Lua Cheia em Gêmeos – Pare! Espere! Nem tudo é o que parece!
O ciclo iniciado na Lua Nova de Escorpião no dia 18 de novembro atinge seu pináculo na Lua Cheia em Gêmeos, neste domingo, três de dezembro às 13h47min no horário de Brasília e às 15h47min no horário de Lisboa. Então, um ciclo que começa muito reservado e misterioso, atinge seu pico de forma desbragada, espalhado para tudo quanto é lado, numa Lua Cheia agitada e cheia de acontecimentos! Como assim? Vamos por partes!
Primeiramente, o eixo Gêmeos-Sagitário é o eixo da informação e do conhecimento – Gêmeos coleta informações e Sagitário as distribui. Nesse sentido, é um eixo mental, sendo Gêmeos e a casa 3 correspondentes à mente inferior, funcional e prática e Sagitário e a casa 9 associadas à mente superior, mais abstrata, que busca a elevação. Assim, Gêmeos lida com os fatos e Sagitário busca entender o sentido mais elevado de tais fatos, emitindo um julgamento moral, buscando a verdade e o significado dos fatos. Gêmeos é o conhecimento, Sagitário, a sabedoria. Em termos específicos, Gêmeos é um signo de Ar, da mente e Sagitário é um signo de Fogo, do espírito. São signos que buscam a leveza, com Sagitário sendo famoso pelo otimismo e entusiasmo e Gêmeos tendo como uma de suas características, a grande oscilação de humor. Uma Lua Cheia ocorrendo nesse eixo vem chamar a atenção para esses assuntos: informações, fatos, conhecimento, significado, verdade.
A Lua Cheia ocorre a 11°40′ de Gêmeos, em quadratura quase exata – a apenas 10 minutos de distância – a Netuno, o Mestre das Ilusões. Num ciclo em que o confronto com a verdade, por mais sombria e aflitiva que seja, é um dos temas principais, junto com a necessidade de eliminar o que morreu, essa Lua Cheia vem nos desconcertar, confundir e iludir – olha, juro que até eu fiquei confusa sobre como interpretar isso! Além disso, no mapa levantado para Brasília temos o Ascendente em Peixes, o que enfatiza a qualidade da fantasia, e ainda Quíron conjunto ao Ascendente. Então, temos uma sensibilidade exacerbada, sonhos mirabolantes, visões incríveis, ideais muito elevados; mas os fatos e a realidade estão distorcidos, seja porque as informações que recebemos são enganosas ou porque nós mesmos as distorcemos; fazemos uma grande salada misturando realidade, fantasias, fatos sucedidos, acontecimentos imaginados e informações inverossímeis. Nesse contexto, como saber o que é verdade e o que é engano, engodo? Será que o que vemos é verdade ou uma miragem?
Como se não bastasse essa quadratura a Netuno, Mercúrio, regente da Lua Cheia, está estacionário-retrógrado, no signo de seu detrimento – só volta ao movimento direto no dia 22 de dezembro! E também está na peculiar condição Fora dos Limites do Sol – extremista! Como já sabemos, períodos de Mercúrio retrógrado são períodos de revisão, de voltar atrás sobre nossos passos, no caminho já percorrido, para nos certificar de que estamos fazendo a coisa certa, para revisar as atitudes, pensamentos, convicções e decisões dos últimos meses. Portanto, tudo pára, tudo fica em standby, em espera, até que procedamos com essa REavaliação. Decisões e atitudes tomadas agora podem ser equivocadas e talvez, no futuro, tenhamos que voltar atrás e alterá-las – se é que isso será possível. Mercúrio implica não somente a Lua, sendo regente dela, mas vem questionar também os temas do Sol, já que este ciclo de retrogradação ocorre em Sagitário, signo pelo qual trafega o Sol atualmente. Mercúrio retrógrado em Sagitário sinaliza um tempo de revisar nossas crenças, nossas verdades, nossa relação com o divino, nossa espiritualidade, nossa ideia de justiça, nossos códigos morais, nossa expansão recente e nossos planos de crescimento futuro – e como os fatos influenciam em tudo isso? Mercúrio entra em retrogradação conjunto a Saturno, o Grande Capataz, o Auditor da Realidade, e em trígono a Urano, o Despertador, o que indica maior peso e severidade nas revisões que precisam ser feitas. Não, não é brincadeira, não! Pelo contrário, é a hora de o palhaço sair do picadeiro, ir para o vestiário e tirar sua pesada maquiagem, suas roupas espalhafatosas e encarar o espelho de cara limpa. Mas será que conseguimos mesmo tirar TODA a maquiagem e nos enxergar como realmente somos? E enxergar as armadilhas que nossa mente ilusória e o ego criam?
