Lua Cheia em Escorpião: O que, na sua vida, está com o prazo de validade vencido?

by coee

“O tempo que antecipa o fim também desata os nós”

A Lua é Cheia em Escorpião nesta quarta, 14 de maio, às 16h16min (Brasília). Uma Lua Cheia que vem coroar e simbolizar a culminação de um período longo de tensão e ebulição, propiciadas pelas movimentações da Grande Cruz Cardinal. Uma liberação catártica que nos permite pôr pra fora o que estava entalado, engasgado e agora finalmente podemos cuspir e vomitar.

A Lua Cheia ocorre a 23°54 de Escorpião, conjunta a Saturno, o Senhor do Carma e do Tempo. Como a Lua Cheia é a oposição da Lua e do Sol, o Sol está a 23°54 de Touro. É importante lembrarmos aqui o simbolismo do signo de Touro. “Touro nasce para ser a “rocha”, o tronco  prático, robusto e constante no qual outros podem confiar. Seu trabalho é construir, preservar e manter; demonstrar fidelidade e permanecer no longo curso. Sendo uma figura de princípios, deve aprender a desenvolver determinação, obstinação e a agarrar-se ao que ele acredita. Um apreciador e um sensualista, ele aproveita bem dos prazeres da vida. Constrói fundações desenhadas para durar e acumula algo de valor material que resistirá a qualquer tempestade” (1). Nasce para lançar raízes, ter sustentação e acumular substância. Esta é a essência básica do Touro. De natureza simples, tende a ver tudo como literal, e aí está um dos primeiros problemas. Em sua pior expressão, “há um apego avarento àquilo que não é seu e uma obsessão fanática com situações emocionais e sexuais, particularmente com pessoas que ele não consegue controlar. Reconhecendo seu poder inato e a dependência de outros em relação a ele, tira vantagens ao manter os outros reféns de sua dependência. Glutão, ganancioso, um monumento à auto-indulgência e um escravo dos sentidos, Touro pode chafurdar na preguiça ou permanecer em condições ultrapassadas e detrimentais” (1).

sensualista

Escorpião é a polaridade oposta de Touro, o complementar, e como tal vem lembrar a Touro que nada dura para sempre, não importa quanto você tente se apegar e quão sólidas sejam as fundações. Com sua crua consciência da morte, sabe e aceita que a vida é cíclica e espiralada: a vida nasce, cresce, reproduz-se e morre – ou se transforma. Transformação é palavra chave aqui e um dos símbolos mais impressionantes do Escorpião é a serpente que periodicamente troca a pele velha e desgastada por outra nova que acomode sua nova força e tamanho. Outro símbolo poderoso é a Fênix, que ao intuir o fim da vida, entra em autocombustão e renasce das próprias cinzas para uma vida nova. Escorpião vem ensinar a Touro a ir além da mera segurança material, mostrando que sempre há mais para ser vivido e experimentado e que a “estabilidade” freqüentemente atrapalha o crescimento e o alcance da próxima etapa de desenvolvimento. Escorpião destrói algo de propósito quando percebe que aquilo está atrapalhando seu crescimento, sejam bens materiais, relacionamentos, empregos, etc. Escorpião desafia a simplicidade de Touro afirmando que a vida é bem mais complexa, ensinando-o a viver a vida de forma mais intensa, profunda e apaixonada. Vem lembrar ainda que por mais que se precise ou se ame algo/alguém, por mais que algo/alguém seja importante, é preciso combater a dependência e desenvolver autocontrole.

prazo troca de pele

Nesta Lua Cheia o Sol em Touro simboliza nossos apegos e possessividade, especialmente o apego a situações e condições ultrapassadas que dão um falso senso de estabilidade e segurança. Simboliza também nosso equívoco em derivar mérito e valor unicamente de nossas posses materiais – apegado demais ao literal e ao palpável, Touro freqüentemente esquece que o valor maior é invisível e intangível, que sua mais importante construção é ele mesmo e não a conta bancária, a carreira de sucesso, as posses materiais. E o Sol em Touro representa ainda nossa possessividade em relação a pessoas que tentamos transformar em nossa propriedade, como se existissem para nosso exclusivo deleite.prazo de validade amor

