Lua Nova em Escorpião – Renascendo das Cinzas

A Lua Nova deste domingo (30 de outubro, 15h38min no horário de Brasília e 17h38min no horário de Lisboa) convida a uma introspecção profunda e visceral. Uma introspecção que permita a regeneração e o refazimento da alma, que passou por tantos embates nas últimas semanas. É uma Lua Nova super potente, não só porque ocorre em Escorpião, mas também porque acontece às vésperas do Halloween, a noite de Todos os Santos e de todas as almas, modernamente chamado de Dia das Bruxas – não, não é uma invenção americana! É um tempo em que portais são mantidos abertos por um número de horas e muitas revelações podem emergir do inconsciente. Entenda a origem e a importância do Halloweeen.

Esse é um ciclo de morte e eliminação, mas também de cura, regeneração e renascimento; que expõe nossas feridas mais pungentes, não para que soframos mais ainda, mas para que possamos saná-las e curá-las, transmutando a energia densa do sofrimento e da dor, no bálsamo da redenção, da cura e da liberação – liberação de si mesmo e da vida que estava estagnada. É o ciclo da transformação.

Lua Nova em Escorpião - Brasília, 30 de outubro, 14h38min
Lua Nova em Escorpião – Brasília, 30 de outubro, 14h38min

Depois de um ciclo Libriano cheio de percalços e nada harmonioso, um ciclo explosivo na área das relações, o ciclo de Escorpião vem permitir a salutar digestão emocional de todas as mudanças drásticas das últimas semanas – é hora de renascer das cinzas! A Lua se renova a 07°43’ de Escorpião, em conjunção a Mercúrio, sugerindo que muitas revelações importantes continuam a vir à tona, algumas nos surpreendendo grandemente, outras apenas confirmando o que nossa intuição já sabia. A Lua também está em trígono a Netuno, indicando um ciclo de grande sensibilidade e compaixão. Estes são os únicos aspectos que Lua e Sol fazem, mas que estão muito próximos da plenitude. Além disso, no mapa levantado para Brasília, Quíron está bastante proeminente, conjunto ao Ascendente, sugerindo um ciclo de se identificar feridas antigas e de se proceder com o tratamento e a cura.

Innana-Ereshkigal - Escultura Sumeriana - Museu Britânico - Reprodução
Innana-Ereshkigal – Escultura Sumeriana – Museu Britânico – Reprodução de Wikimedia Commons: By Aiwok – Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=13825280

Uma Lua tão introvertida me lembra o mito sumeriano de Innana e Ereshkigal: no mito sumeriano A Descida da Deusa, Inanna, a Rainha dos Céus, tem que descer ao inferno para visitar a irmã Ereshkigal, a Deusa do Mundo Inferior. Innana tem que passar pelos sete portões que levam ao mundo inferior e em cada um deles despoja-se de algo que a identifica como deusa do Mundo Superior: vestes reais, roupas, jóias, cetro, coroa, até ficar completamente nua. Então ao chegar lá a irmã a mata e pendura num gancho de açougue para apodrecer. A linda e exuberante rainha dos céus é largada no submundo, pendurada como um pedaço de carne morta assistindo à própria putrefação. É mais ou menos como nos sentimos atualmente, depois do fechamento do último ciclo cheio de crises e rupturas e depois de todos os embates deste ano: uma sensação de impotência, um luto que precisa ser vivido por tudo o que morreu e deixou de existir, uma confrontação da própria tristeza e humores sombrios.

Innana e o leão, um de seus animais-símbolo - Reprodução
Innana e o leão, um de seus animais-símbolo – Reprodução de Wikimedia Commons

Assim como Innana, deusa dos céus luminosos, deusa da beleza e do amor – uma Afrodite arcaica, que bem representa o signo de Libra – nós também precisamos nos desvestir de nosso lado mais luminoso, de tudo aquilo que nos identifica como pessoas civilizadas e sociáveis, belas e virtuosas, para adentrar as profundezas abissais do nosso próprio Mundo Inferior e lá confrontar nosso abismo pessoal, o fracasso, a dor, a impotência, o desespero, a tristeza, o luto, o nada, o vazio. E lá permanecer o tempo necessário para que esse luto assente, para que lhe demos seu lugar de direito – porque se não enfrentamos a dor e o luto na hora certa, eles voltarão mais tarde mais potentes e amedrontadores para nos assombrar.