A Lua Cheia também faz quincôncio ao regente do Sol Sagitariano, Júpiter, que por sinal também está em trígono – exato no dia da Lua Cheia – a Netuno. Marte, além de ainda estar em oposição a Urano, faz sesqui-quadratura a Netuno, aspecto também exato no mesmo dia. Como a Lua também está em sesqui-quadratura a Marte e em quadratura a Netuno, temos formado um Martelo, do qual Marte é o foco. Então, considerando que Netuno está ativado por todos os lados, Mercúrio está estacionário retrógrado e Marte está nessa situação periclitante, temos um cenário muito confuso, de informações contraditórias e talvez inverossímeis, excessos de “achismos”, carência de pareceres fidedignos que podem levar a julgamentos errôneos, que por sua vez, podem motivar ou propiciar ações precipitadas, impulsivas e inconsequentes, portanto, PARE! ESPERE! Não faça nada agora! Antes de qualquer coisa, pare, recue um pouco e respire fundo, uma, duas, três vezes pelo menos. Quando estamos caminhando no meio da neblina densa, num terreno desconhecido, o próximo passo pode nos fazer despencar no precipício, portanto, é necessário proceder com cuidado. Perceba as incertezas e aceite-as, não tente negá-las. De preferência dê tempo para as ideias se assentarem e serem assimiladas e aguarde as cenas dos próximos capítulos – você pode se surpreender com o desdobramento das situações!
Não é a melhor hora para a ação, é hora de análises cuidadosas e pacientes! Por que? Porque esta é uma Lua Cheia propensa a ações tresloucadas, confusas, caóticas, impulsivas, das quais podemos nos arrepender muito depois, simplesmente porque não estamos vendo o quadro completo, não temos acesso a todas as informações necessárias para tomar decisões com clareza e lucidez e se agirmos no calor do momento, ou com leviandade ou ainda motivados por informações recebidas de última hora, descobriremos mais tarde que a história tem muitas versões e camadas, e que os fatos são muito diferentes do que pareciam a princípio. Ou, podemos estar tão identificados com certas “verdades”, que nos recusamos a ver que não passam de miragens e fanatismos.
Em termos mundanos, há propensão a muitas notícias sensacionalistas, a reputações manchadas por “fatos” plantados ou mal investigados, a informações distorcidas de propósito para atender a interesses escusos, como também informações errôneas que são passadas adiante por preguiça de se checar a veracidade e as fontes. Vale ter muita cautela nos próximos dias nas redes sociais, porque nem tudo é o que parece à primeira vista e um mesmo escândalo pode ter muitos altos e baixos e reviravoltas antes que se conclua o que realmente aconteceu e, mesmo assim, não há segurança de que a verdade chegue a ser conhecida algum dia.
O Símbolo Sabiano para o grau 12° (11°40’) de Gêmeos traz uma imagem, que a princípio pode parecer contraditória com o que foi dito acima: “Uma garota negra luta pela sua independência na cidade”. Dane Rudhyar (1) nos diz, analisando este símbolo, que seu tom principal é a necessidade de nos liberarmos dos fantasmas do passado. Não importa as mudanças que fazemos na vida, ainda precisamos lidar com as memórias, os “fantasmas” da vida que vivemos antes e até mesmo os fantasmas culturais, as memórias do coletivo, nossa ancestralidade, no que ela tem de melhor e de pior. Linda Hill, outra estudiosa dos Símbolos Sabianos, coloca o símbolo de forma mais específica: “Uma garota negra e escrava exige seus diretos à sua senhora” (2).
Rudhyar lembra que no símbolo anterior de Gêmeos, para o grau 11, a imagem é: “a abertura de novas terras oferece aos pioneiros novas oportunidades de experiências”. E ele segue analisando o símbolo do grau 12 como sequência do anterior, que é o correto: “Todo novo começo está rodeado de fantasmas (ou carma pessoal e social). A luta racial pela igualdade de oportunidades deve prosseguir, mesmo que essa igualdade seja oficialmente garantida pela Lei. A luta é interna e assume muitas formas. Os puritanos trouxeram ao teoricamente ‘Novo Mundo’ os medos, o fanatismo e a agressividade de sua existência europeia, e estes geralmente se tornaram mais virulentos sob as condições encontradas no Novo Mundo. Mas nenhum campo de atividade é sempre ‘virgem’. Tem seus habitantes, e eles se apegam às suas posses ou privilégios. Quem quer ser verdadeiramente um indivíduo deve ser libertado do passado. Aqui, nesta segunda etapa, temos o tipo de símbolo de contraste usual. As novas terras são abertas, mas estão cheias de vidas, e a mente do pioneiro está cheia de fantasmas, preconcepções e preconceitos ou expectativas. O que é necessário é uma LIQUIDAÇÃO total do passado; mentes virgens para campos virgens”.
