Lua Cheia em Virgem – Um farol no mar da incerteza

O ciclo Aquariano iniciado com o Eclipse Parcial do Sol do dia 15 de fevereiro atinge o seu ápice nesta quinta-feira, 1° de março, às 21h51min no horário de Brasília e à 00h51min de sexta-feira (2 de março) no horário de Lisboa.

O Símbolo Sabiano do grau 12 de Virgem (11°22’), onde se dá a Lua cheia desta quinta-feira, traz a seguinte imagem: “Após o casamento o noivo arranca o véu de sua noiva”. Para entender as sutilezas deste símbolo, recorro a Linda Hill, astróloga australiana estudiosa dos Símbolos Sabianos, que comenta: “essa é uma imagem de revelação, revelação e descoberta. Tradicionalmente, pensava-se que as ‘Noivas’ eram particularmente vulneráveis ​​aos espíritos malignos e achava-se que o ‘Véu’ a protegeria de tais espíritos malévolos. Em alguns países, o noivo não tem permissão para ver o rosto da ‘Noiva’ até depois da cerimônia. Independentemente de qual seja sua situação, a ‘noiva’ é agora confrontada com o momento de se mudar para uma nova vida e um novo senso de identidade”.

Hill continua e diz que o símbolo fala de “mergulhar e se comprometer com alguém ou algo assim. Sugere uma situação em que o passado e o futuro colidem. Não se pode continuar a existir no limbo; o futuro tem um chamado mais forte do que o passado. Este Símbolo também pode indicar que você deve mostrar seu verdadeiro rosto ou você será forçado a revelá-lo. Pode haver a sensação de que alguém não está pronto para se dedicar completamente à situação. No entanto, como eles se comprometeram de alguma forma com o que estão fazendo, eles realmente não têm muita escolha. Não ser mais capaz de se esconder atrás de ‘Véus’, ilusões ou pretensões, significa que algo acontecerá que acabará com qualquer resistência que ainda possa existir. Se não se vai de bom grado, pode-se ser forçado ou empurrado. Ter que agir, ou relacionar-se, independentemente de desculpas ou hesitações, coloca a pressão para avançar e aceitar ou rejeitar a situação em que se encontram, independentemente das reservas. Aqueles que ‘arrancam o véu’ podem não estar agindo para dominar ou subjugar, mas apenas tentando remover obstáculos na forma de se relacionar. Talvez seja a hesitação que esteja criando problemas. Olhe para seus motivos e os dos outros ao seu redor; certifique-se de por que eles estão fazendo o que fazem. Baixar a guarda pode abrir mundos inteiramente novos”.

Como vemos, este símbolo fala de desvendar mistérios e ter acesso a coisas, informações ou situações que antes estavam resguardadas de nossos olhos, conhecimento e perspicácia. O casamento fala também de um momento de encruzilhada, em que algo mudou inexoravelmente, é um rito de passagem; é preciso abrir mão do passado e do modelo de vida anterior e comprometer-se com um novo modelo, com o futuro, com o noivo/noiva. É preciso confiar e revelar-se (a noiva) ou ser ousado o bastante para arrancar os véus (o noivo) que escondem a verdade, que escondem aquilo que buscamos e queremos ver.

Eu comecei este artigo falando deste símbolo porque ele vem funcionar como um farol no meio da névoa Netuniana que permeia a atmosfera nesta Lua Cheia, que ocorre a 11°22’ de Virgem, em oposição próxima a Netuno, trígono a Saturno, quadratura a Marte, sesqui-quadratura a Urano e ainda uma ampla oposição a Mercúrio. Lua, Sol-Netuno e Marte formam uma ampla T-Square Mutável, da qual Marte é o foco.

O ciclo de Aquário é o período em que primamos pela racionalidade. Olhamos para o futuro com esperanças de melhorias, alcançadas a partir de novas tecnologias e da ciência – as armas que a mente racional usa para descobrir os segredos da natureza; é o período em que buscamos clareza e lucidez e nos distanciamos das esferas mais instintivas, da irracionalidade; a civilidade extrema e os princípios humanitários se sobrepõem à natureza humana mais primitiva e arcaica. A princípio, o apogeu deste ciclo ocorrendo em Virgem estaria alinhado até certo ponto com tais princípios, visto que Virgem é um signo também bastante racional, afeito ao controle e bastante civilizado, no que tange o respeito aos limites, seus e dos outros. Contudo, além de Virgem estar naturalmente em quincôncio a Aquário, o que aponta para as incongruências existentes entre estes signos, a posição realçada de Netuno nesta Lua Cheia sugere dificuldade em alcançar essa lucidez, clareza ou mesmo civilidade. Há o risco de cairmos num vácuo confuso, hesitando sobre o próximo passo a dar, inseguros a respeito de nossos propósitos, desejos e necessidades; há o risco de nos deixarmos levar por influências externas e alheias à nossa vontade, “pescando”, sem perceber, problemas e imbróglios de outros, envolvendo-nos em situações que nos debilitam e enfraquecem, sem nos darmos conta disso. E quando, finalmente partimos para a ação, depois de tanto vacilar, a ação é temerária, duvidosa e igualmente sem norte.

