As 12 Noites Sagradas – CAPRICÓRNIO
Começamos nossa jornada com o signo de Capricórnio, porque seus temas são os temas do Cristo, a encarnação na matéria, numa experiência terrena e a posterior crucificação, obedecendo à vontade do Pai. Também porque é o signo vigente nos meses de dezembro e janeiro e um signo cardinal, que tem a energia do início. (Para entender o que são as 12 Noites Sagradas, clique aqui)
Para começar, exploramos um pouco os mitos e associações deste signo, além das imagens, e depois fazemos uma meditação. Conforme disse no primeiro post, não montei um roteiro fixo e a experiência vai se fazendo conforme formos caminhando juntos.
Capricórnio, signo de TERRA CARDINAL, é o signo da Cabra ou Cabrito, o animal que sobrevive em regiões inóspitas, pedregosas, montanhosas – é a Terra mais densa, na forma cristalizada da rocha e da pedra. A montanha, aliás, é um de seus símbolos, pois representa exatamente o topo do mundo, o lugar aonde a cabra deve chegar, devagar e sempre. A montanha é também uma analogia que usamos para falar da Casa 10, a casa natural de Capricórnio no mapa astrológico e representa o ponto mais alto deste mapa, a culminação da experiência mundana, daí suas associações com a carreira, status, papel social e imagem no mundo.
Orientado para a hierarquia, a missão principal de Capricórnio é desenvolver autoridade, até que se torne uma ele próprio. Nesse processo do desenvolvimento da autoridade ele vai se definindo e descobrindo seu papel na sociedade, estabelecendo fundações e estruturas que durem e resistam ao tempo. Regido por Saturno, tem temperamento estóico e tem poucas ilusões a respeito da vida, sabendo desde cedo que o trabalho é sua jornada básica.
Liz Greene (1) associa Capricórnio com o tema do Sacrifício do Rei, que deve ser morto para que a terra volte a ser fértil. Ele aparece em várias mitologias, como o deus Sabazius, uma variante de Saturno, como Osíris no Egito e como o próprio Cristo, Filho de Deus, que deve encarnar como homem e ser crucificado para redimir a humanidade. O Cristo, como outros redentores, nasce por volta do Solstício de inverno (Hemisfério Norte), assim como Mitras, Tamuz, Adônis e até mesmo o Rei Artur. No inverno a terra descansa, pois está devastada. Capricórnio é o Rei doente da lenda do Graal. É pregado numa cruz, a árvore da matéria, a cruz que representa a experiência humana da encarnação e da vida material. Assim, Capricórnio cresce estranhamente consciente de que sua liberdade é restrita, mas internamente dividido entre as imagens do Puer (o arquétipo da Criança Divina que nunca cresce) e do Senex (o arquétipo do Velho). Abraça a responsabilidade cedo, numa vida que parece não lhe permitir ser criança plenamente. “Freqüentemente Capricórnio caminha disposto para esse cativeiro, embora outras alternativas possam estar abertas para ele. É como se ele buscasse e acolhesse esse destino, por motivos obscuros e geralmente inconscientes”, diz Liz Greene.
O Pai é o ogro, é o Pai Terrível, representado por Saturno, cujo abraço só será dado se o filho tiver cumprido seus difíceis deveres. Mas o filho, embora magoado, parece ter uma estranha sintonia com este pai impiedoso. E ela cita Joseph Campbell em o Herói de Mil Faces: “o ogro aspecto do pai é um reflexo do próprio ego da vítima, derivado da cena de berçário que foi deixada para trás, mas projetada depois; e a idolatria fixa dessa coisa não pedagógica é em si mesma a falha que mantém a pessoa imersa no senso de pecado, prevenindo o espírito adulto de uma visão mais realista e equilibrada do pai, e conseqüentemente, do mundo. Expiação consiste em não mais do que o abandono desse auto gerado monstro duplo – o dragão que se imagina ser Deus (o superego) e o dragão que se imagina ser o Pecado (o Id reprimido)… Deve-se ter fé de que o Pai é misericordioso e confiança nessa misericórdia”.