Ereshkigal é a contraparte sombria de Innana e precisamos não só reconhecê-la, mas dar-lhe seu devido valor, seu lugar de direito na vida e na psique. No mito, Innana fica três dias pendurada apodrecendo no Mundo Inferior. Mas ela não era tão tola e ingênua assim… Ela tinha deixado ordens expressas lá em cima, para o caso de algo dar errado, pois sabia que estava adentrando um lugar perigoso e sombrio – ela sabia a fama da sua irmã – seu lado sombrio. Seu avô engendrou, a partir da sujeira que carregava debaixo das próprias unhas, duas pequenas criaturas andróginas que tinham a função de carpideiras, de pranteadores. Escorregando pelo Mundo Inferior sem ser notados, eles se aproximaram de Ereshkigal, que sofria muito pela morte do seu marido e também porque estava grávida e teria um parto difícil pela frente. Como diz Sasportas ao contar este mito, “algo morreu, mas algo está nascendo”. As criaturas carpideiras chegaram junto de Innana e começaram a chorar junto com ela, a ouvir-lhe e dar-lhe razão, a dizer-lhe que “sim, sua dor era horrenda; sua condição era terrível, que ela tinha razão de estar zangada e enlutada”. Ao ser ouvida, aceita e não julgada, Ereshkigal finalmente se acalma e dá a eles aquilo que eles lhe pedem: que Innana volte à vida e seja liberada para voltar ao Mundo Superior. Agradecida, Ereshkigal consente e faz Innana reviver e ela pode, finalmente, voltar ao Mundo Superior. Mas ela não é mais a mesma deusa que empreendeu a terrível descida. Não. Ela retorna completamente transformada, mais madura e ciente dos seus próprios mistérios e escuridão – afinal, a luz é o par da escuridão, assim como Ereshkigal é o outro lado de Innana. Innana é a luz e a beleza e Ereshkigal é a sombra e o terror da vida. Ambas se refletem porque são metades da mesma unidade.

Assim como as carpideiras, precisamos também reconhecer que nossa raiva e a tristeza são legítimas, só assim eles poderão ser acalmados. Da mesma maneira, depois de termos descido às profundezas do nosso próprio inferno pessoal, tivemos um período de assimilação e agora estamos prontos a renascer, transformados, renovados, mais sábios e experientes. Como a Fênix ou como a Serpente, estamos prontos a começar uma nova fase – mas isso, somente se já tivermos empreendido o confronto da nossa própria dor e sombra, da nossa destrutividade. Só podemos transformar e transmutar aquilo que aceitamos e algo que precisamos aceitar é a presença de Ereshkigal em nós e na vida. “Só aceitando Ereshkigal-Plutão como parte da vida permite que a mágica da cura funcione” (Howard Sasportas).

Assim, o ciclo que ora se inicia convida a purgar os venenos, as tristezas, o luto, as perdas, os rancores e a nos render à compaixão, para conosco mesmos e também para com o outro. Quíron pode representar uma dor excruciante, mas também a opção pela aceitação e pela cura consequente.

Os dois dispositores da Lua Nova, Marte e Plutão, estão em Capricórnio, tendo feito conjunção há poucos dias. Isso sugere que sejamos bastante pragmáticos na condução desse ciclo. Profundos, sensíveis, compassivos sim, mas também resilientes e realistas.

Confirmando esse tema da necessidade de introspecção, o Símbolo Sabiano do grau 8 (07°00’ – 07°59’) de Escorpião coloca a imagem seguinte: “Um lago tranquilo banhado pela luz da Lua”. De acordo com Lynda Hill, astróloga australiana estudiosa dos Símbolos Sabianos, esse símbolo fala da capacidade ou necessidade de reflexão. O lago reflete a Lua como se fosse um espelho. Ela questiona: “o que há em nossa situação presente que carece de mais reflexão? Há a necessidade de olhar mais profundamente, para dentro de nós mesmos ou do outro? Ou será que as coisas estão sendo avaliadas de um ponto de vista muito superficial, em que as coisas são meramente um reflexo de alguém ou de algo mais? É bom lembrar que águas paradas costumam ser profundas e que muitas coisas podem não ser o que parecem à primeira vista”. Assim, é momento de olhar mais de perto, mais profundamente para todas as nossas questões, dores e crises recentes, para talvez avaliá-las com mais acuracidade e retidão.