A Lua Cheia em Escorpião vem propor a destruição de todos estes apegos, tema que está duplamente enfatizado pela conjunção com Saturno.  Lua-Saturno vêm confrontar nosso lado Taurino, desafiando-nos a ir para o próximo nível de desenvolvimento, a ousar destruir os andaimes que impedem que vejamos a construção pronta em sua inteireza; a identificarmos tudo o que está vencido nas prateleiras da alma e do coração, assim como nas prateleiras de armários e guarda-roupas. Por que insistimos tanto em nos apegar a algo que está claramente morto, inválido, ultrapassado, inútil? Porque nos dá uma sensação de segurança? Mas que maluquice a nossa, buscar segurança em algo que não funciona mais! No mínimo, insano! prazo-vencido-525x393

Quando olhamos o mapa como um todo, a liberação do velho e ultrapassado está mais que favorecida. A Lua Cheia é regida duplamente por Marte e Plutão. De Plutão nem precisa dizer muito: o Senhor da Morte, dos Fins e da Destruição, em Capricórnio ele vem destruindo todas as estruturas obsoletas de poder que tenham bases frouxas ou desonestas. Agora, Marte é mais próximo de nós e de nossa consciência individual. Marte está no fim do ciclo de retrogradação em Libra, e como parte da Grande Cruz Cardinal, o regente da Lua Cheia de Escorpião é na verdade o grande mandante da limpeza e faxina geral simbolizada por essa Lua que toma lugar na psique. Com Marte retrógrado muitas coisas inacabadas ou mal resolvidas no passado vieram à tona nos últimos dois meses, exigindo resolução e cauterização definitiva. Como parte da Grande Cruz, mesmo debilitado, ele veio sinalizar o ponto de ebulição a que precisávamos chegar para nos dar conta de qualquer pasmaceira instalada em nossa vida, de quanto nossa “vontade” imperiosa e egoísta às vezes nos leva para o buraco. Aliás, o fato de estar debilitado tem um simbolismo profundo e potente, o de que a vontade individual neste momento precisa se submeter à Vida e simplesmente aceitar o que quer que precise ser transformado interna ou externamente. Se a vontade individual (Marte) não se submeter à Vontade Maior (Júpiter-Urano-Plutão), corremos mesmo o risco de extinção da espécie.

Lua Cheia em Escorpião 2014Se olharmos ainda mais longe, a regente de Marte, Vênus, está em Áries, em recepção mútua com ele. Em Áries Vênus já é bastante desapegada e livre, como se não bastasse, está conjunta a Urano, o Senhor do Desapego por excelência e ativando a Grande Cruz e seus temas. Vênus-Urano são mandatórios: “Libere! Liberte-se! Solte! Nada é realmente seu para possuir! Só fica o essencial, o que realmente vale a pena”. Se algo precisa ser acorrentaod ou atado a nós para permanecer, é porque não é realmente nosso; o que é para ficar, fica espontaneamente. E o pior é que quando precisamos “segurar” algo ou alguém conosco, não percebemos o desgaste imenso de energia que isso causa e que no fim, quem está preso, na verdade, somos nós. Por isso que quando soltamos e liberamos o outro ou o que quer que seja, na verdade liberamos a nós mesmos. Mas o que é o apego? O apego vem da insegurança, da falta de confiança na Vida, da incerteza de se há o bastante para todos, se acharei algo melhor ali à frente. Em última instância, Apego é achar que a vida é mesquinha e limitada aos nossos próprios parâmetros e visão estreita, que o conhecido é tudo o que há para ver, viver e sentir.

JFantasyFirePhoenixunto com Saturno, a Lua forma ainda um Grande Trígono em Água, com Júpiter em Câncer e Quíron em Peixes. Júpiter é um velho inimigo de Saturno e Quíron, porque representam a antítese dele mesmo: limites, falhas, erros, feridas, sombra, pessimismo… Os três juntos em harmonia num Grande Trígono simbolizam que é necessário aceitar a vida em sua grandeza, em seus ciclos de expansão e generosidade, assim como em suas dificuldades, limites e ciclos de morte e debilidade. Lutar contra isso é insanidade. Aceitar torna-nos mais sábios e serenos.

