As 12 Noites Sagradas – ESCORPIÃO e a Sombra Humana
Chegamos à decima primeira das 12 Noites Sagradas, a Noite de Escorpião. (Se você não sabe o que são As 12 Noites Sagradas, clique aqui)
Edna Andrade fala sobre esta noite:
“Nasce de novo o sol, atravessamos um novo dia e cai a noite e uma nova estrela brilha no céu irradiando da Constelação de Escorpião através da qual emanam as forças espirituais dos Exusiai, os Seres da Forma, também chamados de Potestades ou Poderes. Agora atingimos o âmbito da segunda hierarquia. Eles também foram seres de um estado evolutivo anterior tão avançados em seu processo que podem acolher os planos divinos e torná-los manifestos, de forma que haja uma concordância entre a esfera macrocósmica da consciência do Cosmos e o nosso sistema Solar, que é uma expressão microcósmica onde a nossa existência humana está inserida, onde acontece a nossa biografia, humana.”
Estamos no âmbito das forças sexuais, que são as forças que oscilam tanto para o egoísmo mais absoluto, aquilo que pode ser caracterizado como o mal, porque ao oferecer a possibilidade da maior satisfação imediata podem subjugar o humano ao nível do animalesco. Mas que também trazem uma das maiores possibilidades para a superação do egoísmo e transcendência de forças. Aqui temos a imagem de uma luta, na nossa vida interior, entre a morte e ressurreição. E esta é uma luta muito individual, onde em liberdade oscilamos entre as sombras que obscurecem o nosso ser, os esconderijos onde vive o Escorpião venenoso, e as forças de expansão do Ser, representadas pela águia que se eleva às alturas e de lá contempla o Todo.
O Escorpião é então o signo das forças duplas, tanto destrutivas, retrógradas, que mudam constantemente de aparência e invadem a nossa alma trazendo caos à nossa vida, como é também portador de forças construtivas que têm a ver com transmutação constante e contínua superação, para que a substância divina, o Espírito, possa em nós ser plasmado de novo e sempre! No apocalipse esta característica de forças duplas é apresentada como a espada de dois gumes.
Nesta décima primeira Noite Santa, recebemos através do portal de Escorpião os impulsos espirituais dos Exusiai, ou Potestades, para aceitar por um lado as nossas fraquezas, e por outro lado receber os impulsos espirituais para a superação e transformação dessas forças.
Nesta noite procure ficar em paz consigo mesmo. Da região de Escorpião, os Exusiai, Espíritos da Forma, lhe trazem a capacidade de renascer das crises e de todos os processos de perda, impotência, dor e desespero. (1)
Escorpião é signo FIXO, de ÁGUA. É Feminino, Passivo, Negativo. Como se pode pensar na água, sempre fluida, como fixa? De imediato podemos pensar no gelo, como diz Martin Freeman: “Tecnicamente, a única maneira de a água ficar fixa é quando é gelo. Certamente o iceberg, como o Escorpião, revela pouco de si mesmo, a parte maior estando submersa e traiçoeira” (citado por Sue Tompkins) (2). De fato, pouco se vê do Escorpião. Ele tem grande capacidade de penetrar profundamente a alma alheia, descobrindo os segredos e as motivações mais íntimas das pessoas, mas, para desespero e frustração delas, a recíproca não é verdadeira, permanecendo ele para sempre inescrutável, como uma fortaleza fortemente vigiada. Sim, claro, se ele chegar a confiar em você poderá até se abrir um pouco, mas revelará somente aquilo que lhe aprouver, quando e SE lhe aprouver. É o signo dos SEGREDOS e dos MISTÉRIOS. Mistérios são coisas que o fascinam e ele está sempre tentando entender a dinâmica da vida através de investigações metafísicas, mágicas e profundas ou mesmo estudando as filosofias ocultas e iniciáticas.
Escorpião é também associado com as águas paradas, escuras e profundas, cuja calmaria esconde abismos que podem engolir o melhor dos mergulhadores. Essas profundezas são metáforas para a alma abissal do Escorpião, cheia de perigos e volatilidade.
