Lua Nova em Sagitário: um salto de fé ou de insanidade?
A Lua nova é o casamento sagrado da Lua e do Sol, nunca é demais recordar. O ciclo lunar conta, basicamente, o relacionamento entre esse casal, a dança eterna do Masculino e do Feminino. O ciclo Lunar, fala, portanto, de relacionamentos, pois o crescente aumento da luz da Lua, é, na verdade um aumento do reflexo da luz do Sol. E as sementes de cada período dessa relação cíclica são lançadas exatamente na Lua Nova, que é quando eles estão em conjunção, casados, enlaçados, no leito conjugal sagrado e alquímico da Mysterium Coniunctio. Depois do casamento a Lua sai em viagem, numa jornada venturosa e aventurosa, para coletar informações e impressões ao redor do mundo, ou melhor, da psique, e trazê-las de volta ao Sol, que, por seu turno, irá utilizá-las em seus propósitos conscientes.
Temos então, mais uma Lua Nova neste sábado, 22 de novembro, às 10h32min, hora de Brasília (12h32min para Portugal). Poderia ser só mais uma lua nova, mas ela marca um novo ciclo, no meio de muitos outros ciclos mais longos e mais impactantes, mas o fato de ser um ciclo curto não significa que seja um ciclo menos importante, pois as lunações precipitam os eventos maiores que estavam aguardando acontecer. Lunações marcam o período de iniciar, de lançar sementes (Lua Nova), o período de investir e de fazer ajustes (Lua Crescente/Primeiro Quarto), o período da colheita, ou falta de (Lua Cheia) e o período de repouso,de avaliação, de hibernação da Terra e preparo para o ciclo seguinte (Lua Minguante). Se nos baseamos minimamente por estes ciclos celestes, temos mais chances de nos alinhar com a mãe natureza e com nossos próprios ritmos internos, especialmente no caso das mulheres, que são, elas mesmas, regidas pela Lua, como bem lembra seu ciclo menstrual.
Portanto, essa não é só “mais uma lunação”. Nenhuma o é. Todas são importantes e todas falam dos ciclos da natureza e dos ciclos da atividade humana na Terra. Cada uma vem pontuar significados e chamar a atenção para certas áreas de vida e certos assuntos que exigem nosso cuidado. Essa Lua Nova de hoje ocorre no grau Zero de Sagitário, 00°07. O Grau zero é considerado um grau crítico para todos os signos, porque contém a essência básica do signo em questão. É como quando você chega num ambiente e quer “causar”, quer mostrar que chegou, causar impacto, o maior possível, mostrar a que veio. Então, um planeta no grau zero de um signo (e no grau 30) não é “uma mistura” dos dois signos, o anterior e o seguinte. Muito pelo contrário, ele é a energia pura do signo do grau zero.
Depois da densidade e profundidade do ciclo escorpiônico, que foi precedido por uma temporada super intensa de eclipses, nesta lunação temos, portanto, Sol e Lua no grau zero de Sagitário, dizendo que é mais uma lunação de extremos, mas também de amplitude. Ora, regido por Júpiter, de extremos já é Sagitário, o signo que não conhece limites! Para começar, Sol e Júpiter estão em recepção mútua, têm muitas afinidades, ou seja, o Sol está em Sagitário, que é regido por Júpiter e Júpiter está em Leão, que é regido pelo Sol – como se eles tivessem trocado de casa, eu moro na sua e você mora na minha. Isso aumenta os temas Sagitarianos.
Enquanto Escorpião concentra e aprofunda, Sagitário busca expansão e amplitude, seja de espaço, de idéias, de visão e objetivos. Não é por acaso que seu símbolo é o arco e flecha, com a flecha sempre apontada para o alto, sendo o arco e flecha uma arma de longo alcance, que vai muito além do ponto alcançado pelo olhar. Sagitário é o nono signo do zodíaco e abre o ciclo dos signos universais: Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. São chamados universais porque seu escopo sai dos objetivos meramente sociais representados por Leão, Virgem, Libra e Escorpião, e partem para os objetivos grandiosos, de impacto humanitário maior, sem fronteiras de língua ou cultura, tratando especificamente do elemento humano independentemente da sua origem.