Concluindo, esta é uma Lua Cheia que favorece a liberação e finalização de tudo aquilo cuja validade venceu em nossa vida: apegos, atitudes, hábitos, crenças, modos de ver e viver a vida, formas de existência ultrapassadas, relacionamentos, empregos, imagens e escolhas antigas que não representam mais quem somos ou quem nos tornamos nesta nova fase, nem satisfazem à fome de nossa alma. Se tivermos sorte e estivermos atentos essa liberação é voluntária, e podemos aproveitar estas energias para fazer uma limpeza geral na alma e na vida, uma faxina e expurgo de tudo que morreu, que passou, que já deu o que tinha que dar. Mas se não estivermos plenamente cientes do que precisamos deixar ir e continuamos apegados ao caquético e obsoleto, então o arranque pode ser doloroso, porque a Grande Vassoura Cósmica de Escorpião não perdoa e varrerá para o lixo tudo o que estiver atrapalhando nos tornarmos pessoas melhores e mais inteiras. E o sentimento de perda poderá tornar-se paralisante, atrapalhando uma nova fase que teria tudo para ser promissora, rica e vicejante. Lembro aqui o belíssimo poema de Rumi “As uvas do meu corpo” (2), em que ele usa a feitura do vinho como metáfora das transformações dolorosas e necessárias pelas quais passamos na vida, muitas vezes reclamando, por acreditar que o esmagamento das uvas é o fim absoluto. Mas Rumi lembra que o Vinhateiro tem um Plano e sabe o que faz, e que, para que sejamos vinho, é preciso permitir o esmagamento das uvas que soGrapes_02_pushkin - Cópia (2)mos nós, submetermo-nos à Vontade do Vinhateiro, à vontade da Vida. (veja poema completo na imagem ou abaixo, ao fim do texto)

Como meras uvas estamos fadados a murchar ou, se na melhor das hipóteses, servir de alimento. Mas se nos tornamos vinho, avançamos para um novo nível de existência, uma existência mais elaborada, sofisticada e prolongada. Então, ao invés de se apegar e chorar por uma forma velha de vida, melhor olhar adiante e se animar com a perspectivas de se tornar um vinho novo, rico, perfumado e luxuriante, permitindo que o Vinhateiro nos destrua com seus pés implacáveis, porém sábios. Qual serpente escorpiônica, permitamos pois que nossa pele seja trocada por uma nova que acomode melhor nossa essência ilimitada; qual Fênix mitológica, permitamo-nos entrar em combustão para renascer das cinzas. E, se estivermos ansiosos demais com a perspectiva do fim e da liberação do que quer que seja, lembremos a música de Ney Mato Grosso: “O tempo que antecipa o fim também desata os nós” (3). Permitamos, pois, que os grandes “nós” da nossa vida sejam desatados e liberados, para que libertos possamos fazer novos laços ou simplesmente balançar livres por aí, até nos emaranharmos de novo, em outros ciclos, outras fases, outros erros – porque se for para errar, pelo menos que sejam erros novos! – porém com menos bagagem, mais maduros e serenos.

Desate os nós! Solte! Libere!

LIBERTE-SE!

deixar ir

 

As uvas do meu corpo

As uvas do meu corpo só podem se tornar vinho
Depois que o vinhateiro me pisoteia.
Eu entrego o meu espírito como uvas ao seu esmagamento
Então meu mais íntimo coração pode abrir-se e dançar com alegria.
Embora as uvas continuem chorando sangue e soluçando
“Eu não posso mais suportar a angústia,
nenhuma crueldade a mais”,
O pisoteador entope de algodão os seus ouvidos: 
“Eu não estou trabalhando na ignorância
Você pode negar-me se você quiser, você tem todos os motivos,
mas eu é que sou o Mestre desta Obra.
E quando, através da minha paixão, você alcançar a perfeição,
Você não terá ficado pronto exaltando o meu nome”

Rumi

(1) – CLIFFORD, Frank – How to Get to the Heart of your Chart

(2) Jalal Ad-Din Muhammad RUMI – Poeta e Místico Persa (1207-1273)

(3) NOVAMENTE – Canção de Ney Mato Grosso, composição de Fred Martins e Alexandre Lemos

 

mariaeunicesousa

Maria Eunice Sousa é astróloga de orientação psicológica, formada pelo Centro de Astrologia Psicológica de Londres, fundado e dirigido por Liz Greene. Mora em Cuiabá, onde atende com Astrologia, trabalhando também como tradutora e intérprete (Inglês-Português). Além de Mapa Natal e Revolução Solar, também atende com Astrocartografia e Espaço Local (formada pelo Kepler College), Mapa Infantil, Mapa de Relacionamento e Mapa Vocacional.

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