Lua Cheia em Aquário – Amarra Teu Arado a Uma Estrela…

O ciclo de Leão, iniciado no dia 1° de agosto com a Lua Nova em Leão atinge seu ápice nesta quinta-feira, dia 15 de agosto, às 09h29min no horário de Brasília e às 13h29min no horário de Lisboa. É a Lua Cheia ocorrendo a 22°24’ do signo de Aquário. Além do Sol, a Lua também se opõe a Vênus e a Marte, que estão atualmente conjuntos ao Sol. Mercúrio também está em Leão, no primeiro decanato e, embora a Lua não lhe faça oposição, tecnicamente, Mercúrio adiciona peso aos temas leoninos tão realçados nos céus desses dias – Mercúrio, aliás, sai da zona sombria de retrogração nesta quinta também!

Jacob Jordaens – Leão – Dompinio Público, wikimedia Commons

Toda essa ênfase em Leão nos convida a embarcar de forma apaixonada na jornada pessoal de auto entendimento e também de encontrarmos formas de deixar nossa marca pessoal, indelével e indiscutível, no mundo. E, como eu digo sempre, Leão nos chama a perscrutar os desejos mais profundos do nosso coração e a viver o nosso mito a partir dele, de forma autêntica e muito singular – viver com e pelo coração, que, ao contrário do que muitos pensam, demanda muita coragem e muitos sacrifícios, porque muitas vezes os desejos verdadeiros do coração contradizem completamente os desejos do ego e ai de nós se os confundirmos ou tentarmos manipulá-los para justificar a busca do ego… O preço a pagar depois será alto! No artigo da Lua Nova eu falava exatamente disso, da necessidade de lidarmos com esse aspecto infantil do ego, que deseja e quer agarrar tudo, ao seu bel prazer!

Autor Desconhecido – British Library, Domínio Público, wikimedia Commons – https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=27370478

Agora, depois de várias semanas exaltando o processo da busca individual por reconhecimento e esplendor, a Lua em Aquário vem nos exortar a olhar ao redor e olhar para além de nós, para o grupo, a comunidade, o mundo – que existem não apenas para ser nossa plateia, mas com valor por si mesmos, em seu próprio direito! Ou seja, de novo descobrimos que não podemos simplesmente “agarrar” tudo o que queremos com nossas patas ávidas, porque há outros e há “coisas” que não podem, não querem e não devem ser agarradas. Que surpresa, não é Leão?


Belarus e a comunidade global. Moeda comemorativa Vadaley” (“Aquarius”) Domínio Público – Wikimedia Commons

Então, o nosso desafio nessa Lua Cheia é descobrir como essa nossa individualidade tão especial vai se inserir no grupo de forma igualitária – possivelmente liderando sim, mas sem complexos de superioridade! Como nossos talentos e potenciais tão propagados, que nos causam tanto orgulho e senso de distinção, irão servir ao todo? Sim, porque é para isso que existem, não apenas para inflar o nosso ego. Como vamos disciplinar e masterizar todas essas qualidades brutas e um tanto selvagens, de modo que possam contribuir com a melhoria do mundo? Como disciplinar nossos desejos para que não sejam mera expressão de um ego inseguro e desvairado por atenção ou controle? Que filhos especiais iremos trazer ao mundo (Leão) para ajudar na melhoria do mundo e do coletivo ao nosso redor (Aquário)?

Este urso apenas “parece” estar acenando: foi fotografado na natureza, por Rennett Stowe from USA – Yellowstone Bear – Wikimedia Commons

O Símbolo Sabiano do grau 23° de Aquário (22°24’) traz a imagem de “Um grande urso sentado acenando com todas as suas patas”. Dane Rudhyar, um dos grandes estudiosos dos Símbolos Sabianos, nos diz que a ideia básica deste símbolo é “a autodisciplina resultante de um desenvolvimento inteligente das faculdades individuais sob treinamento apropriado”. Para ele, o símbolo parece afirmar que as poderosas energias da vida podem ser treinadas adequadamente, desde que se valorize e se perceba o poder da autodisciplina. “Somos constantemente confrontados com situações que, conscientes ou não, são de fato situações de treinamento; Deus ou a alma é o treinador. Muito depende das atitudes que assumimos nessas situações”, diz ele. Rudhyar vê este símbolo de forma bastante positiva, exaltando o valor e poder da disciplina, que para ele estão exemplificados na imagem colocada. De fato, podemos ter muitos talentos e competências, potenciais luminosos, mas se não agirmos sobre eles de forma disciplinada e comprometida, não seremos capazes de fazer coisas proveitosas com eles. “Podemos aprender a disciplinar nossos impulsos naturais e usá-los para um propósito mais do que pessoal. Isso é DISCIPULADO no verdadeiro sentido do termo”, diz Rudhyar.