Dane Rudhyar, analisando este mesmo símbolo, traz uma outra visão, que também vale a pena explorar: “poder-se-ia enfatizar a sugestão romântica que tal imagem evoca, mas mesmo em nível do relacionamento amoroso, o que está implícito é a rendição de dois egos pessoais à inspiração dos sentimentos transcendentes que são essencialmente impessoais. O amor se expressa através dos amantes, pois amor real é um poder ou um princípio indiferenciado cósmico, que simplesmente se concentra a si mesmo nas almas de seres humanos que refletem sua luz. O mesmo é verdadeiro quando se trata do amor do místico por Deus. O homem luta arduamente para realizar grandes coisas através de aventuras ousadas, mas uma hora chega em que a única coisa que realmente importa é apresentar uma mente calma sobre a qual uma luz celestial possa ser refletida”. Dessa forma, creio que a interpretação de Rudhyar também se relaciona, indiretamente, com o mito de Innana e Ereshkigal, porque mesmo Innana, Rainha dos Céus, precisou se submeter a esse poder transcendente, a rendição de sua identidade celestial, do seu ego pessoal, a algo que era maior do que ela mesma.

E sim, como disse Rudhyar, podemos evocar aqui o romantismo inferido pela imagem ancestral da Lua refletida num lago. Sendo Escorpião um signo de Água, as águas profundas e paradas – como as águas de um lago – e estando essa Lua em trígono tão próximo a Netuno, não podemos deixar de evocar essa outra dimensão, mais mundana mas não menos importante deste mapa: de fato, essa é uma Lua Nova muito romântica. Não o romantismo piegas e açucarado dos romances best-seller – Marte e Plutão no signo da Cabra jamais permitiriam isso, muito menos Vênus conjunta a Saturno! – mas o romantismo verdadeiro e profundo, daqueles que enxergam o outro verdadeiramente, no mais fundo de sua natureza, cheia de idiossincrasias e defeitos, cheia de imperfeições, como só Escorpião é capaz de enxergar e, ainda assim, aceita, por saber que é da natureza do humano ser imperfeito. Um romantismo que nos faz querer nos comprometer, querer nos transformar e ser melhores, para nós mesmos e para o outro e que, ao invés de julgar, tem compaixão pela falibilidade desse outro, porque sabemos que é a mesma que carregamos em nós. E, como bem disse Rudhyar, o romantismo que deixa implícito a rendição do ego pessoal a algo maior: o Amor, a eterna busca do Escorpião, a busca permanente do humano que caminha pela Terra.

Em termos mais gerais, o ciclo de Escorpião representa um momento, na jornada astrológica, em que precisamos eliminar as peles e couraças velhas e rotas, que não nos servem mais; o momento de confronto com nossa sombra pessoal e com a sombra coletiva; um momento de purgação e depuração dos conteúdos tóxicos da nossa alma; um momento de morte e decomposição, assim como de cura, regeneração e renascimento. Assim, precisamos identificar em que áreas de nossa vida (aquelas áreas representadas pela casa em que temos Escorpião no mapa natal) precisamos morrer, nos decompor, para nos regenerar e renascer. Portanto, aproveite e faça sua própria RE-flexão e eliminação e a subsequente renovação das intenções, ou o lançamento de intenções completamente novas para o novo ciclo, de acordo com a casa em que a Lua Nova cai no seu mapa.

OBS: O ciclo de Escorpião culminará na Lua Cheia de Touro, uma Super Lua que é a mais brilhante e mais próxima da Terra em cem anos. Astrologicamente a Super Lua não tem grandes implicações, exceto que, por estar no ponto mais próximo da Terra, o perigeu, sua influência é sentida mais poderosamente, aumentando a intensidade da lunação. A Lua será Cheia em touro no dia 14 de novembro, às 11h52min no horário de Brasília.

Feliz Lua Nova para você!

mariaeunicesousa

Maria Eunice Sousa é astróloga de orientação psicológica, formada pelo Centro de Astrologia Psicológica de Londres, fundado e dirigido por Liz Greene. Mora em Cuiabá, onde atende com Astrologia, trabalhando também como tradutora e intérprete (Inglês-Português). Além de Mapa Natal e Revolução Solar, também atende com Astrocartografia e Espaço Local (formada pelo Kepler College), Mapa Infantil, Mapa de Relacionamento e Mapa Vocacional.