Signo da MORTE, RENASCIMENTO e da TRANSFORMAÇÃO, ele vive muitas vidas numa mesma existência, trocando de pele como as serpentes, quando a forma de vida já não o sustenta ou não representa sua busca interior por viver tudo ao extremo. Tem necessidade de mudança, provocando crises quando percebe que uma situação está impedindo seu crescimento. Por mais possessivo que seja, uma vez determinado a eliminar algo da sua vida, é apenas questão de tempo. As serpentes, repteis diversos, a aranha, além do próprio escorpião são seus “animais”, assim como a águia, por causa de seu olhar agudo e de longo alcance. A Fênix, o pássaro mítico de fogo, é outro de seus símbolos. A Fênix sentia quando se aproximava seu fim, então ela se recolhia e entrava em auto combustão, queimando até as cinzas, para depois ressurgir para uma vida nova.
No corpo rege os órgãos sexuais e excretores, simbolizando tanto sua associação com o SEXO quanto com a necessidade de ELIMINAÇÃO e expurgo dos detritos inúteis. RECICLAGEM também é algo pertinente a este signo, que é capaz de achar verdadeiros tesouros no lixo ignorado por outros.
Regido duplamente por Marte e por Plutão, é um signo de grande CORAGEM e destemor, enfrentando seus medos e inimigos com grande audácia, sem o menor receio de olhar o diabo no olho. Mas, para além das confrontações literais, a maior força de Escorpião é a coragem e a FORÇA EMOCIONAL e psicológica. AUTOCONTROLE e auto-disciplina são palavras-chave porque ele tem que ser Senhor de si mesmo e jamais se permitirá depender de nada ou de ninguém – mesmo quando envereda pelo abuso de drogas e outras substâncias, é mais pela destrutividade intrínseca do que propriamente pela adicção ou dependência. É INSTINTIVO, VISCERAL, penetrante, intenso. Prospera e cresce com as CRISES, funcionando como grande CATALISADOR DE MUDANÇAS aonde quer que vá – aliás, esse é um dos motivos da sua grande má fama: as pessoas são obrigadas a olhar para si mesmas e suas necessidade de mudar na presença do Escorpião e essa é uma tarefa que nem todo mundo quer empreender.
Sua vida é colorida de PAIXÃO e INTENSIDADE, em cores vivas e quentes como o sangue que corre nas veias. Essa passionalidade é o que o faz viver intensamente e NO LIMITE, testando a si mesmo e à vida, expondo-se a perigos EXTREMOS, às vezes até mesmo por pura diversão, só para ver até onde ele agüenta. Nada com ele é morno. Ou é frio glacial ou é fogo calcinante. TUDO OU NADA, não tem meio termo. Ou ama ou odeia e com igual intensidade. É extremamente sagaz e perspicaz, captando as coisas no ar, seu faro e antenas sempre ligados e sondando o ambiente e os arredores. Nada é leve ou superficial com ele, tudo necessariamente tem que ser PROFUNDO e crítico, como se ele estivesse sempre prestes a morrer, como se cada minuto fosse o ultimo de sua vida. Isso porque ele tem uma consciência AGUDA da morte e dos ciclos da vida, uma consciência que é tanto inata, quanto resultado da exposição precoce à crueza da vida e da natureza humana. Por isso, nada o surpreende, nem nele mesmo, nem nos outros, menos ainda no mundo. Não há nada que ele já não tenha visto, sonhado, ou intuído. Essa aguda consciência da morte é o que o faz SENTIR tudo muito intensamente e também o que lhe dá um instinto de sobrevivência invencível, a toda prova. A INTUIÇÃO super aguçada e a capacidade de captar o que os outros sentem lhe conferem uma grande COMPAIXÃO pelos outros.
