Lua Cheia em Libra – Da desordem e do caos
O ciclo Ariano iniciado no dia 27 de março tem seu apogeu na Lua Cheia de Libra, que ocorre na madrugada desta terça-feira, dia 11, às 03h08min no horário de Brasília – 07h08min no horário de Lisboa. O eixo Áries-Libra tem como temas básicos os relacionamentos, como o EU se encontra e se relaciona com o OUTRO. Enquanto Áries concentra-se em si mesmo e na sua vontade pessoal, Libra trata da alteridade e propõe equilíbrio, que o EU encontre maneiras de incluir o outro e, talvez até de tornar-se um NÓS.
A Lua atinge seu apogeu no grau 21°32’, em conjunção a Júpiter, quadratura próxima a Plutão e oposição, também próxima e aplicativa, a Urano, formando uma T-Square Cardinal explosiva, da qual Plutão, planeta das transformações profundas, é o foco. A Lua ainda faz quincúncio a Marte em Touro. Só por essas configurações, já poderíamos antever que é uma lunação explosiva, catártica, de liberação de muitas energias densas e liberação de entraves. A Lua em Libra vem fazer o contraponto à forte energia individualista do Sol em Áries, que ganha o reforço de Urano, que tem um destaque especial nessa lunação, porque logo receberá a conjunção do Sol.
Essa ênfase que Urano recebe, sugere que prestemos atenção à nossa intuição, que busquemos fazer diferente e inovar nas relações. Libra é um signo que busca e prima pelo que é socialmente aceitável, assim como Capricórnio, por razões diferentes – Capricórnio quer poder, Libra quer ser aceito e não é à toa que Saturno, regente de Capricórnio, está exaltado em Libra! Mas a oposição Lua-Urano lembra que precisamos agregar o novo, o diferente, quebrar as regras de vez em quando, infringir um pouco a tradição e sair dos convencionalismos. Porque se não escutamos Urano e insistimos no excesso de convencionalismo e no que é esperado de nós, podemos ser atingidos por um raio, levar um choque ou ter que lidar com situações muito estressantes e que fogem totalmente do nosso controle.
Sempre que nos excedemos num princípio, invocamos o princípio oposto, para trazer o equilíbrio, mas se estamos inconscientes, esse princípio se manifestará de maneira estressante e talvez destrutiva. Excesso de Saturno (regras, estrutura, tradição, convenções, realismo, responsabilidade) invoca a ação de Urano (rebeldia, inovação, liberdade, progresso) ou de Netuno (sonho, fantasia, escapismo, dissolução, caos) ou ainda de Júpiter (falta de limites, irresponsabilidade, crescimento desenfreado, exagero). Plutão tem algumas similaridades com Saturno, porque ambos gostam de poder e controle, mas Plutão também pode funcionar no sentido de nos tirar o poder e o controle e assim, pode esmagar Saturno. E o reverso também é verdadeiro… Excessos desses planetas mencionados, podem invocar a ira e o relho de Saturno, que é o oposto psicológico de qualquer outro planeta ou luminar.
Então, Libra, sendo a exaltação de Saturno, vai sempre primar pela ordem, pela convenção, pela civilidade. Mas nesta Lua Cheia, Libra precisa integrar um pouco de rebeldia e, principalmente, ser capaz de se afirmar e ser um pouco mais independente, de não esperar sempre pela opinião do outro, nem estar tão disposto a corresponder às expectativas alheias. Urano urge que sejamos mais originais, mais livres e menos dependentes; que sejamos mais nós mesmos e vivamos menos em função do outro; que quebremos um pouco a regra do “aceitável” e atrevamo-nos a ser diferentes, a fugir um pouco da norma. Dentro das relações, isso implica preservar a própria individualidade e não se anular ou se perder no outro, agir com verdade e honestidade consigo próprio e também com o outro. É isso ou Urano será invocado de forma destrutiva e poderá trazer surpresas desagradáveis, rupturas abruptas, desconcertantes e possivelmente, definitivas.