Para Capricórnio, aceitar os limites da realidade e as responsabilidades de uma vida mundana é como um rito de passagem. E por incrível que possa parecer, essa aceitação do próprio “destino” pode ser também profundamente libertadora, porque se para de brigar com a vida, e os ideais, como representados pelo espírito do Puer, podem ser manifestados, mesmo que de forma imperfeita. Sintomaticamente, Capricórnio rege os joelhos, que simbolizam nossa capacidade de nos humilharmos, de ceder e de nos render diante de algo maior que nós. Ajoelhar-nos é o que fazemos nos templos, ou nas nossas orações, como sinal de humildade diante da divindade.
O tema da Crucificação é, pois, extremamente relevante para Capricórnio, seja homem ou mulher. A crucificação é basicamente aceitar a vontade do Pai, encarnar e viver a experiência da carne, do homem, e depois ser sacrificado para redimir este mesmo homem. Não é isso que se ouve com freqüência de muitos Capricórnios? O sacrifício, o martírio?
O conflito Puer-Senex é básico e comum também aos signos de Sagitário e Gêmeos, que neste caso vivenciarão o lado do Puer, enquanto o Capricórnio experimenta o Senex.
James Hillman, no seu livro sobre o Puer cita esta oração extremamente contraditória a Saturno, que data do século dez:
“Ó Mestre de sublime nome e grande poder, supremo Mestre; Ó Mestre Saturno: Tu, o Frio, o Estéril, o Enlutado; Tu, cuja vida é sincera e cuja palavra é certeira; Tu, o Sábio e o Solitário, o Impenetrável; Tu, cujas promessas são mantidas; Tu, cujo oficio te fragiliza e extenua; Tu, que tens as maiores responsabilidades, que não conheces nem alegria nem prazer; Tu, o velho e astuto, Mestre de todo artifício, enganador, sábio e prudente; Tu, que trazes prosperidade ou ruína e fazes os homens felizes ou infelizes! Eu te suplico, ó! Pai Supremo, pela Tua grande benevolência e Tua generosidade, a fazer-me o que peço…” (2)
E então o pedinte apresentava seus pedidos. Nesta oração está contida a grande contradição que é o próprio Saturno, o Grande Mestre, que presidiu a Era de Ouro, uma era de grande abundância e a Saturnália, um festival de grande licenciosidade que durava cerca de três dias, onde todos os limites eram deixados de lado e se podia dar vazão a instintos e vontades. Um festival que coincide com o período do Natal Cristão.
A cornucópia é um dos símbolos associados a Saturno, exatamente por causa desse período. A idéia da cornucópia, que era, na verdade, um chifre, vem de outro símbolo associado a Capricórnio, a cabra-peixe, um das imagens mais antigas associadas a este signo. A Cabra-Peixe é associada com Almatéia, uma ninfa-cabra que amamentou o infante Zeus no Monte Dicte, quando sua mãe Rhea o escondeu de seu pai Cronos-Saturno, para que ele não o devorasse. O próprio Cronos era chamado a Cabra Velha, e um deus da fertilidade. Por sua grande generosidade e cuidados, Zeus colocou a imagem de Almateia entre as estrelas e pegou um de seus chifres e transformou na Cornucópia da Abundancia, que está sempre cheia do alimento ou bebida que o dono desejar. A cabra-peixe também aparece nos mitos sumérios, onde era chamada de Deus Ea, que depois se tornou Oannes em grego e finalmente João.
Essa contradição da figura do Mestre Saturno permeia a vida de Capricórnio, e o pai que é terrível, que escraviza e destrói o filho, é o mesmo pai que oferece a salvação. Não é essa a história de Jesus? Ele nasce e morre para atender a vontade do Pai e em dado momento chega mesmo a pedir, “Pai, afasta de mim esse cálice!”
Assim, Capricórnio reclama, reclama, mas abraça seu destino com disposição e compromisso. Assim como o Cristo, em Capricórnio encarnamos para a experiência da vivência na carne, na realidade terrena. Meditemos sobre isso, sobre a experiência do espírito encarnado na matéria limitada. A casa no mapa natal em que temos Capricórnio é onde vivemos com essa disposição.
Steiner relaciona os Arcanjos com o signo de Capricórnio, e na noite dedicada a este signo, “os impulsos dos Arcanjos para o fortalecimento da nossa personalidade através da expansão da luz e autonomia da nossa inteligência.” (3)
As figuras arquetípicas relacionadas a Capricórnio são:
A Autoridade, O Velho, O Trabalhador, O Magnata
Agora, gostaria que você me acompanhasse numa meditação que o fará entrar em contato com Capricórnio dentro de você, de acordo como aparece no seu mapa.