Escorpião é, talvez, o signo mais LEAL do Zodíaco. Ele é capaz de morrer por você, mas você só erra com ele uma vez. Não há segunda chance, não há perdão! Esse negócio de perdão é para os fracos, diria ele. E claro que vai tentar se vingar na primeira oportunidade, mas de forma planejada e estratégica, porque de tolo ele não tem nada. Na melhor das hipóteses, no caso do escorpião mais “tímido”, ele vai fazer igual àquele provérbio japonês: se você sentar na beira do rio e esperar o tempo suficiente, você verá o corpo do seu inimigo descer rio abaixo. É, ele é IMPLACÁVEL e INTRANSIGENTE, IRRACIONAL, INFLEXÍVEL. Com seu faro super apurado, ele suspeita de tudo e tem grande dificuldade de CONFIAR nas pessoas, podendo mesmo se tornar PARANOICO em certas situações. E ele não confia porque conhece bem demais a natureza humana e suas vilanias e baixezas. Para ele não é questão de “se” alguém vai traí-lo, é uma questão apenas de oportunidade, de “quando” isso acontecerá.
Daí uma das razões do ciúme e da possessividade. O ciúme também vem da necessidade de controle e de possuir o outro, imiscuindo-se em sua vida da forma mais profunda e inequívoca possível. Essa vontade de controle e de poder não se aplica somente aos relacionamentos, é uma constante na vida. Escorpião, afinal é o signo do PODER! Poder que vem, muitas vezes, da negação de si mesmo e da própria vontade – porque a dele é de aço! É também capaz de grande CRUELDADE, CINISMO e SARCASMO e nem espere pedido de desculpas, porque se ele fez, está feito, não tem retorno, não tem arrependimentos. Pode ser profundamente egoísta e quando negativo torna-se um vampiro sádico que se alimenta do viço daqueles com quem convive. Porque se ele é capaz de gestos grandiosos e compassivos, também pode ser terrivelmente mesquinho, de propósito, porque tem capacidade de ler onde a estocada vai doer mais, onde reside o ponto mais fraco do seu oponente e exatamente aí, dar o golpe final. Seu grande poder de veneno pode tanto curar quanto destruir e ele está ciente disso, mas a forma como age, é mais forte que ele mesmo, é a sua natureza.
Isso nos lembra aquela fábula do sapo e o escorpião e que nos dá uma boa ideia de como este signo funciona: Um sapo e um escorpião se encontraram às margens de um rio profundo. Ambos precisavam atravessá-lo, mas só o sapo sabia nadar. O escorpião se aproximou dele, e pediu carona nas costas para atravessar o rio. O sapo relutou dizendo: “Não sou doido, se o carregar nas costas, você vai me dar uma picada e eu ficaria paralisado e morreria”. O escorpião ponderou: “Eu é que seria doido se fizesse isso porque também morreria porque não sei nadar”. O sapo, pensou e admitiu que o escorpião tinha razão, era lógico o que ele estava afirmando. Então deixou que ele subisse nas suas costas e começaram a travessia do rio. No meio dessa travessia o escorpião picou o sapo. Este, surpreso, ainda não paralisado, mas já sentindo o efeito da picada, perguntou indignado: “Por que você fez isso se sabe que também vai morrer?”. O escorpião respondeu “Fiz isso porque é da minha natureza”.
Assim é o escorpião, é a sua natureza. Ele pode sabotar tanto a você quanto a ele mesmo porque o instinto destrutivo é forte, assim como a capacidade para subterfúgios, manipulação e corrupção. A diferença é que quando escorpião se torna corrupto, ele o faz sem desculpas, de caso pensado. Não é alguém que se deixa seduzir e finge que foi “corrompido”. Não. Ele se corrompe de forma decidida, seja porque gosta de flertar com o perigo, seja pela vontade de poder, ou porque decidiu que seria assim.
Sua capacidade de entrega ao que faz é tão intensa que o torna obsessivo, só sossegando quando chega à raiz das coisas, ao núcleo do problema ou da situação que ele está tentando esmiuçar, portanto, nem tente esconder algo de Escorpião, porque é questão de tempo até que ele desvende o mistério. Aliás, às vezes ele nem precisa se esforçar muito, porque as coisas que lhe interessam saber tendem a “cair no colo” dele, de alguma forma misteriosa. Ele é venenoso e tão letal quanto o ferrão do inseto que lhe emprestou o nome. Por isso, não brinque com ele se não tiver igual poder de fogo, ou melhor, de veneno!