Aquário, by Giovanni Maria Falconetto -Domínio Público – Wikimedia Commons

Por outro lado, Linda Hill, outra estudiosa desses símbolos, australiana, parece ver de uma forma diferente. Ela diz que o símbolo fala de uma imagem de um animal de ‘performance’, um que é muito bom nisso e lembra que ursos são animais fáceis de se treinar, mas que a eles são ensinadas coisas que são completamente alienígenas aos seus hábitos e costumes naturais. O fato de estar acenando com todas as patas pode indicar que ele desistiu de lutar ou fugir. Ela diz “talvez haja coisas que você não quer fazer, mas parece ser seu dever fazê-las, agir ou apresentar uma performance. Há uma necessidade de desenvolver respostas acima e além do nível normal esperado. Talvez você esteja realmente se destacando em seu nível de desempenho, só você pode realmente dizer, embora outros também possam julgar isso. Olhe para a sua situação e veja se você está realmente se comprometendo ou apenas agindo a partir de respostas condicionadas para o benefício dos outros. Alguém está agitando os braços por aí quando deveria já estar trabalhando? Ter que encenar um ato em prol de um protocolo social contra os próprios instintos naturais pode levar a transigências que diminuem sua autoestima. Alguém está agindo de uma determinada maneira e alegando que não tem escolha senão agir dessa forma? Essa imagem também pode refletir uma sensação de segurança, ou de não ameaça, o que permite brincadeiras lúdicas ou experiências com comportamentos incomuns”.

By Gregory “Slobirdr” Smith – Grizzly Bear – Wikimedia Commons ons.wikimedia.org/w/index.php?curid=40573595

Até poucas décadas atrás a ideia de domar animais selvagens e utilizá-los como atrações e entretenimento para os humanos, em espetáculos, circos e afins, era algo comum e aceitável ou pouco questionado na época. Atualmente se questiona as técnicas que domadores usam e é mesmo considerado abminável que ainda usemos animais dessa forma, como se fossem seres não sensientes, como se apenas existissem para o uso e prazer humanos… Muitos países já baniram o uso de animais em tais espetáculos. Pesquisei imagens relativas a esse símbolo para colocar aqui e não gostei de nenhuma, porque mostravam claramente o sofrimento do animal e a incompreensão do que estavam fazendo ali… É verdade, ainda nos alimentamos deles – a granda maioria dos seres humanos – e essa é uma discussão sem fim no momento, na qual não vou entrar aqui -, mas felizmente hoje estamos despertando para outras formas de nos relacionarmos com a natureza.

O Xamanismo tem os Animais de Poder, guias espirituais que nos acompanham vida afora, e também tem os Animais de Sombra. O urso como animal de poder, de forma muito resumida, fala da força e cura físicas, e da necessidade de introspecção, afinal, o urso é um animal que hiberna por muitos meses durante o inverno, descansando e se refazendo; procura um lugar seguro e protegido, porque enquanto hiberna fica comletamente alheio ao mundo externo, com seus ruídos e apelos. Algo parecido com a energia de Aquário, que tem um forte ativismo e amor pela humanidade, mas não se conforma, não acede a ela. O urso também tem garras poderosas, que podem agarrar coisas com facilidade, à semelhança das garras do leão, das quais falávamos no artigo da Lua Nova. Mas aqui, o urso foi domado, domesticado e, ao invés de agarrar e lutar, apenas acena – num arremedo de comportamento humano. Por mais que seja necessário cortar as patas do leão, no sentido de disciplinar os desejos do ego, isso não quer dizer que temos que domesticar completamente nossa natureza selvagem para agradar ao olhar externo ou para nos “encaixar” – um tema que é muito caro a Aquário. Quanto temos nos submetido e nos domesticado para ser aceitos no mundo, para sermos civilizados e “respeitáveis”? Mimetizando comportamentos que nascem de valores que nem são nossos? Com objetivos impostos de fora, de ser bem-sucedidos, poderosos, ilustres, grandiosos…? Disciplinar os desejos do ego é preciso; domesticar a natureza selvagem para caber nas fôrmas sociais mutiladoras, não!