Júpiter, com quem a Lua está conjunta, já coloca fortemente o tema da liberdade, a necessidade de crescermos juntos, dentro das relações, mas de preservarmos nossa liberdade e independência de crenças e valores. Júpiter também é líder de uma formação chamada Locomotiva neste mapa, o que faz com que tenhamos uma coloração fortemente Jupiteriana aqui. Júpiter era Zeus na mitologia grega e ele era um deus que primava pela liberdade, assim como legislava sobre o Olimpo e sobre os humanos. Zeus era casado com Hera, com quem vivia às turras, exatamente porque ela significava o princípio do compromisso. E ainda temos Plutão nessa configuração, que adiciona intensidade e profundidade a esses temas, além de exigir que transformemos a maneira como vivemos nossas relações, que sejamos mais autênticos e honestos em todos os nossos “negócios”. Plutão é um planeta impessoal, assim como Urano e esses planetas não “se importam” muito com o indivíduo, simbolizam princípios implacáveis da psique, forças que irão se manifestar e agir dentro ou fora de nós, de um jeito ou de outro. Se estamos abertos e promovemos as alterações voluntariamente, ótimo! Do contrário, vai à revelia mesmo. Queiramos ou não.
Então, a exemplo da Lua Nova de Áries, a Lua Cheia de Libra também traz para a linha de frente a necessidade de discutirmos as relações, como se já não estivéssemos fazendo isso há um bom tempo. A Lua Nova ocorreu exatamente em conjunção a Vênus retrógrada, que ainda estava no início de Áries, destacando esse tema das relações e da retrogradação de Vênus, além dos temas de autoestima e dos nossos valores. Agora, novamente a ênfase recai sobre esses temas, porque, além de Libra ser o signo do relacionamento, Vênus é a regente da Lua em Libra. Como sabemos, Vênus continua retrógrada. Nesta semana, está particularmente sensibilizada, porque está em Peixes, conjunta a Quíron e em quadratura quase exata a Saturno em Sagitário. Em três dias Vênus estacionará, para voltar ao movimento direto no dia seguinte. Ou seja, Vênus também está ultra destacada nesta lunação. E sugere que além de vivermos as relações de forma menos dependente e mais assertiva, como sugeria na Lua Nova de Áries, que também nos responsabilizemos pela realidade relacional que criamos na nossa vida. Vênus está conjunta a Quíron, indicando um aumento da vulnerabilidade da já etérea Vênus Pisciana; mas essa conjunção também indica a propensão a associarmos relações com sofrimento, a nos atrairmos por pessoas complicadas, que precisam ser “resgatadas” e nós lá vamos, tentar salvar o outro, sem nem perguntar se ele quer ser salvo. E depois reclamamos que somos infelizes e que fomos enganados – na verdade, nós nos enganamos a nós mesmos. Mas Vênus também está em quadratura a Saturno, que demanda que nos responsabilizemos por esses padrões nos quais nos emaranhamos; que sejamos realistas quanto ao idealismo excessivo com que olhamos os outros e também a dificuldade de enxergar a nós mesmos, como realmente somos; Saturno também sugere que precisamos encarar o quanto talvez sejamos emocionalmente exigentes e famintos de afeto, sempre cobrando ou criando expectativas altas demais, esperando ser preenchidos pelo outro e quando isso não acontece, nos sentindo rejeitados e incompreendidos.
