Lua Nova em Câncer – Meu Vale de Lágrimas Pessoal
A Lua é Nova em Câncer e eu estou me afogando num vale de lágrimas.
Depois de uma semana preparando uma palestra sobre Câncer, e de ficar dois dias totalmente imersa em seus arquétipos, achando que não era o bastante, fui ao Círculo de Mulheres no domingo, onde, depois de uma vivência relativa aos mistérios femininos, perdi algo precioso para mim, de alto valor financeiro, mas principalmente, de grande valor (e apego) sentimental. Quanta ingenuidade a minha achar que ficaria impune depois de revirar por tantos dias uma energia tão densa e tão profunda quanto a de Câncer!…
Fiquei extremamente irritada com a perda, não dormi à noite e acordei pior ainda. Minha raiva aumentou e com ela uma sensação ruim de perda de algo irreparável. Comecei a chorar do nada e o pranto tornou-se convulsivo, antigo, ancestral, dolorido… De repente eu já não sabia mais porque chorava. Era aquela situação de quando algo aparentemente pequeno desencadeia um processo e você se vê chorando não pelos óculos que perdeu mas por algumas outras perdas muito mais profundas e antigas e que você achava que já estavam curadas. Ou você começa a chorar porque brigou com o namorado e quando percebe está na verdade soluçando pela boneca que perdeu quando era criança. Mais difícil ainda, talvez você chore por perdas que nem são suas, mas que você herdou da sua mãe, da sua avó, da sua bisavó e de toda uma linhagem de mulheres que talvez não tenham tido voz nem oportunidade de se pronunciar sobre o que sentiam, sobre o que queriam e sobre o que lhes doía na alma.
Em Câncer tudo é denso, carregado, embebido de sentimento, de impressões indeléveis, pois a água que lava e purifica guarda a memória de tudo aquilo que toca. Neste momento estou completamente imersa nestas águas difíceis, muito difíceis de navegar. As águas são turvas como líquido amniótico, doadoras de vida e ao mesmo tempo “afogadoras”. Há um redemoinho de sentimentos aos quais não consigo dar nome (Mercúrio, aquele que dá nome às coisas está afogado neste momento, retrógrado em Câncer). Só consigo sentir, sentir, sentir. E o sentir é esmagador, opressivo e prevalece sobre qualquer rastro de racionalidade a que eu tente me agarrar.
Quantas mulheres em minha linhagem sofreram caladas a dor doce-amarga da maternidade; a repressão de seus sentimentos e de seus desejos, considerados impuros ou, na melhor das hipóteses, insignificantes; a dor de ser mulher; a dor de ser? Sentindo essa dor tão crua e lancinante eu me uno a essas mulheres que vieram antes de mim, anônimas, corajosas e inestimáveis. Ao ativar a energia de Câncer, uma energia supremamente feminina, eu ativei o passado doloroso de todas as mulheres que vieram antes de mim e sinto como minha, a dor que foi delas.
Suponho que eu precise de fato me afogar nesta Lua Nova. E mergulhar nas águas turvas de Câncer com seus sentimentos tão abissais e abismais.
Então, Câncer é somente dor? Com certeza não, mas neste momento é como se apresenta para mim. E tudo o que posso fazer é permitir que aflore. Talvez através de mim todas essas mulheres choram hoje, e tudo o que posso fazer é honrá-as com minhas lágrimas.
Texto, belo,profundo, poético. Um verdadeiro parto canceriano!
Abençoadas somos por poder acolher e dar vazão à dor dessas corajosas mulheres que nos precederam. Fazemos nossa parte e as honramos com amor, pois com certeza, pra nós é mais leve. Adorei seu texto-desabafo. E muito me identifico nele. Lindo! Parabéns!
Gratidão profunda Lucía!
Nem sempre sabemos porque as coisas acontecem como acontecem.
É preciso aceitação sempre daquilo que não entendemos também.
Toda essa água cheia de memória ativada e ficamos assim…
Vamos seguindo…
Ludmila, muito grata querida.
Não sei se é poético, dolorido, sim.
Mas isso também é vida, e não pdemos fugir a ela.
Gratidão!