20 thoughts on “Lua Nova em Escorpião – Renascendo das Cinzas

  • 30 de outubro de 2016 em 07:37
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    Estou no gancho assim como vejo espero retornar . gratidao por citar este mito q ficou tao claro pra mim.

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    • 31 de outubro de 2016 em 09:33
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      Sim, Elaine, essa posição é muito desconfortável, mas precisamos aguentar a ansiedade. É um movimento necessário em alguns momentos da vida! Que seu renascimento seja igualmente poderoso! tudo de bom! 🙂

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  • 30 de outubro de 2016 em 21:48
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    Gratidão por tocar minha alma tão profundamente.

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  • 31 de outubro de 2016 em 10:19
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    me ajudou muito o seu texto.
    eu gostaria de fazer essa reflexão com meu mapa astral mas preciso de uma ajuda.
    tenho escorpião no meu ascendente e na minha lua. como direciono meu olhar?

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    • 9 de novembro de 2016 em 12:03
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      Para você o processo é vivenciado mais intensamente, o olhar é para você mesmo, para o que ocorre dentro. Não é nada lá fora, é muito pessoal. Veja onde há necessidade de transformação nas atitudes pessoais, posturas, formas de ver a vida… Na forma como lida com seu emocional, seus sentimentos, as mulheres com quem se relaciona, seu corpo e instintos, sua necessidade de segurança e conforto… Espero ter ajudado!
      Bem vinda ao blogue!

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  • 31 de outubro de 2016 em 13:28
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    Gratidão por compartilhar! Não sei se por acaso, mas ontem senti forte vontade de plantar, mexer com a terra.. já ouvi dizer que a lua nova é boa para isso. Tempos de plantar, renovar.

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    • 9 de novembro de 2016 em 12:01
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      Sim, ótimo para isso! Você estava bem alinhada com as energias!
      Grata pelo feedback! Bem vinda ao blogue! 🙂

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  • 1 de novembro de 2016 em 13:43
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    Adorei. Obrigada por partilhar conhecimento.

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    • 9 de novembro de 2016 em 12:00
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      Grata a você também pelo feedback, Elizabeth!
      Bem vinda ao blogue! Volte sempre!
      🙂

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  • 1 de novembro de 2016 em 19:35
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    maria eunice querida! que coisa linda, que primor de texto! me tocou mesmo e fiquei querendo te conhecer, saber do seu trabalho etc, pode ser? como? gde abraço e meu carinho por esta inteligência amorosa! maria

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    • 9 de novembro de 2016 em 11:59
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      Olá Maria do Socorro!
      Bem vinda ao blogue! Sim, podemos manter contato! Eu moro em Cuiabá e caso você more em outra cidade, ainda podemos trocar e-mails e ideias! você pode me contactar neste endereço: psicologica.astrologia@gmail.com
      vou aguardar! 😀

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  • 1 de novembro de 2016 em 22:44
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    Era exatamente o que eu precisava ler! Muito obrigada! Simplesmente perfeito para o momento!

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  • 2 de novembro de 2016 em 16:55
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    Gratidão!Estou impressionada e vou buscar” entrar dentro de mim”, para cada vez mais viver esta introspecção!Sempre adorei a lua,ainda mais a cheia!😉

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  • 7 de novembro de 2016 em 07:28
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    Olá! sua análise do momento, como sempre, perfeita! Fiquei tres dias, 31/10, 1 e 2/11 nesse gancho q vc falou. Agora estou renascendo. Não é tão exato assim. Parece q as coisas meio q se sobrepõem, mas estou sentindo já essa sensação de libertação, trabalhando com ela, depois de um ano realmente de muuuita luta. Agradeço a você imensamente por esse trabalho tão lindo e por sua generosidade em compartilhar seu conhecimento. Tem ajudado muito poder chegar aqui, ler e refletir, enxergando todo o sentido q isso faz em minha vida. Obrigada por trazer essa luz. Grande abraço! Virgínia

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    • 9 de novembro de 2016 em 11:57
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      Não, não é exato! Mas a gente precisa confiar no processo!
      Obrigada pelo seu feedback sincero!
      Abraço de luz para você também, querida! 🙂

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