Para entender tentar melhor sua psicologia, vamos explorar alguns de seus mitos e figuras emblemáticas.
O mito mais conhecido relacionado a Escorpião é o oitavo dos 12 trabalhos de Hércules, aquele em que ele precisa matar a Hidra de Lerna, um monstro que tinha corpo de cachorro e nove cabeças, uma delas imortal. Seu veneno era tão letal que destruía toda a vida ao seu redor. Ela habitava um pântano fedorento e obscuro e aterrorizava a região. Era quase impossível destruir o monstro porque quando se cortava uma cabeça, três outras nasciam no lugar. Primeiro ele teve que fazer o monstro sair da caverna escura em que se escondia atirando flechas de fogo, enquanto segurava a respiração para não respirar seu veneno. Mesmo assim, ele estava quase perdendo a batalha quando lembrou-se dos conselhos de seu mestre: “nós nos elevamos ajoelhando-nos, conquistamos nos rendendo e ganhamos, desistindo”. Assim, ele ajoelhou-se e levantou a hidra por uma de suas cabeças, tirando-a da água e elevando-a no ar, em direção ao sol. Afastada da água a hidra perdeu sua força e poder e encolheu de tamanho, permitindo que Hércules cortasse suas cabeças e as cauterizasse e cortasse, especialmente, a principal delas. No seu lugar surgiu uma joia preciosa que ele enterrou debaixo de uma rocha. Da mesma forma, Escorpião precisa trazer à luz da consciência os conteúdos virulentos e obscuros do inconsciente pessoal e às vezes, familiar e coletivo. Se ele não faz isso, essa energia inconsciente e putrefata o envenena, intoxicando também a tudo o que ele toca. quando decide enfrentar o monstro, o resultado é a joia preciosa da consciência e do domínio de mais uma parcela de si mesmo. (3)
Outro não menos importante é o mito de Medusa (novamente, os parágrafos em itálico são uma tradução livre e resumida do capítulo de Escorpião do Livro A Astrologia do Destino, de Liz Greene) (4). Havia três Górgonas chamadas Esteno, Euriale e Medusa, elas eram três belas irmãs. Uma noite Medusa se deitou com Poseidon no templo de Atena, que ficou ultrajada pela audácia de profanarem seu templo, transformando Medusa num monstro alado, de olhos petrificantes, dentes pontiagudos, língua saliente, garras agudas e serpentes no lugar de cabelos. Em outra versão do mito diz-se que na verdade Poseidon a violentou e que o olhar petrificante dela era na verdade o ultraje e o horror da experiência. Liz Greene diz que independente da versão “estamos de volta ao tema escorpiônico do estupro e da sexualidade ofendida. Eu diria também, a deusa resolve punir apenas o feminino, que representa, novamente, os instintos. Se a feiura de Medusa foi resultado de uma Atena ultrajada ou do espírito feminino ultrajado, eles são, de muitas formas, a mesma coisa, pois Atena, a deusa virgem que é a sabedoria de Zeus é uma imagem do julgamento contra o comportamento não civilizado. A face de Medusa é um retrato do ódio e raiva femininos e seu efeito sobre qualquer um que ocorra de olhar para ela é paralisia”.
A Perseu coube matar Medusa, do contrário sua própria mãe seria obrigada a casar-se com o Rei Polydectes. Aqui, diz Greene, “temos o motivo da redenção de uma figura feminina conquistando outra, sombria. Mas as duas, em essência, são a Mãe, a Mãe Sombria. E a mãe pessoal só poderá ser redimida se a arquetípica for confrontada”. Ela continua dizendo que é comum que no caso de um homem, a herança da raiva e amargura inconsciente da mãe macule sua própria alma interior, a imagem da sua anima, assim, ele carrega o ódio por ela. Portanto, é importante redimir não só a própria mãe, mas também a anima.