O símbolo nos sugere, portanto, que nos conscientizemos das prisões mentais, preconceitos, visões e ilusões que ainda nos limitam e das quais é necessário nos libertarmos. Não é possível um recomeço, um novo início, enquanto não deixamos para trás os ranços, os preconceitos, os fantasmas. E aqui encontramos, finalmente, a ligação com a Lua Nova ocorrida em Escorpião e que falava da necessidade de eliminações: a eliminação mais importante que precisa ser feita neste ciclo atual é a dos preconceitos, dos fanatismos, da mentalidade medíocre, tacanha e intolerante. Mas, às vezes, estamos tão identificados com nossas “nobres opiniões”, que não nos damos conta de quão mortas, obsoletas e cruéis elas podem ser.
É interessante termos uma Lua Cheia ocorrendo no grau que traz este símbolo, precedida por período em que pipocaram notícias sobre negros vendidos como escravos na Líbia, como se não bastasse a chaga que continua sendo o racismo, tanto no Brasil, como mundo afora! Lembrando como o símbolo é colocado por Linda Hill, sobre uma menina negra escrava, o fato de esta garota ter “uma senhora” – que dá a ideia de ela ser posse de alguém – já seria absurdo o bastante, mas mais absurdo ainda é pensar que tal coisa continue a acontecer nos dias de hoje. Primeiro, de forma “escondida”, como nos incontáveis casos de pessoas trabalhando em regime de escravidão no Brasil e no mundo, seja em fazendas, seja nas indústrias têxteis ou outras indústrias e também no caso do tráfico de pessoas para exploração sexual. Isso, infelizmente, não é novidade, mas era feito às escondidas, o que sugere que ainda havia um temor da lei e da justiça. Mas nos últimos anos, além disso, temos de volta essa prática do aprisionamento e venda de negros, de forma escancarada, como algo “comum”, à vista do mundo, sem disfarces e pior, sem medo de punição! Embora a prática já aconteça há anos, agora chega aos meios de comunicação de forma mais massiva.
Eu não tenho a pretensão de me aprofundar sobre as motivações e causas psicológicas, filosóficas, morais, sociológicas, econômicas, políticas ou quaisquer outras para a escravidão, seja de negros, mulheres, brancos – não vamos esquecer que na Grécia, o berço da civilização ocidental, a prática da escravidão era comum e considerada natural e necessária, assim como na maioria das civilizações do mundo antigo e se aplicava não somente a negros, mas a outros indivíduos que se tornasses prisioneiros de guerra, ou que não conseguissem pagar suas dívidas, entre outras causas. Contudo, essas notícias brutais sobre um retorno da pratica do escravismo na África, no Brasil ou em qualquer parte do mundo nos alerta para não nos iludirmos e não sermos tolos a respeito do aparente “progresso” da humanidade. Ao mesmo tempo em que evoluímos muito em termos tecnológicos e científicos, e que temos acesso ao conhecimento como nunca antes na história, por outro lado, não estamos livres de repetir erros do passado, especialmente se formos arrogantes e julgarmos as gerações anteriores como “primitivas”.
A Terra e a humanidade vivenciam muitos ciclos e nós vivemos num ciclo em que nunca se teve tanto conhecimento sobre as atrocidades cometidas por humanos contra humanos e contra a natureza e aqui há duas contradições: pode-se pensar que no ponto de “civilidade” e entendimento intelectual a que chegamos estaríamos livres de tais comportamentos vis e cruéis – o idealismo Sagitariano esquece da sombra humana. Contudo, sabemos que muitas das injustiças atuais são consequência direta das políticas econômicas das sociedades ditas mais “desenvolvidas” e, como acontece neste caso específico, como consequência direta das guerras que se desenrolam há anos, décadas, no Oriente Médio e na própria África, fomentadas pelos mesmos países “civilizados” e de “primeiro mundo”, que só buscam enriquecer cada vez mais e que hipocritamente se dizem chocados com as notícias sobre a venda e leilões de negros na Líbia. Por outro lado, argumenta-se que não é que haja um aumento de tais atrocidades. O que há é um aumento de sua divulgação, exatamente devido ao acesso à informação em tempo real que temos hoje. Então, não é que estejamos “piores”. É que hoje temos mais consciência do nosso “pior” e isso, certamente, é bom, porque embora ainda haja um número imenso de indivíduos que se beneficiam de tais práticas, há um número igualmente grande de pessoas que as refutam e se indignam contra elas – não, já não é tão “natural”.