Trazendo o mapa da Lua Nova, vemos que temos pela frente um ciclo bastante desafiador, como apontado pelo excesso de quadraturas, com apenas um trígono amplo e dois sextis. O mapa mostra também um excesso de Fogo e nada de Ar, indicando um ciclo apaixonado, dramático, possivelmente com uma verve fanática que não dá espaço ao diálogo e a considerar o ponto de vista do outro. Fervor irracional, fé cega e ilógica colorem o ciclo. Temos um pouco de Terra, representada por Plutão e Marte em Capricórnio, mas talvez essa dupla ajude a colocar fogo no mundo, já que ambos estão em quadratura a Urano, e embora esta seja uma quadratura ampla da parte de Marte, temos no dia 15 de dezembro a penúltima quadratura Urano-Plutão exata, já na fase minguante. No dia 21, temos de bônus, já no encerrar do ciclo, Urano ficando estacionário-direto. É. O “circo” sagitariano promete pegar fogo!
Nos ciclos anteriores tivemos muita tensão, muita crise, muitos sentimentos e situações super carregadas, tudo muito concentrado, mas muito secreto e escondido, parte disso sendo sentido e intuído de forma muito pessoal, mas não clarificada. Agora essa energia super concentrada vai para o mundo, na forma de fervor ideológico cego e impessoal; agora as coisas ficam evidentes e expostas. Os segredos se acabam, as luzes se acendem e vemos os palhaços no meio do picadeiro em todas as suas cores berrantes. O palhaço histriônico conta piadas para fazer rir ou para esconder suas tristezas e desespero?
Sol e Lua estão conjuntos a Vênus neste mapa, indicando a princípio uma disposição harmoniosa e benéfica. Porém os três estão em quadratura a Netuno em Peixes, o Grande Confundidor, sugerindo que nossa visão pode estar distorcida e que não temos muita certeza do que vemos à nossa frente, ilusão de ótica pura! Sol e Lua ainda se separam da quadratura fora de signo a seu dispositor, Júpiter em Leão, que por sua vez quadra Saturno em Escorpião, de quem Lua e sol também se separam de conjunção. Vênus já se aproxima da quadratura a Quíron, indicando que seu otimismo fácil encontrará muitos percalços com os quais terá que lidar logo à frente. Vênus faz ainda trígono a Urano em Áries, que também recebe uma sesqui-quadratura de Saturno e Marte faz quincunce a Júpiter e junto com Plutão, como já disse, quadra Urano. Mercúrio quadra Júpiter bem de perto. Mas o que chama mesmo a atenção é a grande formação de várias quadraturas, que simbolizam, como já mencionei, um ciclo cheio de grandes desafios e de grande necessidade de ajustes.
Os principais desafios referem-se à falta de objetividade e clareza nas nossas crenças, esperanças, no nosso otimismo e na direção que estamos tomando. De Sagitário, Sol, Lua e Vênus em quadratura com Netuno indicam uma grande vocação para o auto-engano, para a credulidade e ingenuidade excessivas, assim como para um otimismo exagerado, talvez sem bases reais. Nossa visão maior e inspirada pode não passar de uma ilusão bem montada e a alegria esfuziante pode não só não ter fundamento, mas esconder tristezas e desapontamentos incomensuráveis. Sem Ar, o raciocínio lógico está comprometido, pela paixão e fervor extremistas, pela credulidade pueril, e, embora perspicaz, já que Mercúrio está em Escorpião, pode ser um tanto estreito e unilateral. O regente de Sagitário, Júpiter, estando em quadratura a Saturno, aponta para a necessidade de comedimento, de botarmos o pé no chão, ou ainda, funciona como indicador de que todas essas esperanças e altas visões podem ser frustradas e limitadas por forças de peso, especialmente se não nos ativermos aos limites da realidade possível. Neste cenário, pelo menos Marte, que estava “fora de limites”, já voltou a responder à autoridade do Sol e nenhum outro planeta está “debandado” por enquanto.
Nossas altas esperanças e visões podem ser irreais, exageradamente idealistas e otimistas e o grande desafio será exatamente botar o pé no chão e ter em mente a possibilidade de estarmos apostando alto demais. Em algum momento teremos que fazer ajustes entre o que almejamos e o que é possível e factível. Será necessário também tentar conter fanatismos e ideologismos desmedidos, tendo em mente que nossa verdade não é absoluta, é apenas a “nossa” verdade, enquanto outros podem ter as suas próprias, que podem ser perfeitamente válidas, tão legítimas quanto as nossas. Outro desafio é termos que lidar com uma possível hipocrisia, seja nossa ou de terceiros, nascida da incapacidade de nos percebermos a nós e às nossas crenças sob luzes realistas e honestas. Podemos cair na tentação de contar mentiras bonitas e animadoras para nós mesmos ou para outros, por receio de lidar com os fatos como eles são. Podemos ainda ser como o Louco, do Tarô: ingênuo e inocente, que não percebe que está prestes a cair no precipício. O Arcano O Louco mostra um andarilho, um bufão que perambula pelo mundo coletando experiências diversas e observando diferentes formas de vida, assim como o Sagitário. Ele fala de ingenuidade, sim, mas também de um momento extremamente poderoso de fé e confiança. Se sua confiança é correta ou infundada, depende do momento em que ele está no tempo. Se isso vai ser um salto de fé ou de insanidade, o ciclo dirá!