Para conseguir aniquilar Medusa Perseus recebeu conselhos e presentes de vários deuses: Atena lhe deu um escudo super polido e lhe advertiu para nunca olhar diretamente para ela. O escudo-espelho nos remete à ideia da capacidade de reflexão e de pensamento simbólico. Hermes lhe deu uma foice especial pra cortar-lhe a cabeça, uma par de sandálias aladas e uma sacola mágica para guardar a cabeça depois. Hades lhe deu um capacete de invisibilidade. Para conseguir tudo isso e descobrir o caminho para Medusa, ele teve que visitar as três Velhas Graiai, que dividiam entre si um único olho e um único dente. Outra versão das Moiras, ou seja, ele está nas mãos do Destino, e a tarefa é Deo Concedente, como diriam os alquimistas, ou seja, é da vontade do Deus. Seguindo estes conselhos e usando os objetos mágicos Perseus então matou Medusa.
Do corpo dela saiu Pegasus, que era o fruto da união de Medusa e Poseidon, mas por causa de seu ódio ela não tinha conseguido dar à luz. Assim Perseus libera não só a ele, mas a ela também. Pegasus era um cavalo alado, simbolizando uma criatura da terra que tem o poder de ascender às alturas celestiais. A cabeça de Medusa, Perseus guardou na sacola mágica pra usar depois contra seus inimigos.
Greene diz que tanto Medusa quando a Hidra simbolizam a mesma coisa, a destrutividade com a qual Escorpião tem que lidar. Ela só pode ser decapitada pelo poder da reflexão pois se se olhar diretamente para ela, ou para a própria sombra e escuridão, fica-se petrificado, que é quando se chega aos estados psicóticos. “A luta com o dragão ou com o monstro é outro motivo universal nos mitos e é particularmente relevante para Escorpião, que deve confrontar em talvez maior profundidade essa face reptiliana da vida instintiva com seu poder destrutivo e terrificante”, afirma Greene.
No capítulo sobre Escorpião Liz Greene lembra ainda a estória de Fausto, um mito recontado magistralmente por Goethe, que tinha, ele mesmo, Escorpião no Ascendente. Fausto era um médico comum e obscuro, que tinha anseios de prestigio e sede de poder, riqueza e reconhecimento. Fausto faz um pacto de sangue com Mefistófeles: em troca de seus desejos de poder mundano, Mefistófeles terá sua alma. E ele segue conquistando e conseguindo tudo o que ambicionava. Mas o tempo vai passando. Goethe foca no egoísmo de Fausto, que é a porta de entrada para Mefistófeles, o espírito da negação, aquele que murcha toda a inocência. Ocorre que Fausto negou a Deus, desprezando-o. Essa atitude do cinismo e da negação da vida é um dos males que Escorpião tem que combater dentro de si mesmo. Às vezes, nem ele mesmo percebe ou está consciente dessa negatividade destrutiva da vida. “É como uma apatia, um tipo de depressão, uma convicção de que, em ultima análise, nada vai funcionar; e geralmente se origina do desespero da infância e da sensibilidade peculiar ao lado sombrio da psique que Escorpião possui desde muito jovem”. A barganha de Fausto com Mefistófeles é a de que ele poderá levar sua alma se ele tentar, em qualquer momento, parar a vida e agarrar-se ao momento presente ao invés de permitir a mudança e o fluxo da vida. Isso tem a ver com a fixidez de Escorpião, que geralmente tenta possuir algo bonito e prazeroso ao invés de deixar a vida fluir. Daí nasce realmente a possessividade e o ciúme de Escorpião.
Greene continua: “no fim do poema Fausto quase pronuncia as palavras fatais, mas seu espírito inquieto o salva e embora ele tenha sujado suas mãos e se corrompido, este é um aspecto necessário de sua busca não apenas por poder, mas pela iluminação e pelo amor. Portanto, ele é perdoado”. Ela diz que este negócio entre Fausto e Mefistófeles é um retrato vívido do conflito intrínseco a Escorpião, que, a despeito de sua suscetibilidade ao orgulho e ao egoísmo, seu cinismo e sede de poder, ainda assim, ele não para de aspirar à experiência do Amor, que é a sua redenção.
