Lua Nova em Libra: a semente de uma nova vida criativa
“A Astrologia é uma técnica para o estudo dos ciclos da vida” (1), dizia Dane Rudhyar. Dentre estes ciclos estudados pela Astrologia, estão os ciclos específicos dos planetas e Luminares, além dos ciclos representados por seus relacionamentos entre si – o ciclo Júpiter-Saturno, por exemplo, é um dos mais importantes em termos sociais e políticos. Tanto no mapa natal de um individuo ou entidade quanto no tempo real, há sempre vários ciclos se desdobrando simultaneamente, em diferentes fases de desenvolvimento, alguns se iniciando, outros se consolidando e outros ainda terminando, numa espiral que nunca tem fim, e que representa a evolução eterna do universo e provavelmente do elemento humano na Terra.
Alguns ciclos são muito extensos e seu impacto de longo prazo é difícil de se perceber numa vida humana, como é o caso de Plutão, que leva 248 anos para dar uma volta completa ao redor do Sol e cujos efeitos são mais perceptíveis quando se analisa a História. Outros são mais visivelmente sentidos e percebidos na vida das pessoas, como o ciclo de Saturno, que tem em média, 29 anos. Outros ainda têm periodicidade mais curta e servem para nos situar no tempo, como o ciclo do Sol, que determina, entre outras coisas, as estações do ano e muitas atividades ligadas a elas, como plantação e colheita na agricultura, por exemplo; servem também para nos ajudar a estipular metas de curto, médio e longo prazo, propiciando mensuração, através da convenção dos calendários, e uma relação mais “palpável” com o tempo. E temos também os ciclos menores e mais imediatos, como o ciclo Lunar ou as Lunações, que tratam do relacionamento específico entre a Lua e o Sol. Como o ciclo Lunar tem em média 28 dias, o ano gregoriano teria em torno de 13 ciclos lunares completos. Os ciclos menores, em geral, devem ser vistos sobre o pano de fundo dos ciclos maiores, para que possam ser melhor entendidos e assimilados na vida mundana, e para que se tenha um senso de perspectiva no tempo e espaço.
Embora os ciclos maiores sejam sentidos de forma mais contundente na vida humana, os ciclos menores não são menos importantes e na sobreposição destes diversos intervalos de tempo, uma simples Lunação pode iniciar, finalizar ou precipitar os efeitos dos ciclos maiores que estejam se desenrolando na vida humana ou mesmo no coletivo. Isso se aplica especialmente aos eclipses, que são Lunações particularmente poderosas. Assim, supondo que o indivíduo tenha Plutão em trânsito fazendo um aspecto tenso ao seu Sol natal, aspecto que pode durar até dois anos: durante todo este tempo ele sente a tensão se acumular e muitas coisas se desintegrarem à sua volta, porém o efeito mais agudo deste trânsito poderá ser sentido quando uma Lunação (Lua Nova ou cheia) ocorrer em órbita próxima ao grau do Sol e de Plutão (conjunção, quadratura ou oposição), o que precipitará a crise e a eclosão da tensão que se acumulou por tanto tempo, levando à liberação da energia e à conseqüente resolução da questão, para o melhor ou pior, dependendo do contexto e da percepção do indivíduo. Assim, as lunações devem sempre ser entendidas como parte dos ciclos maiores e, a Lua Nova em particular, como oportunidade de reavaliação e reiteração dos objetivos e propósitos do ciclo Solar anual.
Tendo dito tudo isso – desculpem pela introdução longa – A Lua Nova de Libra que ocorre hoje no grau 1°07’ (24 de setembro de 2014, 03h13min, horário de Brasília, ou 07h13min para Lisboa WEST) vem novamente trazer a oportunidade de uma parada estratégica para revermos planos e objetivos, de curto e médio prazo – e em alguns casos, também de longo prazo – reavaliando, reiterando, reafirmando e implementando ações que vão se fazendo necessárias tanto para o funcionamento imediato das coisas, quanto para a execução dos planos de vida nos seus ciclos maiores. Astrologicamente, meio ano se passou, período que simbolicamente é relacionado ao individuo e à sua consolidação no mundo; agora iniciamos a fase em que nos voltamos para o exterior, para o outro e sua inclusão na nossa vida.
