Lua Nova em Câncer – Inúteis mas Fundamentais
Uma Lua Nova é sempre um grande presente que nos é dado a cada 29 dias. Uma oportunidade de rever metas, intenções, de recomeçar um projeto esquecido, mas principalmente, de começar algo completamente novo e diferente. Um ciclo termina e outro começa, na espiral eterna da vida. Deixamos o que morreu no ciclo anterior ser enterrado e cuidamos do que está vivo e vicejante. Ou reciclamos. Se o que morreu ainda tem algum valor, renascerá, numa nova forma, de um novo jeito, numa nova vida – mas já não será mais o mesmo, pois terá sido completamente transformado!
A Lua Nova de Câncer de hoje (27 de junho, 05h08min, hora de Brasília) vem trazer este presente mensal, que não pode ser desperdiçado. É momento de renovar e criar novas intenções na área dos nossos relacionamentos mais íntimos, principalmente os familiares; é tempo de perceber com mais cuidado como nutrimos nossas relações, como cuidamos e como somos cuidados; como lidamos com nossas dependências e carências emocionais; diferenciar entre o que é admitir precisar do outro verdadeiramente e o que é carência infantilóide e incapacidade de andar com as próprias pernas.
A Lua Nova faz apenas dois aspectos maiores. Primeiro, um trígono próximo a Netuno em Peixes, sugerindo que coloquemos em nossas intenções o exercício, nem sempre fácil, da compaixão pelo outro e por nós mesmos; que incluamos em nossas preces aqueles não necessariamente próximos, mas que talvez precisem mais delas do que outros mais abastados de nosso afeto e intimidade; que exerçamos nossa sensibilidade para melhorar o mundo dentro de casa e também fora dela; que sejamos mais gentis com aqueles que amamos, cujo afeto esfria um pouco na dureza do dia a dia; mas que sejamos mais gentis também com o estranho na rua, afinal, somos todos habitantes da Mãe Terra e temos mais em comum do que somente pertencer à mesma espécie.
O segundo aspecto maior que Sol e Lua fazem é a oposição a Plutão em Capricórnio, e apesar de mais amplo, esse aspecto exige muito de nós porque é a sombra dos nossos demônios, pessoais e familiares, olhando direto para nós. Não é possível desviar o olhar, pelo contrário, temos que ter a coragem e a ombridade de sustentá-lo. Plutão nos obriga a definir se nossos afetos são verdadeiros ou se são apenas dependências mascaradas; se amamos de fato ou se usamos o outro para nos esconder da solidão da separação da Mãe.
Mais ainda: Plutão viajando por Capricórnio simboliza a morte de estruturas velhas, na vida pessoal e também de forma mais ampla, nas sociedades. Mas representa também a morte de muitos valores tradicionais e talvez a morte de muitos de nossos velhos e este é um dos pontos mais importantes no plano pessoal. Plutão em Capricórnio vem nos obrigar a olhar com honestidade como temos tratado nossos velhos, nossas tradições, especialmente a figura do Pai. Com Júpiter trafegando Câncer desde junho de 2013, o questionamento foi estendido para o cuidado que temos tido com a família em geral, mas especialmente com nossa ancestralidade, com aqueles que vieram antes de nós e que permitiram que chegássemos até aqui. Que lugar nossos pais, avós e bisavós têm em nossas vidas? São mananciais de sabedoria? São nossa origem por isso merecem respeito e cuidado? Ou são estorvos dos quais não vemos a hora de nos livrar? O que fazer com eles, estes inúteis? Sim, os velhos muitas vezes são inúteis, não servem para nada! São dependentes da mesma forma como nós o fomos quando bebês, mas insistimos em esquecer disso. E nesta Lua Nova, Lua e Sol se emaranham de forma inequívoca com a representação do velho: Plutão em Capricórnio – o signo do velho – e Netuno em Peixes – o signo do fim e da volta para a Casa do Pai, ou para o útero da Grande Mãe.
E por falar em dependência, inutilidade e obsolescência, eu me lembro de uma palestra do Padre Fábio de Mello, de quem, diga-se de passagem, não sou particularmente fã, sobre isso. De como os velhos têm o direito de ser obsoletos e de que só descobrimos o real significado e valor de uma pessoa em nossa vida quando ela é completamente inútil, porque então descobrimos que a amamos realmente, não pelo que ela pode fazer por nós, não porque “sirva” para isto ou aquilo, mas simplesmente por ela ser quem é e vemos que de fato a amamos profundamente e não imaginamos a vida sem ela. Veja o vídeo da palestra aqui – só cinco minutos!
Plutão em vem nos lembrar que a vida é finita, vem nos obrigar a olhar para a morte, seja num plano simbólico ou literal. Em Capricórnio nos lembra que mesmo a rocha mais forte um dia se desintegra; que nossos pais e entes queridos em geral, embora pareçam eternos, sólidos e robustos, podem desaparecer de nossas vistas a qualquer momento; e que não adianta homenagens póstumas, se não tivermos nos entregado e vivido o afeto e o amor plenamente em vida! É preciso ser inteiro agora! É preciso cuidar, acariciar, acarinhar, proteger e amar hoje, porque o amanhã é inseguro e guarda muitas surpresas. Cuidemos, sejamos presentes e amorosos hoje!
O símbolo Sabiano para o grau seis de Câncer (5°37) traz uma bela imagem que reforça essa idéia: “Aves de Caça revestem de penas seus ninhos”. Uma ave de caça é uma ave que tem, além dos predadores naturais, o predador maior que é o homem. Precisa ser cautelosa e cuidar bem de sua prole para eles continuem após seu desaparecimento. É uma bela imagética, que traduz a idéia de calor, cuidado e proteção, além de projeção de futuro e longevidade.
Que nesta Lua Nova de Câncer possamos, pois, como estas aves de caça, forrar nossos ninhos com o mais genuíno dos nossos afetos, com nossa mais pura gratidão e gentileza por aqueles que amamos e com quem convivemos. Que resolvamos estreitar os laços não por carência emocional, mas por decisão de querer estar perto e partilhar a vida, respeitando o outro na sua singularidade, sem usá-lo para tapar o buraco da solidão. Que cuidemos mais uns dos outros, e principalmente de nós mesmos, de nossa nutrição corporal, espiritual, psíquica, emocional. E que redescubramos o valor dos nossos velhos, obsoletos, mas profundamente significativos; inúteis, mas absolutamente fundamentais para nós, simplesmente porque os amamos. Honremo-los e demonstremos nossa maior gratidão! Que vejamos nos inúmeros sulcos e rugas em seus rostos, o legado e a sabedoria de uma vida inteira e inúmeros motivos para tê-los por perto, simplesmente porque eles são quem são e porque sem eles, nossa origem, não seríamos o que somos!