A sombra deve ser confrontada pelo espírito humano e é em Escorpião que essa batalha se dá de forma mais fatídica e decisiva. Escorpião, ao olhar e lidar com todos estes materiais sombrias, em si mesmo e no coletivo, redime não só a si e à sua anima, mas traz à tona conteúdos ancestrais que precisam ser purgados e purificados, para que uma transmutação possa ocorrer. Em algumas situações, talvez ele se corrompa no processo, mas o pecado maior de todos é o cinismo e o ódio à vida, assim como o ódio a si mesmo. Ele tem que aprender a viver com essas imagens monstruosas, não só dentro de si, mas aonde quer que vá. A contradição maior é que suas sublimes aspirações de amor, que podem levar a esse ódio da vida, e sua poderosa sensualidade são complicados de se conciliar. Mas se originam do mesmo núcleo misterioso, metade sexualidade e metade espiritualidade; é uma combinação de eroticismo espiritualizado ou espiritualidade erotizada, mas que não é fácil de ser vivenciada e que normalmente Escorpião reprime uma para vivenciar a outra.
A Casa oito, a casa natural de Escorpião é a casa do sexo no horóscopo, assim como é a casa da morte e das investigações metafísicas. Parece contraditório, mas não é. Porque no sexo, quando há entrega total, o que se busca é eliminar a separatividade através da fusão completa e voltar à unidade com Deus, eliminar a sensação da solidão e do vazio; e no orgasmo, já diziam os franceses, ocorre uma “pequena morte”, porque por frações de segundos, o ego deixa de existir e alça alturas só possíveis no êxtase, seja sexual ou religioso. Se Escorpião for capaz de olhar para si mesmo – ele analisa a todo mundo, menos a si próprio, sendo este um dos seus piores pecados – com honestidade sem se perder no cinismo e no desespero, ele pode achar caminhos dignos e luminosos de conciliar sua busca pelo sublime, pelo amor e sua sensualidade poderosa e transformadora.
Figuras e motivos arquetípicos
O Alquimista; O Curador Potente; O Cirurgião ; O Psiquiatra; O Assassino; O Mago Negro; O Sobrevivente; O Lobo solitário; Metamorfoses dramáticas; O Reciclador; O Vampiro; O Investigador; O Sabotador
A sombra de Escorpião é algo complicado de se falar, sendo ele um signo já bastante sombrio. Mas obviamente tem a ver com Touro, seu oposto complementar. Como diz Frank Clifford, “o maior de todos os mistérios é ele mesmo. Ele evita a auto-análise, recusando-se patologicamente a questionar suas motivações subjacentes. Ao contrário, ele permanece na zona de conforto, livre dos riscos e da imaginação, focando somente no físico e no sexual, adquirindo posses e acumulando riquezas. Com medo da sua própria co-dependência e dos impulsos que espreitam abaixo da superfície. O Escorpião vampiresco é desdenhoso das fraquezas alheias e usa intimidação para controlar e manipular os outros”.
Sobre a sombra de Escorpião Liz Greene (6) lembra que uma das coisas que ele não consegue ver é o quanto suas intensas reações emocionais são governadas pelas suas opiniões – não, nem tudo é tão instintivo assim! Da mesma forma que os signos de Ar são muito inconscientes dos próprios processos emocionais, assim também os signos de Água são muito inconscientes dos seus processos mentais e racionais. Desta forma, Greene afirma que “um dos seus maiores pontos cegos é o fanatismo em suas opiniões sobre pessoas e sobre a própria vida. E este fanatismo pode, no lugar errado e na hora errada, incitá-lo a algumas atitudes bem desagradáveis baseadas julgamentos tendenciosos ou distorcidos”. Ela menciona, por exemplo, que mulheres de Escorpião, depois de terem tido experiências amorosas ruins tendem a cristalização de opiniões, a rotulações e generalizações do tipo “todos os homens são iguais/infiéis” ou “nenhum homem é digno de confiança”, no que ela chama de Síndrome de Otelo. O ciúme e possessividade de Escorpião vão muito, muito além do ciúme do ser humano comum: chega à paranoia ou ao ciúme patológico que envenena e destrói relações e, em última instância, impede mesmo que o indivíduo desenvolva as parcerias frutíferas pelas quais tanto anseia. Sua enorme negatividade sobre a vida e as pessoas, essa negatividade que colore tudo de negro e descortina apenas cenários áridos e sombrios é uma das partes principais de sua sombra.