Portanto, este símbolo, em sua interpretação metafórica nos alerta para ficarmos atentos quanto às identificações com o passado, com opiniões, preconceitos, ou mesmo convicções que podem ter sido válidas antes, mas que hoje já não fazem sentido e podem até comprometer a “nova vida” que queremos criar. Entretanto, infelizmente, este símbolo também ainda tem uma interpretação literal, especialmente diante de tais notícias como as mencionadas acima. Quando toda a experiência que a humanidade acumulou ao longo dos séculos deveria nos levar a aprender com nossos erros, estamos, na verdade, repetindo-os – embora haja também indivíduos mais conscientes. Então, mais do que nunca é preciso nos conscientizarmos das ilusões que criamos acerca de nós mesmos, do quanto nos percebemos como “moralmente corretos e justos”, quando, na verdade, talvez ainda carreguemos e cultivemos muitos preconceitos, intolerâncias, fanatismos, discriminação, mesmo inadvertidamente, e esse tipo de crença, de que há pessoas, raças/credos/nacionalidades/sexo/gênero/classes melhores ou piores do que outros contribuem, de forma direta, prática, abstrata e energética para que atrocidades como essas continuem a acontecer no mundo. O resultado? A violência que continua a grassar contra negros, mulheres, índios, LGBTs,pobres, estrangeiros, migrantes e imigrantes e minorias em geral. Então, vale nos questionarmos sobre as cortinas de fumaça que criamos para nós mesmos e para os outros da nossa convivência, o manto de “civilidade e sofisticação” que disfarça e encobre o ser ainda primitivo, que ainda se crê superior, melhor, mais evoluído e que ajuda a perpetuar a exploração cruel, direta ou indireta de outros seres.
Netuno está aí e sugere que podemos escolher continuar na feliz ilusão da nossa grande “evolução espiritual”, ou podemos escolher tirar a máscara ou a pesada maquiagem do palhaço feliz e histriônico e enfrentarmos nossa realidade humana, buscando nos redimir a partir, não só da conscientização social, não só pela luta coletiva para que tais injustiças e atrocidades sejam combatidas energicamente – e aqui falo de todo tipo de discriminação e violência contra negros, mulheres e todas as minorias – mas também a partir da consciência e mudança individual, através do trabalho espiritual interior, individual e solitário, porque o monstro maior, coletivo, é formado e alimentado pela soma das sombras individuais que não foram reconhecidas e integradas. Assim, o trabalho é social e coletivo, mas é também individual. Do contrário, continuamos na hipocrisia de esbravejar indignadamente contra as injustiças nos palanques do mundo, enquanto nossa prática pessoal continua espúria, desonesta, injusta e imoral.
Em termos práticos: 1 – como dito acima, recomenda-se cautela nos próximos dias acerca da emissão, recepção e processamento de informações e dados, da coleta e julgamento de fatos e das decisões que se precisar tomar, devido à qualidade nebulosa, enganosa, confusa, ambígua, indefinida, atarantada e caótica dessa Lua Cheia. Em caso de dúvida, o melhor é esperar até que haja mais clareza. 2 – Considerando-se que Sagitário está relacionado às grandes viagens e às longas distâncias, e Mercúrio aos deslocamentos em geral, há maior propensão a atrasos e imprevistos nas viagens durante este período. 3 – Como Netuno dissolve as barreiras e limites, também é aconselhável evitar o consumo de álcool e outras substâncias alteradoras da consciência. 4 – Num tom mais positivo, se a imaginação está rica e fértil, a fantasia super estimulada, pode não ser bom para se lidar com a realidade, mas pode ser ótimo para expressar a criatividade através dos vários veículos artísticos que estiverem à disposição, particularmente, a escrita e a música! 5 – De modo geral, é um bom período para revisão das nossas ideias, opiniões e conceitos, especialmente antes de partirmos para qualquer tipo de discussão ou conversa com o outro. Há excesso de ideias e elas também estão confusas, portanto, pode ser uma boa pedida silenciar e meditar bastante antes de recorrer às palavras.
Indivíduos que tenham planetas ou ângulos entre os graus 6 e 17 dos signos mutáveis (Gêmeos, Virgem, Sagitário e Peixes) podem sentir mais fortemente essa lunação e precisam ser mais prudentes nos próximos dias.
Uma ótima Lua Cheia para você!
Sobre as notícias da venda de escravos na Líbia:
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/11/22/internacional/1511352092_226137.html
E no Brasil também tem, a céu aberto:
(1) Dane Rudhyar – an Astrological Mandala
(2) Linda Hill – 360 degrees of Wisdom
Essa lua cheia cai na minha casa 9 em conjunção ao meu jupiter em gêmeos aos 11 graus 😡