Vênus, nessa configuração com Quíron e Saturno, pede que tenhamos empatia e compaixão por nós mesmos, antes de termos pelos outros; que nos responsabilizemos pela nossa história, mas que nos des-identifiquemos dos padrões repetitivos de sofrimento; que lidemos com nossas feridas e abandono infantis, para não implodir futuras relações, ao ficar sempre defensivos, fechados, frios, acabando por provocar as reações que tanto temíamos: rejeição e abandono. E quando compreendemos tudo isso e aceitamos, podemos talvez modificar nossos parâmetros e referências e então, não precisaremos mais rimar amor com dor – existem rimas mais ricas e belas às quais podemos recorrer e até aceitar que há poemas em que as rimas não precisam ser exatas ou perfeitas – alô Urano! E Vênus conjunta a Quíron também indica que devemos incluir e aceitar o lado mais melindroso, defeituoso, trôpego, incompleto, tanto em nós mesmos quanto no outro. Vênus em Peixes busca a perfeição, mas Quíron vem lembrar que isso não existe, que somos todos limitados e capengas de alguma forma. E Saturno diz a mesma coisa, de outro jeito: aqui é a dimensão do real, aqui, nada é perfeito. E lide com isso!
Outra coisa interessante é que a Lua também se opõe a Éris neste mapa e Eris é o Ponto Médio entre Urano e o Sol e faz quadratura ao Ponto Médio entre a Lua e Urano – Urano está em conjunção a Eris já há bastante tempo, visto que o ciclo de Eris é muito longo e este asteroide demora décadas num mesmo signo. Éris é a Deusa da Discórdia e do Caos. Isso me lembra um dos mitos mais associados a Libra: o mito de Paris e Helena, que causaram a Guerra de Troia. Mas na verdade, a história começou bem antes. A história começa exatamente com Éris. Os deuses resolveram dar um banquete no Olimpo e todos os deuses e deusas foram convidados, menos Éris, por razões óbvias, porque ninguém queria trazer a discórdia para a festa. Mas ela ficou sabendo e, discordante como era, não se fez de rogada e foi mesmo assim – ela não se importava muito com civilidades e em ser aceita, queria mesmo era “causar”. Entrou de supetão – tem um quê de Urano – e atirou no meio da mesa uma maçã de ouro, com os dizeres: “Para a mais bela de todas as deusas”. E foi embora, algo que também me lembra a Malévola, de a Bela Adormecida. Claro que todas as deusas queriam ganhar a maçã, e a briga ficou entre Hera, Athena e Afrodite, mas nenhum deus era idiota para fazer essa escolha. Então Zeus foi buscar um pastor simples, que tranquilamente pastoreava suas ovelhas no Monte Ida. Quem era esse pastor? Paris, que havia sido desterrado pelo seu pai, o rei Príamo, de Troia, por causa de uma profecia feita antes de Paris nascer, que dizia que ele causaria a destruição do reino. Paris foi convocado por Zeus para fazer a escolha entre as deusas. Ele, como bom Libriano, deu como sugestão dividir a maçã em partes iguais, assim todas ficariam satisfeitas. Apesar do seu charme, a sugestão não foi aceita e ele teve que escolher. Resumindo, ele escolheu Afrodite, porque ela lhe ofereceu Helena, a mulher mais bela do mundo – o fato de Helena já ser casada, era um mero detalhe para Afrodite. Ao escolhê-la, Paris incorreu na ira das outras duas que disputavam o prêmio: Hera e Athena. Resumindo muito: Paris e Helena se apaixonaram e Paris roubou Helena de Menelau, e por causa disso, os gregos entraram em guerra com Troia, que de fato foi destruída, depois de uma guerra de dez anos. E como tudo isso começou? Começou com os deuses excluindo Eris, a discórdia – comportamento típico de Libra, que odeia desagradar e causar discórdias, estando mais interessado sempre em conciliar, sendo expert na arte do “deixa disso”. Então, o que isso vem nos dizer? Que precisamos incluir também, o caos e a discórdia, pelo menos cogitar na possibilidade de que nem sempre conseguiremos ter o controle de tudo ou que nem sempre conseguiremos manter tudo civilizado, plástico, refinado e harmonizado. Tem horas que é preciso discordar, tem horas que é preciso desequilibrar – aliás, Libra é o signo do equilíbrio e em certos momentos vai “bagunçar” tudo, quando sentir que está tudo certinho demais, exatamente para equilibrar – é, às vezes, para equilibrar, precisamos bagunçar! Tem horas em que precisamos bancar nossa dissonância, nossa divergência, nossa discordância. Precisamos incluir Eris, porque se a excluirmos, ela vai dar um jeito de entrar na festa de qualquer forma, então, melhor estar “de boa” com ela e reconhecer dentro de nós esses aspectos dissonantes e caóticos, que querem “causar” e que não se importam tanto em agradar. Se não incluímos Eris, ela vai ficar muito zangada e ninguém vai querer incorrer na sua ira! Já imaginou, estar de mal com a Deusa da Discórdia?
