Lua Cheia em Peixes – Você é Marta ou Maria?
Na Lua Cheia de hoje (19 de setembro de 2013, 8:12, horário de rasília), o Sol a 26°40’ de Virgem e a Lua a 26°40’ de Peixes não fazem aspectos maiores com nenhum outro planeta, estão hipnotizados um pelo outro, como numa dança a dois,olho no olho, o que enfatiza sobremaneira a expressão das características de cada signo. A imagem que me vem à mente é a história de Marta e Maria, contada no Evangelho de Lucas, 10, 38-42, que transcrevo aqui na íntegra, da Bíblia do Peregrino:
Prosseguindo viagem, Jesus entrou numa aldeia. Uma mulher chamada Marta o recebeu em sua casa. Tinha uma irmã chamada Maria que, sentada aos pés do Senhor, escutava suas palavras, enquanto Marta se agitava em múltiplos serviços. Até que parou e disse:
–Mestre, não te importas que minha irmã me deixe sozinha nos trabalhos? Dize-lhe que me ajude.
O Senhor replicou:
– Marta, Marta, tu te preocupas e te inquietas com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolhe a melhor parte, que não lhe será tirada.
Sempre que penso na polaridade Virgem-Peixes ou Casas 6-12, me reporto ao episódio de Marta e Maria, porque para mim ilustra de forma límpida e simples o dilema profano-sagrado, mundano-espiritual, efêmero-eterno. Um dilema permanente e diário, para quem tem esses dois signos ou casas enfatizados no mapa natal – eu tenho Nodo Lunar Norte na casa 12 e o Sul na casa 6 e esse conflito é uma constante para mim.
Marta incorpora claramente os atributos da eficiência e preocupação doméstica e cotidiana de Virgem. Em Virgem nos debruçamos sobre as tarefas diárias e necessárias à sobrevivência e funcionamento no mundo: cuidados com o corpo, alimentação, asseio, ordem, detalhes, eficiência, função e utilidade das coisas, etc. Maria, por outro lado, personifica as qualidades Piscianas: a dimensão numinosa, mais espiritual e transcendental da vida, a compaixão, a sensibilidade, o anseio pelo divino, a busca pelo eterno e a saudade da Totalidade, a saudade de Deus, da fonte universal de vida. Ao ver Jesus chegando, Marta imediatamente toma providências práticas para acolhê-lo e às pessoas que o seguem, limpando, arrumando, providenciando comida e acomodação, sendo uma boa anfitriã e cuidando eficientemente para que tudo esteja perfeito, Maria, ao contrário, senta-se aos pés do Mestre para ouvir-lhe os ensinamentos, sem preocupar-se por um segundo com qualquer medida prática necessária que aquela visita inesperada implica.
Assim como Marta, às vezes nos perdemos tanto no frenesi dos afazeres domésticos, dos rituais diários, dos detalhes funcionais daquilo que precisamos fazer, na loucura das contas para pagar, das listas efetivamente cumpridas de cabo a rabo… Que acabamos perdendo o mais importante, esquecendo o essencial, a dimensão maior dessa vida que não acaba aqui. É como quando damos uma festa e ficamos tão ocupados com a eficiência do serviço, que nem usufruímos da companhia de nossos convidados, nem mesmo nos damos conta do sabor dos quitutes pelos quais pagamos tão caro.
Obviamente, a dimensão prática é necessária para que funcionemos e existamos no mundo. O problema, como já sabemos, é o exagero, o desequilíbrio. Ou pior ainda, quando percebemos que na verdade estamos usando esses pequenos afazeres para fugir e evitar a dimensão espiritual, para evitar chegar ao centro, ao encontro interior, e à dimensão mais profunda e sagrada da vida. Em nome de manter a casa limpa, por exemplo, dizemos a nós mesmo: “amanhã eu medito/leio aquele livro/brinco com meus filhos/vou ao templo/encontro meu amigo/sento para almoçar com calma…” Nomeie você mesmo o que quer que faça você se perder do seu centro. Ao nos ocuparmos tão freneticamente com tantos detalhes práticos do aqui e agora, estamos na verdade fugindo vergonhosamente da sacralidade do momento presente e da possibilidade de fazer tudo com inteireza, colocando corpo e alma na vivência. Joseph Campbell diz: “A eternidade não tem nada a ver com o futuro … Se você não a obtiver aqui, você não conseguirá obtê-la em nenhum outro lugar. A experiência da eternidade aqui e agora é a função da vida. O céu não é o lugar para ter a experiência, aqui é o lugar para ter a experiência.”
Virgem-Peixes convida-nos a integrar sagrado e profano, eterno e efêmero, mundano e espiritual. Assim, longe de nos esquivarmos das tarefas diárias e necessárias, a Lua Cheia em Peixes nos convida a dar mais atenção à dimensão espiritual do nosso cotidiano, a perceber beleza e sacralidade nos rituais diários, mesmo na faxina que precisa ser feita. Porém, essa mesma Lua Cheia insta-nos a ficar atentos para o desequilíbrio, para o uso do mundano como fuga do espiritual. E nós sabemos exatamente quando estamos fazendo isso – como na situação clássica do estudante que diz para si mesmo que passará o dia estudando, mas ao acordar resolve que estudará melhor se o quarto estiver limpo e organizado, depois pára para comer, depois para lavar os pratos, depois para… Quando vê, o dia passou e ele não estudou, tão envolvido ficou com os detalhes menores.
Então, sempre que nos percebermos no que eu chamo de “síndrome de Marta”, lembremos as palavras do Mestre:– Marta, Marta, tu te preocupas e te inquietas com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolhe a melhor parte, que não lhe será tirada!
Fiquemos com a melhor parte, aquela que não nos será tirada! Aqui e agora é o lugar e o tempo certo para se ter a experiência da sacralidade, da inteireza e da Totalidade.
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