A Lua Cheia vem realçar a conjunção Sol-Netuno que fica exata daqui a três dias – na madrugada de sábado. Os efeitos dessa conjunção já se fazem sentir há alguns dias, na dificuldade de termos foco, na sensibilidade derramada que nos acomete, na vontade de escapar, nos devaneios ricos, porém irrealistas e também no desejo de servir, de ajudar, na grande compaixão e empatia que sentimos e que nos tornam vulneráveis à atmosfera pesada do mundo atual, em que a ansiedade e a insegurança prevalecem. Isso tudo num ciclo que começou com o eclipse do Sol a 27° de Aquário e que já veio trazendo muitas revelações, muitas novas ideias e desejos de explorar e experimentar. Agora, com essa Lua Cheia, temos um tipo de contrassenso, porque de repente, as ideias se tornam borradas e confusas, perdemos o norte e a direção e nos encontramos no meio do nada, como o navio à deriva em alto mar, no meio de um grande nevoeiro. Além de Lua, Sol e Marte estarem em contato com Netuno e de termos ainda Mercúrio, Vênus e Quíron em Peixes, não há Ar ativado nos céus, não há nenhum planeta trafegando signos de Ar, ou seja, a mente racional está, de certa forma, inativa e a imaginação, os instintos e a sensibilidade é que comandam a cena, as ações e reações.

Bom, se a mente racional está, por assim dizer, “desligada”, é necessário cautela ao navegar nesse mar encoberto pela névoa; se os instrumentos de controle falham, precisamos perscrutar a luz interior, o farol interno, da intuição, para nos guiar e sair do estado de confusão que nos encontramos. Assim, nas próximas duas semanas talvez tenhamos dificuldade em pensar de forma lógica, direta, racional – até porque Mercúrio também está em Peixes e logo que entrar em Áries já adentrará a zona da próxima retrogradação. Debalde é insistir nesses métodos e o melhor é buscar alternativas, usar a intuição, visualizar possibilidades, navegar pela sutileza. Contudo, quando lembramos do Símbolo Sabiano, temos a oportunidade de desvelar os véus que encobriam a verdade, temos a chance de afastar as cortinas de fumaça, os véus ilusórios e olhar direto para a face da Noiva, perscrutando seus olhos e desvendando seus mistérios e segredos. Desvelar os véus pode ser algo que tanto podemos fazer ativamente, em situações em que nós agimos para revelar o mistério, quanto pode ser que o mistério seja revelado para nós, de forma indireta. Qualquer que seja o caso, se conseguirmos enxergar através das cortinas de fumaça, se não nos deixarmos enganar pelos véus ilusórios, pelo caos e confusão aparentes, teremos acesso a muitas revelações, que serão importantes e muito significativas no desenhar do novo ciclo anual que se descortina ali à frente e dos ciclos pessoais que se desdobram em nossas próprias vidas.

Essa lunação também se faz importante porque é a última Lua Cheia do ano astrológico e já aponta para o fim do atual ciclo do Sol pelo Zodíaco – o Sol ingressa em Áries, inaugurando um novo ano astrológico no dia 20 de março. Ainda temos uma lunação antes disso, a Lua Nova em Peixes, no dia 17 de março e teremos uma segunda Lua Azul, seguida à primeira de fevereiro, já que teremos mais uma Lua Cheia no dia 31 de março, já em Libra. Voltando ao agora: com todos esses planetas em Peixes, o chamado é para começarmos a nos despedir de tudo o que foi e que não mais será e começarmos a nos preparar para um novo ano, novas aventuras, para o futuro.

Portanto, não nos deixemos enganar pelas confusões exteriores, pelo caos simulado lá fora, pelas ilusões criadas pela névoa. Sintonizemos na frequência límpida do nosso ritmo interno, na frequência da intuição e ousemos arrancar os véus que nos afastam do confronto com a nossa verdade!

Em termos práticos, a Lua Cheia em Virgem sinaliza um período de purificação; de cuidarmos mais da saúde, do corpo, do nosso cotidiano; de ordenarmos nossa rotina, de modo a nos alinharmos ao ritmo orgânico da vida; de respeitarmos os ciclos internos e os ciclos da natureza; de ordenarmos também nosso ritmo e nossos métodos de trabalho. E de cuidarmos também da nossa vida interior!

Feliz Lua cheia para você!