O dispositor final deste mapa é Netuno, único planeta a estar “em casa” atualmente, visto que é o regente moderno de Peixes. Netuno agrega criatividade, imaginação, compaixão e também gentileza e altruísmo a essa lunação. Negativamente, reforça a sugestão do caos, porque confunde e dissolve os limites que norteiam nossa leitura da realidade. Então, temos um tom de Júpiter-Netuno também forte aqui e, que assinala um exagero, e expande a qualidade extravagante, embora adicione uma certa benevolência. Somando à influência de Urano, temos a indicação de uma lunação que carrega uma forte qualidade de radicalismos, extremismo, caos, situações e crises inesperadas, assim como liberação, desprendimento e iluminação. Precisamos estar conscientes e presentes em nós mesmos, para tirar proveito das qualidades positivas da lunação e não “sofrermos” seus efeitos mais caóticos.
Em termos mundanos, essas configurações todas inspiram cuidados, pois sugerem radicalismos ideológicos, fanatismos religiosos e conflitos diplomáticos, visto que Vênus, planeta da diplomacia está retrógrada e em quadratura a Saturno e Mercúrio, planeta das comunicações e também negociador, está retrógrado em Touro, signo inflexível.
Pelo menos o Símbolo Sabiano para o grau 22 de Libra (21°32’) traz uma imagem de gentileza e harmonia: “Uma criança dando de beber a pássaros numa fonte”. O tom principal, segundo Rudhyar, “é a preocupação das almas simples com o bem estar e a felicidade de seres menos evoluídos que têm sede de renovação da vida”. O símbolo fala da necessidade da gentileza, do cuidado e de nos preocuparmos com outros, especialmente aqueles que mais precisam. O símbolo vem fazer o contraponto à forte energia Uraniana e ao extremismo presente nessa lunação. Fala de calma, doçura, cuidado, pureza e de fazermos as coisas sem expectativa de retorno – algo que também costuma ser difícil para Libra – e que, se pudermos, não devemos nos furtar de ajudar àqueles que precisam, algo que está em consonância com a conjunção Vênus-Quíron, que já fala da grande empatia, sensibilidade e compaixão por outros que necessitam de atenção e cuidados. Assim, a despeito do caos e dos radicalismos, de precisarmos e devermos nos posicionar, isso não pode nos endurecer excessivamente a ponto de não podermos mais ser gentis e carinhosos com outros. Aqui novamente vem a necessidade do equilíbrio, que é tão caro para Libra.
Portanto, a Lua Cheia de Libra convida a encarar a verdade e a realidade das nossas relações; convida a nos posicionarmos com honestidade e a assumirmos nossa dissidência e dissonância, quando for o caso; demanda que integremos nosso desejo de liberdade e independência e que nos responsabilizemos pelas relações nas quais nos envolvemos e os paradigmas relacionais que criamos, assim como pela transformação de tais paradigmas; que nos liberemos das relações doentias e sobretudo, dos nossos padrões viciados e que busquemos relações mais honestas, com pessoas reais e não com ideais de perfeição. E depois de tudo isso, ainda sermos capazes de ser gentis e amorosos, com os outros e conosco mesmos! Paradoxal? Com certeza! Mas a vida não é um grande paradoxo?
Feliz Lua Cheia para você!
Mariaeunice, Como sempre impecável nos textos.
Obrigada,
Um abração.
Muito grata, sempre, querida! 🙂
Lindo texto. Obrigada!!!
Gratidão, Iana!! Todas as bênçãos!!