É bem interessante a imagem que este símbolo nos traz, tanto na interpretação colocada por Rudhyar, quanto naquela de Hill. O que me leva também a dois dos aspectos que ficaram vigentes durante boa parte da semana: Sol e Vênus em quincôncio, primeiro a Saturno e depois a Plutão, ambos em Capricórnio – o quincôncio a Plutão ainda está ativo na Lua Cheia e a Lua faz um semi-sextil a ele também. Este tema da autodisciplina e do conflito entre os deveres e o prazer, o comprometimento real e o mero senso de obrigação esteve forte por esses dias. O questionamento de fundo que isso nos traz e que também está presente nessa Lua Cheia é: por que fazemos o que fazemos? Porque é obrigação? Porque fomos ensinados? Porque queremos apresentar uma performance e receber aplausos? Porque faz sentido para nós? Porque é um objetivo consciente que nasce no nosso coração? É importante termos clareza disso para lidarmos com os desafios que encontramos ao tentar realizar nossos objetivos e tarefas.

Lua Cheia em Aquário – Brasília, 15 de agosto de 2019, 09h29min

Com a Lua sozinha em Aquário, “enfrentando” todos os planetas em Leão, parece também que andamos agindo de forma teatral diante de uma plateia a que queremos agradar, ao mesmo tempo em que vivemos um conflito interno com a nossa natureza selvagem, não domesticada e não civilizada, que não quer se importar com plateias ou opiniões externas e quer mesmo é seguir naquela trilha menos conhecida e percorrida por muito poucos – geralmente os malucos que não fazem questão de se encaixar no sistema!

By William Hone – Hone’s Everyday Book, fromoldbooks.org, Domínio Público – Wikimedia Commons

A Lua fica cheia um dia depois da conjunção superior entre Vênus e Sol (na conjunção superior o Sol está entre Vênus e a Terra, na Conjunção Inferior a Terra fica entre Vênus e o Sol e se dá quando Vênus está retrógrada), um ponto alto no ciclo de Vênus, que até aqui vinha se apresentando como Estrela da Manhã, Phosphoros, desde algumas semanas após a última Conjunção Inferior, em 26/10/2018. Esta conjunção é muito importante e marca uma mudança na forma de expressão de Vênus. Daqui a cerca de 50 dias Vênus começará a aparecer no céu no entardecer, como Héspero, Estrela Vespertina. Nesta fase Vênus é mais gregária e está mais aberta às relações, ao contrário da fase Estrela da manhã, quando é mais belicosa e independente. A Lua Cheia enfatiza essa mudança e também enfatiza questões de autoestima e valores. A conjunção Vênus-Sol se deu em quincôncio a Plutão, como já disse, e isso nos coloca outros pontos significativos: nosso senso de valor vem de dentro, daquilo que somos e de como nos vemos ou do julgamento do mundo? Sol e Vênus estiveram toda essa semana ativando Saturno e Plutão em Capricórnio e isso pode implicar que os temas contundentes de 2020 são novamente servidos como “aperitivos” nas próximas semanas…

By Candra Firmansyah –
Kulit, também chamado de Wajang Koelit, é uma forma de teatro de marionetes encontrado em Java, na Indonésia e outras partes do sudeste da Ásia. Wikimedia Commons

A Lua se opõe também a Marte em Leão nesse mapa: além dos conflitos entre nossas necessidades pessoais e as dos outros, entre os propósitos conscientes e o inconsciente, há conflito também entre lutarmos por nós e nossos objetivos, entre sermos assertivos ou aderirmos aos objetivos do grupo, dos amigos, do mundo exterior… Não importa para onde vamos, porque o que é apropriado em cada momento muda de pessoa para pessoa – o que importa mesmo aqui é termos clareza de porquê escolhemos o que escolhemos, do que é que norteia nossa decisão, o que é que nos motiva, ou seja, assumirmos a responsabilidade pelo que fazemos, para não imputarmos aos outros a nossa raiva quando algo sai diferente do esperado. Para que o teatro do nosso conflito interno não seja encenado lá fora conflituando as relações.

Esse mapa tem muito Fogo, um pouco de Terra, bastante Ar, já que Lua e Ascendente (mapa de Brasília) estão neste elemento, porém há bem pouca Água e isso pode sugerir um período em que estamos sujeitos a acessos e rompantes de emocionalidade, porém nosso sentimento mesmo está um pouco inacessível, especialmente porque também há muita qualidade Fixa e quase nada Mutável; temos dificuldade em lidar com os pontos de vistas alheios, é difícil nos adaptar e ser flexíveis, a empatia demanda esforço… Essa visão muito unilateral pode nos criar problemas na convivência com o grupo e na execução dos objetivos de equipe – e até na realização de objetivos individuais.