Libra é o signo da escolha, da decisão. Signo de Ar, Cardinal, “tem fortes pontos de vista sobre justiça, harmonia e comportamento civilizado. É um signo altamente refinado. Rege todas as artes civilizadas – o teatro, salas de concerto, galerias de arte, assim como as leis com as quais qualquer sociedade civilizada é conduzida” (2). O símbolo de Libra é a balança, que traduz sua função primeira, que é equilibrar o sistema, começando por equilibrar a relação entre o eu e o outro. Libra rege os relacionamentos, não do ponto de vista do sentimento, mas de um ponto de vista racional, da necessidade de se criar parcerias, de se interagir e viver em sociedade, tendo em vista o bem comum e a harmonia entre as partes envolvidas.
Esta Lua Nova enfatiza de forma particular os ideais de Libra por várias razões. Primeiro, está muito próxima do Grau Zero, considerado um grau crítico para todo signo, um grau-semente que carrega a concentração máxima do potencial do signo; segundo porque Sol e Lua estão praticamente isolados dos demais planetas, fazendo aspectos super amplos, se se considerar orbes muito generosas. Lua e Sol fazem um sextil de quase seis graus a Marte, que está a 7°00’ de Sagitário; fazem conjunção separativa (que já aconteceu) com oito graus de orbe, fora de signo, a Vênus, que é muito importante por ser regente de Libra, mas que está também isolada a 23° de Virgem, fazendo apenas um sextil, também separativo a Saturno; e fazem ainda quadratura aplicativa (ainda vai acontecer) a Plutão em Capricórnio, com quase 10 graus de orbe – muitos astrólogos nem consideram orbes tão amplas. É, pois uma Lua Nova ultra idealista, como idealista é o signo de Libra, que tem como estandarte os ideais da Justiça, da Beleza e do Equilíbrio.
O problema é que se Lua e Sol não fazem contatos próximos com o resto do mapa, estes ideais ficam difíceis de serem executados, porque não ressonam com elementos fundamentais para sua manifestação no mundo; há propósito consciente (Sol) e há envolvimento da alma (Lua), mas não há integração suficiente das outras partes da psique, indicando que, pelo menos a princípio, podemos nos tornar apaixonados e “possuídos” por objetivos elevados, mas tais objetivos podem se tornar obtusos porque são excessivamente perfeccionistas e talvez não realizáveis no plano real imediato. Tornamo-nos cegos e surdos para sinais evidentes de limitações, focados demais que estamos no belo quadro à nossa frente.
Parte da dificuldade vem da pouca Água do mapa da Lua Nova, que mostra apenas Saturno em Escorpião, como planeta mais próximo da consciência, no elemento Água – também temos Quíron e Netuno em Peixes, mas como são planetas exteriores, têm menos peso. Podemos focar nos ideais de parcerias e relacionamentos e esquecer da dimensão humana, buscando ideais inalcansáveis de perfeição. Então não enxergamos o outro na sua humanidade, e tornamo-nos frios e inatingíveis, relacionando-nos bem com conceitos e idéias, mas muito mal com as pessoas.
Aplicando tudo isso ao inicio de um novo ciclo e tendo em visto os ciclos maiores, precisamos então ficar atentos para os perigos da super idealização de projetos, pessoas, relacionamentos e esperanças, para que não corramos o risco de nos fecharmos em tais conceitos rígidos, impossibilitando os relacionamentos em nível real e verdadeiro. É hora de rever estes ideais, portanto. É hora de olhar mais de perto o papel dos relacionamentos na nossa vida; como me relaciono com as pessoas; como vejo os relacionamentos e quais ideais tenho a respeito deles; como equilibro e incluo o outro na minha vida; como integro os ideais de justiça e harmonia na minha vida diária, como manifestação dos valores e princípios que professo. E, considerando um dos ciclos maiores atualmente em desdobramento, os ciclos Júpiter-Saturno (mudanças nas leis, economia, políticas e governos) e Urano-Plutão (transformações profundas e radicais), precisamos ver também quais destes ideais estão ultrapassados e precisam ser transformados, tanto em nível individual quanto coletivo.
