o êxtase orgiástico e o êxtase religioso, o idealismo, as ilusões e desilusões – e por isso mesmo é o signo associado ao cinema, a indústria da ilusão e do glamour. Peixes é ainda o signo do místico, do religioso e da espiritualidade, o signo do Todo pois abarca o tudo da vida, não discrimina nem exclui. Assim, como aponta Vanessa Tuleski em seu artigo O Mapa Natal do Brasil, Peixes no Ascendente do mapa natal aponta imediatamente para a riqueza aquática do Brasil, com sua costa de mais de oito mil quilômetros de praias belíssimas e seus incontáveis rios e nascentes, incluindo o Amazonas, o maior rio do mundo. Da mesma forma, como ela e outros astrólogos já disseram antes de mim, Peixes na primeira casa relaciona-se com a imagem de “País do Carnaval”, uma festa da carne, da falta de limites, da licenciosidade, onde busca-se “esquecer” a realidade, nem que seja por quatro dias. Regente dos pés no corpo humano, Peixes ainda nos projeta como melhores do mundo no futebol, um esporte jogado com os… pés! Além disso, o Brasil é conhecido pela beleza e diversidade de sua música. E outra imagem muita associada ao Brasil é a de país religioso, em cujo território abundam religiões e credos os mais diversos.
O Ascendente em Peixes também nos fala que além de muito criativo, imaginativo, musical, otimista e amante do futebol, o brasileiro tende a se ver como um povo passivo, pacífico, ingênuo, com uma fé enorme no futuro, que tem dificuldade de se posicionar quando está insatisfeito. Esse ascendente fala ainda sobre nossa dificuldade com os limites, os nossos e os dos outros. Somos calorosos, amigáveis, festivos, solidários, compassivos… O problema é que às vezes somos tão festivos ou solidários que nos tornamos invasivos. Ou demoramos a perceber quando outros são invasivos conosco. O regente tradicional de Peixes é Júpiter, o planeta da boa sorte, da abundância e também do exagero e do excesso pois Júpiter não reconhece limites. No mapa, Júpiter está em Gêmeos, um signo de Ar, também mutável, um signo AMORAL, que também tem dificuldades com limites – já tentou guardar o ar num vasilhame fechado? A combinação Peixes-Júpiter-Gêmeos pode explicar em parte a cultura do “jeitinho brasileiro”, pois a linha entre o que é meu, o que é seu e o que é nosso fica borrada, e nesse caso, é fácil ultrapassamos os limites do certo e errado sem nos darmos conta. Ou, como Peixes também é o signo das ilusões, podemos simplesmente nos auto-enganar, ajudados pela ambigüidade e dubiedade de Gêmeos.
Pois bem. Netuno, o segundo regente de Peixes entrou neste signo em fevereiro de 2012. Netuno é o deus dos mares e dos oceanos, e seu poder é o poder da água. É um poder solvente. Netuno dissolve, lentamente, tudo aquilo que toca, assim como “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Pense no mar batendo contra os rochedos na praia. Podemos dizer que é uma luta inglória, mas ao longo de séculos o mar de fato muda a paisagem, por desgastar e erodir os rochedos. Ou então, pense num tsunami, quando a água se torna violenta e destrói tudo o que aparece pela frente… Poseidon, o correspondente grego de Netuno, era o deus dos terremotos e tsunamis. Era um deus colérico, que quando se enfurecia ninguém estava a salvo. Além disso, Netuno tem ação subversiva, na maior parte das vezes ele não é nem frontal nem direto. Ele vai pelas beiradas, sorrateiramente.
Então, neste momento Netuno trafega o Ascendente e a casa 1do Brasil, fazendo uma quadratura (ângulo de 90°, tenso) com a Lua e Júpiter natais em Gêmeos, na casa 4, a casa que representa a fundação e a origem da nação, assim como suas tradições, as ideologias de massa, o nacionalismo, a oposição ao governo. Ao ativar pontos tão vitais no mapa do Brasil, Netuno nos diz que é chegada a hora de dissolver tudo o que não está funcionando nesta nossa pátria.