Primeiro, olhe as imagens associadas a Capricórnio: a cabra-peixe, o próprio símbolo que parece um “V” com um rabinho, a montanha, a imagem de Saturno…
Olhe e fixe essas imagens e deixe que elas conversem com você.
Quando estiver pronto, faça esta meditação, inspirada numa meditação orientada por Howard Sasportas (3)
OBS: A qualquer momento, se sentir qualquer desconforto, receio, mal estar, abra os olhos imediatamente e interrompa o processo!!!
Feche os olhos e faça um exercício respiratório de relaxamento. Gradativamente, solte os pés, pernas, coxas, quadris, tronco, ombros, braços, pescoço, cabeça… Até que você esteja completamente relaxada/o. Então, visualize uma montanha à sua frente; perceba seus detalhes, o que ela lhe inspira, perceba se é grande ou pequena, se tem vegetação ou não, etc. Aos poucos comece a subir essa montanha. Não precisa ter pressa, nem forçar nada. Vá devagar e sempre, conforme seu ritmo. Observe o caminho, aspire e inspire o ar puro da montanha. Até que você finalmente chega lá no topo. Sinta a sensação de chegar ao topo em cheio, curta e se congratule por isso. Explore os arredores e veja, ao longe, uma construção. Aproxime-se. Observe como é a construção: é uma casa? Um prédio? Um castelo? Do que é feito? Qual o aspecto geral da construção? Bonita, feia, aconchegante, fria, sólida… Chegue mais perto e veja que há uma inscrição acima da porta que diz: “Casa de Capricórnio”. Bata palmas ou bata na porta e aguarde. Veja se sai alguém. Quem é? Qual a impressão lhe passa? Está feliz, triste, zangada… Não a julgue. Perceba a sensação geral que a figura lhe passa, se ela quiser falar, deixe que faça isso. Faça a ela três perguntas: “o que você quer? Do que você está precisando? O que você me oferece?” Escute o que ela tem a lhe dizer atentamente. Se sentir vontade de dizer algo mais a ela, faça-o, com respeito. Quando estiver pronto, agradeça, despeça-se e deixe que ela volte para dentro da casa. Diga adeus à casa, à montanha, e lentamente comece a descer a montanha, até chegar ao ponto inicial. Abra os olhos e se tiver vontade, escreva, desenhe, ou fale para alguém sobre a vivência. Se quiser, ouça estas músicas e se você lembrar de alguma que se encaixa nos temas Capricornianos, comente aqui.
Músicas para Capricórnio:
Osavaldo Montenegro: https://www.youtube.com/watch?v=2NzU8J3Xx50
Cazuza: https://www.youtube.com/watch?v=OWvC87D8VHU
(1) Este texto é baseado principalmente no livro A Astrologia do Destino, capítulo Mito e Zodíaco.
(2) O Livro do Puer – James Hillman – Ed. Paulus
(3) http://www.festascristas.com.br/12-noites-santas/12-noites-santas-textos-diversos/483-as-doze-noites-santas-edna-andrade
(4) Howard Sasportas – As subpersonalidades e os conflitos psicológicos
Maria Eunice, a data de 06 de janeiro é muito especial, há tempos celebro, medito e festejo, acredito ser o trabalho do astrólogo reconhecer o mestre em cada um e apontar as direções de seu encontro. Sua proposta de meditação é muito oportuna, já acolhi e farei, celebrando em 06 de janeiro mais uma chance e oportunidade de se reconhecer o “Mestre” e fazer viver esse Mestre. Que a obstinação de acertar em Capricórnio, hoje recebendo Mercúrio, Vênus, Plutão e o próprio Sol, nos torne capazes de sermos o que temos de ser, mesmo com toda limitação que exista neste caminho. Assim Seja! Grato!
Muito grata pelo seu feedback, Márcio! aliás, estou lhe devendo um retorno de um comentário em outro post… As coisas ficaram tão intensas nos últimos tempos que até agora não consegui atualizar algumas coisas.
Estou tentando fazer a meditação por aqui também, mas por estar “dirigindo” e tendo que produzir, fica um pouco complicado aprofundar… Sim, que Capricórnio nos ajude com sua obstinação! Grata por esta lembrança oportuna! Volte sempre! 🙂
muito boa esta noite sagradss