O problema, diz Greene, é que Escorpião nunca dá o benefício da dúvida a ninguém. Ele simplesmente decide que você errou, ou o traiu, ou “aprontou” para cima dele e o veredicto é dado. E jamais lhe dará oportunidade de se retratar, muito menos confiará de novo. Nem por um segundo cogita que pode estar errado em suas suspeitas e conjecturas, porque ele viu tanto da podridão humana que não consegue mais confiar em ninguém. Mas é preciso aprender a confiar, mesmo que em algum momento se seja magoado novamente. A vingança, dependendo da situação, pode ser até algo saudável, diz Greene, melhor do que bancar a alma boa que perdoa tudo, enquanto ferve de ódio por dentro e recorre a manobras indiretas de se vingar sem parecer que se vingou – algo com que Bert Hellinger concorda, uma vez que recomenda que se dê “o troco” em nome do equilíbrio nas relações laterais, numa conta que em que se deve devolver as coisas boas em dobro e devolver as coisas ruins pela metade. Mas no caso de Escorpião, ele quer se vingar sempre, e da forma mais dolorosa e terrível possível. Assim não dá para se viver, para se amar ninguém… Assim não dá para ser feliz! Então, Escorpião precisa aprender que amar e viver dói; que a gente tropeça e se machuca aqui e acolá; que as pessoas se ferem mutuamente e na maior parte das vezes isso não é intencional; e nem por isso se tem que sair destruindo a tudo e a todos por uma vingança que só irá nos deixar mais vazios e amargos. Então, Escorpião, vamos dar o benefício da dúvida de vez em quando? Por mais que seus instintos estejam certos na maior parte das vezes, em outras tantas ele pode ficar ofuscado pela sua paranoia. Lembre-se disso!
Meditação de Escorpião
Esta meditação é tirada do oráculo do Osho: fique sentada(o), braços apoiados nas pernas com as palmas das mãos viradas para baixo, feche os olhos, respire calmamente algumas vezes e pense na intenção deste exercício. A intenção é DEIXANDO IR (aquilo que você precisa se libertar – pensamentos, pessoas, objetos, situações).
E agora veja, sinta ou faça de conta que tem aprisionada em suas mãos a imagem daquilo a que está apegado. Respire uma vez e solte, desprenda, desapegue-se disso, vendo ou fazendo de conta que vê esta imagem se diluir, se desfazer, desaparecer nas profundas águas do Universo. Olhe então para as palmas das suas mãos e imagine uma miríade de pontos de luz com milhões de novas possibilidades para você e sua vida. Então, sentindo-se completamente livre, respire e abra os olhos. Se quiser, escreva ou faça alguma arte – ou apenas medite e guarde para você, como faria Escorpião.
Música para Escorpião
https://www.youtube.com/watch?v=XTSrV_0vG-4
https://www.youtube.com/watch?v=Wb0Jmy-JYbA
https://www.youtube.com/watch?v=u6d8eKvegLI
https://www.youtube.com/watch?v=lOzqg1Z8rTU
Fontes consultadas
(1) Edna Andrade, em Festas Cristãs
(2) Sue Tompkins – the Astrologer’s Handbook
(3) Howard Sasportas – As 12 Casas
(4) Liz Greene – A Astrologia do Destino
(5) Frank Clifford – Getting to the Heart of your Chart
(6) Liz Greene – Astrology for Lovers