O Símbolo Sabiano para o grau zero de Sagitário traz uma imagem perturbadora para o atual cenário político do Brasil: “Veteranos aposentados do exército se reúnem para relembrar memórias antigas”. Percebem porque acho isso perturbador? Vivemos um tempo pós-eleição em que uma parcela da sociedade tenta recorrer a uma intervenção militar porque acredita que a democracia falhou. Há alguns que vão ao extremo de dizer que só na ditadura tínhamos ordem e controle. São infantes regressivos que desejam que alguém tome conta deles, porque possivelmente acham difícil demais se responsabilizar por si próprios e pela sociedade em que vivem.
Linda Hill, discorrendo sobre este símbolo diz que: “o Símbolo mostra reunião de pessoas que compartilham histórias, questões e lutas. Uma reunião pode acender sentimentos de camaradagem, companheirismo e triunfo, às vezes acompanhados de grandes paixões. Como estes são ‘veteranos aposentados do Exército’ é através do passar do tempo e com a retrospecção permitida pela idade que muitas coisas podem ser encaradas, curadas e postas para descansar. Em repassando as memórias de velhas batalhas você pode encontrar pistas para resolver as atuais. Entretanto, esse grau pode mostrar também um debruçar-se demasiadamente sobre velhas mágoas, ferimentos, doenças, etc. O truque está em não ver os outros como ‘o inimigo’, mas antes, ver em cada um a possibilidade de amizade.” (1)
O Símbolo compreende os outros desafios do ciclo: o aferrar-se apaixonadamente a antigas mágoas e feridas, a ponto de cegar-se para as possibilidades de cura e de abertura para uma re-significação das coisas e acontecimentos. Aqui lembramos que a sombra, algo difícil para Sagitário lidar, é mais do que nunca evitada e projetada sobre outros, e aquele que não compartilha de minhas visões e esperanças é visto como o “inimigo”, uma manifestação negativa do Sagitário, que de outra forma veria o diferente e o exótico como perfeitamente natural e aceitável. Podemos nos entrincheirar em nossa fé e ideologia, relegando as dos outros como obtusas e simplesmente “erradas”.
Tendo considerado todos estes riscos acima e os desafios que enfrentaremos, podemos sim, aspirar a novos horizontes, como simbolizado pela forte energia Sagitariana abrindo o ciclo. Podemos nos abrir para novas visões e permitir que a inspiração nos eleve a novos patamares de entendimento e compreensão da vida e da natureza humana. Podemos, tal como o arqueiro, mirar alto e buscar um jeito mais otimista de ser e de experimentar a vida, traçando objetivos que tenham a ver com a expansão da nossa fé e do nosso conhecimento, com viagens longas, sejam elas físicas ou imaginárias; podemos nos propor objetivos de viver uma espiritualidade que busque não só a elevação individual, mas o melhoramento da vida para todos. Lembrando que Sagitário também tem como símbolo o Centauro, uma criatura que é metade animal, metade humano, simbolizando a necessidade de integrar matéria e espírito, visão e realidade. E claro, nunca esquecendo que Netuno está ali na esquina, e que precisamos levar em conta que algumas de nossas aspirações talvez sejam mais que ilusórias, sejam mesmo apenas ouro de tolo. E também ficando vigilantes quanto à possível hipocrisia, ao possível fanatismo que nos impede de ver no outro um igual a nós, que pode apenas estar buscando maneiras de ser feliz, assim como nós. Talvez divirjamos sobre os métodos, o “como” chegar a isso, mas em última instância, todos temos a flecha do arqueiro apontada para um ideal e uma visão mais positiva da existência. Assim esperamos, pelo menos.
Que o ciclo nos traga, pois, seus desafios, e que possamos lidar com eles de forma adequada e lúcida!
(1) Linda Hill – Sabyan Oracle