Lua Cheia em Aquário – Não fuja de quem você é!
Temos hoje a segunda Lua Cheia em Aquário do ano (20 de agosto, 22:44, hora de Brasília) – a primeira foi dia 22 de julho, seguida da Lua Nova em Leão dia 6. E quando algo se repete assim acredito que é porque sua mensagem precisa ser enfatizada.
O ciclo lunar conta a estória do relacionamento do Sol e da Lua, e por mais contraditório que pareça quando olhamos a Lua mudando noite após noite no céu, a Lua por si mesma não muda, o que muda é sua relação com o Sol. O ciclo lunar fala essencialmente de relacionamentos. O relacionamento nasce na Lua Nova, e como esta Lua é escura, não se sabe direito como ele vai se desenvolver. No primeiro quarto ele encontra sua primeira crise e continua a expandir-se a partir daí. Com a Lua cheia chega o ponto de crise mais alto, simbolizando ou “culminação do relacionamento ou a impossibilidade de prosseguir com essa relação” (Dane Rudhyar). Na primeira hipótese a relação dá frutos e a imagem da Lua Cheia é a imagem concreta desses frutos. O significado simbólico dessa Lua Cheia e dessa relação são liberados depois quando a Lua vai se esvaziando em direção ao quarto minguante. Essa fase é chamada disseminação.
Então a relação iniciada em seis de Agosto com a Lua Nova em Leão culmina agora com a Lua Cheia em Aquário. O tom da última Lua Nova apontava para o estabelecimento de uma relação mais verdadeira conosco mesmos, assumindo a originalidade e singularidade do nosso ser. A Lua Cheia de Aquário vem confrontar nossas resoluções e temos a oportunidade de verificar se elas resistem ao escrutínio do olhar do grupo (Aquário). Porque é muito fácil resolver ser mais verdadeiro consigo mesmo no silêncio escuro do próprio quarto, mas nem sempre essa determinação é firme o bastante quando nos juntamos ao grupo.
Clarissa Pinkola Estés, terapeuta junguiana, diz em seu livro Mulheres que Correm com os Lobos: “Ser nós mesmos faz com que nos isolemos de muitos outros, no entanto, ceder aos desejos dos outros faz com que nos isolemos de nós mesmos”. Então, não podemos ceder sempre ou nos sentimos miseráveis por dentro, sangue de barata mesmo, geralmente porque quando cedemos é porque precisamos da aprovação e apoio do grupo e temos receio de destoar da “manada”. Mas também não podemos nos enrijecer querendo que tudo seja do nosso jeito ou nos isolamos excessivamente. É uma arte muito delicada e sutil, a arte do equilíbrio. E é disso que Luas Cheias falam, da arte de equilibrar opostos, sem favorecer em demasia nem a um lado nem a outro.
Essa Lua Cheia especificamente ocorre no contexto de uma configuração muita tensa que começa a se formar entre os onipresentes Urano e Plutão, mais Júpiter em Câncer e Vênus em Libra. O planeta mais pressionado é Vênus em Libra, que normalmente busca harmonia, paz e equilíbrio, evitando a confrontação e a escolha. Vênus desta vez tem que escolher. Nós temos que escolher. Estamos divididos entre nossa própria independência individual (Urano em Áries), a proteção e segurança do grupo familiar (Júpiter em Câncer), a ameaça ao nosso poder pessoal e status quo (Plutão em Capricórnio), e a angústia de não saber para que lado ir, somada à necessidade de conciliar e agradar (Vênus em Libra). Realmente, precisamos escolher, dizer sim para umas coisas e não para outras. Ponderar quando é hora de bater o pé e insistir na lealdade a si mesmo (Leão) e quando é preciso ceder à vontade do grupo e da maioria (Aquário).
Mas a primeira e fundamental escolha tem que ser por nós mesmos. Se eu não for por mim, quem será? Precisamos dizer “sim” primeiro a nós, a quem somos, com nossas contradições e idiossincrasias, pois somente quando somos leais a nós mesmos conseguirmos oferecer lealdade verdadeira ao outro. Nas Crônicas de Nárnia, o poderoso Leão Aslam diz para Lúcia, que queria ser como sua irmã: “Não fuja de quem você é!”* Isso sintetiza o tom dessa Lua Cheia de hoje. Não se traia! Não tente ser outra pessoa, até porque, como dizia Oscar Wilde, “seja você mesmo, todas as outras personalidades já têm dono”.
Não fuja de quem você é!
* Interessante notar: C. S. Lewis baseou As Crônicas de Nárnia na mitologia, cosmologia, teologia cristã, entre outras fontes. Foi descoberto há poucos anos por um pesquisador britânico que a influência astrológica também está presente e cada livro da série tem seu tema ligado a um dos sete planetas conhecidos no mundo antigo. O livro “A Viagem do Peregrino da Alvorada” refere-se ao Sol. Completamente pertinente a Rede Globo colocar na Tela Quente de ontem o filme “A viagem do peregrino da alvorada”, não que tenha sido de propósito, mas simplesmente uma questão de sincronicidade.