Para fechar, o Símbolo Sabiano como sempre, traz imagem que ilustra e aprofunda o significado do grau da Lua Nova. Neste caso específico, para o grau 2 de Libra (1°07’) temos: “A transmutação dos frutos de experiências passadas em realizações-semente do Espírito Eternamente Criador”. Em Libra, estamos já no Segundo Hemiciclo (metade de um ciclo), que comporta o processo de Coletivização, depois de ter o individuo passado pelo Processo de Individualização, que é definido pelo Primeiro Hemiciclo (3). Como eu dizia no inicio, em Libra encontramos “o outro”, não só em nível de relações um-a-um, mas também nas interações sociais diversas; e Libra inicia a abertura do individuo para as esferas outras além do escopo individual, daí o nome Processo de Coletivização. Pois bem, recuperando o que falávamos sobre os elevados ideais Librianos e trazendo a imagética do Símbolo, eu diria que é crucial que percebamos que este é um momento único de fazermos uma avaliação acurada de tudo o que vivemos até aqui, especialmente as revoluções e realizações dos últimos anos, para transmutarmos todas estas experiências, boas, ruins, fluidas ou difíceis, em sementes de um recomeço, sementes de realizações que ultrapassam nosso limitado alcance mental; que vão além do efeito e impacto da minha história individual, mas que ressoam talvez na história humana como um todo. É crucial percebemos, como apontado por Libra, que não estamos sós no mundo e que nossa ação impacta na vida do outro, da espécie e do planeta, em maior ou menor escala, como a pedra jogada no lago, cujas ondas criadas reverberam até atingir a mais longínqua margem, até que o lago inteiro seja movimentado.
Caminhamos num ritmo e vivemos tempos cada vez mais vertiginosos e às vezes nos esquecemos das implicações da vida para além do nosso umbigo, das contas a pagar, dos objetivos pessoais ou familiares. Mas de vez em quando é preciso lembrar do nosso lugar no mundo, no Grande tabuleiro da vida, que pode ser apenas o papel do peão, do grão de areia ou da gota d’água, mas que impacta no destino da espécie e do planeta como um todo. Chegamos a um ponto em que temos que olhar a qualidade das experiências passadas, que determinará a qualidade da semente-futuro, semente que será utilizada pelo Espírito Eternamente Criador para gerar e realizar a vida a partir daqui.
Assim, esta é uma Lua Nova de suma importância, que pontua o fim de um ciclo e o início de outro, mais do que uma Lua Nova apresenta comumente, que nos convida a uma análise cuidadosa de ideais, objetivos, realizações, atitudes e modos de vida. E que nos propicia um momento poderoso de transformação de destinos e de transmutação de experiências, como o próprio símbolo diz. Cabe a cada um utilizar esta oportunidade, fazendo as alterações e movimentos necessários, ou afundar no lago da inconsciência cada vez mais, alheio ao destino maior que nos convida à superação e transmutação e que nos põe disponíveis à ação do espírito eternamente criador. O que vai ser para você?
(1) Dane Rudhyar – O Ciclo de Lunação
(2) Clare Martin – Mapping the Psyche
(3) Dane Rudhyar – An Astrological Mandala
Muito obrigada por compartilhar seu texto . Momento maravilhoso ! Está mais do que na hora, de cada um de nós , tomar-mos nossas próprias vidas nas mãos . Sem culpar o destino , os outros ou Deus.
Eu fico com a transmutação e transformação !
Boa Lunação !
Abraços
Lúcia MAzzini
Gratidão a voce também plea visita ao blog, Lúcia!
fico feliz que você tenha gostado! 🙂
Volte sempre!