Ao fazer aspecto com a Lua, Netuno subverte as massas, que finalmente percebem que é hora de dar um basta. O aumento das tarifas do transporte Brasil afora foi apenas a gota d água num copo que já estava pra lá de cheio. Daí, ao tocar Lua, Júpiter e o Ascendente, Netuno dissolve a imagem ingênua e passiva que temos de nós como povo, nossa percepção começa finalmente a mudar, e a mudança começa pelos lugares certos, pelas origens. Nossa fé é desafiada e somos levados a ser mais ativos e participativos, ao invés de ficar esperando que Deus (Júpiter) tome conta de tudo por nós. Já não cabe mais o refrão do vitimado : “é a vontade de Deus”. Já não cabe mais a fé ingênua e cega, de que tudo se resolverá no futuro. Já não cabe mais o ôba-ôba do bobo alegre que esquece de tudo com cerveja, futebol e carnaval. Aliás é sintomático também que nos país do futebol, a crise tenha tudo a ver com a Copa do Mundo. O ópio do brasileiro já não surte o mesmo efeito, o organismo adquiriu resistência.
Portanto, as águas grandes de Netuno vêm lavar e purificar essa imagem que foi ficando rançosa ao longo do tempo. Vem dissolver a imagem da passividade, da impotência, e do povo vitimado pela desonestidade do poder público. Vem nos obrigar a olhar para as ilusões que temos sobre nosso “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”. Vem nos obrigar a olhar pra as ilusões que temos sobre nós mesmos como povo. A ressaca é grande – lembram, Netuno-Peixes regem o escapismo do álcool? – Ficamos tempo demais adormecidos, embriagados, passivos. Agora percebemos os estragos propiciados pelos excessos e desmandos. E embora esse levante pareça desorganizado e caótico, às vezes disperso e anárquico e tomando direções diferentes, isso também faz parte do processo. Sendo Netuno o planeta do caos, é difícil fazer as coisas de forma ordenada. O maior problema com Netuno é que ele é muito lento e demoramos para ver as mudanças efetivas enquanto elas estão acontecendo. Nossa visão fica meio embotada e tudo fica muito confuso. Tempos depois, quando olhamos para trás é que nos damos conta da força da mudança, de como ela aconteceu e de como aquele momento foi crucial para o nosso desenvolvimento e evolução.
No caso do Brasil, esse processo só está iniciando. Netuno fica 14 anos em cada signo e durante todo esse tempo, ele estará muito ativo no mapa natal do Brasil. Primeiro, ele estará trafegando a casa 1, que como dissemos é nossa imagem, além disso, ele está oposto ao Ascendente progredido, que está em Virgem, trazendo ênfase extra à dissolução da identidade; também desestabiliza Lua e Júpiter; depois, a partir de 2015 ele começa a se opor (ângulo de 180°) ao Sol do Brasil em Virgem, o signo da ordem e da integridade – aí sim, acordaremos para a necessidade de integridade e potencial intrínseco que o país tem para ser honesto e ético; e para finalizar, opõe-se também a Mercúrio natal.
Os próximos 10 anos serão de muitas e profundas transformações, muitas delas imperceptíveis e não necessariamente no ritmo que desejamos. Portanto, não se iluda, o processo só está começando. Vai levar muito tempo até que Netuno conclua seu trabalho e dilua tudo o que precisa diluir.
OBS: Muitos astrólogos usam o mapa natal do Brasil desenhado para o horário de 16 horas do dia 7 de setembro de 1822, o que coloca Aquário no Ascendente. Porém há controvérsias quanto ao horário, dizendo-se que o Brado do Ipiranga teria ocorrido entre 16 e 17 horas (na verdade há controvérsias quanto a muitos aspectos deste evento). Para mim, o ascendente do Brasil em Aquário não tem nada a ver, e o ascendente em Peixes faz muito mais sentido. Assim, há alguns astrólogos que trabalham com o horário de 16:58, que coloca o Ascendente a 1°57’ de Peixes e a primeira astróloga que vi usar este mapa foi Vanessa Tuleski, de cujo artigo retirei os dados para levantamento do mapa que é utilizado aqui. É com este mapa que eu trabalho.
Fontes pesquisadas:
Michael Baigent, Nicholas Campion and Charles Harvey – Mundane Astrology, 1984
Robert Hand – Planets in Transits
Vanessa Tuleski – O Mapa Natal do Brasil