Multiracial happy young people eating pizza in pizzeria, black and white cheerful mates laughing enjoying meal having fun sitting together at restaurant table, diverse friends share lunch at meeting
By Fizkes – Shutterstock – Reprodução

Aquário também é o signo dos amigos, das amizades e das nossas relações sociais. Este é um momento então de olharmos para essas relações e analisarmos se estão equilibradas, se nossas relações de amizade são verdadeiras ou por interesse, o que nossos amigos “agregam” à nossa vida e experiências em termos de trocas, aprendizados, afetos e também o que nós agregamos, com o que contribuímos na vida dessas pessoas… Somos bons amigos para nossos amigos? Estamos acostumados a nos preocupar se temos bons amigos, se nossos amigos são leais, se nos apoiam, se estão presentes quando precisamos… Mas e nós, que tipo de amigos somos? Não há relação lateral (entre iguais, quando não há hierarquia) que se sustente quando não há equilíbrio no dar e receber. Se a gente apenas toma e exige, o outro se sente usado – com razão – e vai embora magoado; se nós apenas damos, sem deixar ao outro a oportunidade de retribuir, o outro também vai embora, talvez zangado, porque “deve” em excesso. E às vezes nós somos “o outro”.

Idea, World, Pen, Eraser, Paper, Light Bulb
Pixabay – Reprodução

Por último, Aquário também simboliza nossos sonhos maiores e projetos de futuro. A Lua Cheia pergunta: como estamos nessa esfera? Sendo um ponto de culminação, um momento de crise, o questionamento é: como usamos todos esse “brilho”, energia, coragem, entusiasmo, generosidade e singularidade de Leão para fecundar nossos sonhos, sonhos que devem incluir uma perspectiva maior do que meros objetivos pessoais e/ou materiais – ou seja, algo que mesmo que seja de cunho pessoal, ainda contribua significativamente para a melhoria da vida na Terra, para nos aproximar dos outros seres humanos e para tornar o planeta um lugar melhor, não apenas para os humanos mas para toda a vida que dele depende. A Lua destaca esses pontos também quando forma uma configuração de aspectos menores com Júpiter em Sagitário e Urano em Touro: a Lua faz quintils a Júpiter e a Urano, que por sua vez fazem um bi-quintil entre si – aliás, Júpiter e urano mudaram de direção no mesmo dia, segunda, dia 12: Júpiter voltou ao movimento direto e urano entrou em retrogradação. Esses aspectos, além de serem muito criativos, também trazem um senso de propósito e intencionalidade, de acordo com alguns autores; apontam para qualidades intelectuais que podem e devem ser empregadas de forma consciente. Júpiter e Urano no sentido mais positivo, falam de futuro, de cruzar limites, de uma perspectiva reformadora e otimista quanto a esse futuro. Isso pode nos indicar talentos e possibilidades que podem ser utilizadas na construção desses sonhos, mesmo que sejam aqueles de curto prazo. Aspirar a tempos melhores, mesmo quando há nuvens sombrias no horizonte – e nós sabemos que enfrentamos tempos difíceis… Inspirar-se para continuar agindo a partir do nosso melhor lado, a partir da integridade e da fé e não da mesquinharia e vilania que vemos banalizadas por aí… Não podemos nos permitir acostumar com o que não presta, com o que nos massacra, com o que tira nossa esperança… Mesmo quando nos vemos tendo que viver em tais condições, não podemos nos acostumar com elas… Sempre precisamos ter perspectivas de mudanças, de futuros melhores possíveis. Onde está seu coração? Onde estão seus sonhos? O que você está fazendo com eles?

Eu deixo vocês com essa canção linda do Gilberto Gil, que tem muito a ver com os temas mais Taurinos – onde está Urano, aliás – mas que podem servir para aspirar e inspirar, mesmo diante de tantas incertezas:

Se os frutos produzidos pela terra
Ainda não são
Tão doces e polpudos quanto as peras
Da tua ilusão
Amarra o teu arado a uma estrela
E os tempos darão
Safras e safras de sonhos
Quilos e quilos de amor
Noutros planetas risonhos
Outras espécies de dor

Se os campos cultivados neste mundo
São duros demais
E os solos assolados pela guerra
Não produzem a paz
Amarra o teu arado a uma estrela
E aí tu serás
O lavrador louco dos astros
O camponês solto nos céus
E quanto mais longe da terra

Tanto mais longe de Deus

Uma ótima Lua Cheia para você! Celebre a vida, celebre seu brilho, sua individualidade, suas amizades, sua comunidade!

Sergey Nivens – Shutterstock – Reprodução Livre

mariaeunicesousa

Maria Eunice Sousa é astróloga de orientação psicológica, formada pelo Centro de Astrologia Psicológica de Londres, fundado e dirigido por Liz Greene. Mora em Cuiabá, onde atende com Astrologia, trabalhando também como tradutora e intérprete (Inglês-Português). Além de Mapa Natal e Revolução Solar, também atende com Astrocartografia e Espaço Local (formada pelo Kepler College), Mapa Infantil, Mapa de Relacionamento e Mapa Vocacional.

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