A ascensão do amor realista – Vênus e Marte em Capricórnio – Parte II
Na primeira parte deste artigo falamos bastante da recente retrogradação de Vênus e suas implicações diversas, especialmente destacando o retorno ao movimento direto de Vênus. Agora vamos falar da longa conjunção que os dois amantes arquetípicos, Vênus e Marte, farão ao longo das próximas semanas, tendo dois encontros exatos.
Teremos uma super estimulação mútua entre Vênus e Marte, dois planetas que simbolizam a união alquímica do masculino e feminino, Vênus, planeta dos afetos e Marte, planeta da libido e energia sexual. Esse encontro vai durar muitas semanas, na verdade meses. Por quê? Marte está conjunto a Vênus a partir do fim de janeiro, com Marte a quatro de Capricórnio e Vênus a onze, conjunção de sete graus. Como vênus estava retrógrado e estaciona, seu movimento está muito lento e vai demorar semanas para que retome sua velocidade normal. Marte que normalmente é mais lento, estará caminhando extraordinariamente mais rápido que Vênus durante esse período. Tecnicamente, é o planeta mais rápido que faz o movimento e o aspecto em relação ao planeta mais lento (embora o planeta mais rápido seja o mais impactado pelo aspecto) e normalmente seria Vênus que faria a conjunção a Marte, mas neste caso é o contrário, porque Marte, andando mais rápido, alcançará Vênus, fazendo a primeira conjunção, enquanto ela recupera velocidade. Isso se dará no dia 16 de fevereiro, entre 16 e 17° de Capricórnio, a um grau da Conjunção Interior Vênus-Sol do dia oito de janeiro.
Gradualmente Vênus ganhará velocidade e ultrapassará Marte e esta segunda conjunção ocorrerá no dia seis de março, a 0 (zero) de Aquário – outra super ativação do grau onde ocorreu a conjunção Júpiter-Saturno, de 21 de dezembro de 2020 – mas, na verdade, Vênus e Marte ficam fundidos por vários dias, dançando juntos com até 17 minutos de distância entre si, de três a oito de março, entre os graus 27 de Capricórnio e 01 de Aquário! Podemos dizer que Vênus estará no coração de Marte ou que Marte estará no coração de Vênus! Será possível os dois nascendo juntos na alvorada – olhe pro Leste, antes de o Sol nascer! Vênus continuará em recuperação até o dia 19 de março, quando volta à sua forma e velocidade normais, o que soma exatamente três meses após o início de sua retrogradação, em 19 de dezembro.
Então, temos dois fatos extraordinários sobre este trânsito de Vênus por Capricórnio. O primeiro é a duração do trânsito em si, de 05/11/2021 a 06/03/2022, quatro meses, quando o usual é menos de quatro semanas! O segundo é que Vênus e Marte ficarão conjuntos por muitas semanas nessa dança sensual e erótica, num abraço profundamente intenso, passional e transformador, porque também estarão colados a Plutão – que baita ménage à trois! No total, a conjunção entre Vênus e Marte ficará ativa de 29 de janeiro até seis de abril (mais de dois meses, quando o comum é cerca de três semanas!!!), se considerarmos um orbe de oito graus aproximando e seis separando – Vênus ingressa em Peixes no dia cinco, o que enfraquece a conjunção.
Se a descida Venusiana ao Mundo Inferior simbolizada pela retrogradação de Vênus conjunta a Plutão significou o confronto conosco mesmos, nossas verdades afetivas, reconhecimento de padrões emocionais e relacionais – na vida privada e profissional/mundana – e a percepção da necessidade de mudanças nessas esferas, a partir daqui, esse encontro longo e tórrido com Marte representa a Chamada à Ação – Call to Action -, quando teremos que manifestar na vida real e concreta todas as decisões a que nos levaram nossas revisões recentes. A questão é: vamos conseguir realmente botar tudo em prática? Ou vamos escorregar nos padrões antigos, ainda por medo de perder o outro, a segurança, o afeto, a aprovação, a posição, etc., etc., etc.?
Haja coração, haja estrutura, haja resiliência, haja tesão, haja energia, haja amor e romance pra dar conta de tudo isso! Mas pode ser que também tenhamos muitas tensões e lutas de poder, porque são dois princípios opostos precisando ser conciliados: o impulso para a independência e a individualização – que implica separação – simbolizado por Marte, e o impulso para a união, a troca e o relacionamento, simbolizados por Vênus – tudo isso super potencializado por Plutão.
A conjunção de Vênus e Marte é um grande paradoxo e representa um dos dilemas mais antigos e clássicos da existência humana: o dilema entre o Amor e a Vontade, o dilema entre investir em si mesmo para ser uma entidade separada e autônoma no seu próprio direito ou juntar-se a uma outra entidade para compartilhar vida e experiências, amar e ser amado – o que vai implicar em ceder e abrir mão da própria vontade, muitas vezes. Relacionar-se implica exatamente em aprender a grande arte da dança sutil de conciliar o amor e a vontade, de estar com um outro, sem deixar de ser nós mesmos; de ser nós mesmos, sem que isso implique em excluir os outros da nossa vida. Dilema velho, tão velho quanto o mundo; tão velho quanto o próprio viver; tão velho quanto nos percebermos humanos, precisando uns dos outros.
Como cada pessoa vivencia esse casamento de forças tão intensas, depende muito de como essa configuração ocorre no mapa pessoal e também da maturidade emocional e relacional de cada um. O quanto já nos conhecemos, analisamos, testamos, confrontamos… do quanto já nos educamos sentimentalmente.
Vale a pena olhar como vivenciamos as últimas retrogradações de Vênus e onde elas ocorreram no nosso mapa, especialmente, a última, ocorrida em Capricórnio, oito anos atrás, entre 21/12/2013 e 31/01/2014 – o que estava rolando na sua vida nessa época? Essa retrogradação ocorreu entre 28°58’ e 13°33 de Capricórnio, praticamente a mesma faixa do Zodíaco e da casa natal afetadas na retrogradação atual. Eu escrevi meu primeiro artigo sobre Vênus retrógrado exatamente nesta época, que você poder ler aqui. Naquela época, tivemos alguns significadores bem parecidos com os de agora: Vênus retrogradou duplamente eremítica: em Capricórnio e sem fazer aspectos com quaisquer outros planetas, em completo isolamento (nem tinha pandemia rolando); voltou ao movimento direto conjunta a Plutão e quadrando Urano, que então estava entrando no segundo decanato de Áries. A presente retrogradação de Vênus por Capricórnio fechou, portanto, um ciclo de oito anos – mais um! – e formou um pentagrama perfeito no nosso mapa, entre os signos de Áries, Gêmeos, Leão, Escorpião e Capricórnio – aas casas do mapa natal onde temos estes signos estão conectadas pelos temas venusianos durantes os períodos de retrogradação.
Marte, que normalmente já é um grande disparador dos movimentos e dinâmicas astrológicas, estará em maior destaque até o mês de abril e torna-se parte crucial no desenrolar dos temas da retrogradação Venusiana.
Vênus volta ao movimento direto num fim de semana em que temos CINCO corpos celestes no signo da Cabra Realista: Marte, Vênus, Mercúrio, Lua e Plutão! É para não deixar dúvidas: essa trabalheira toda das últimas semanas, o quebra-quebra da dureza do nosso coração enrijecido, tudo isso tem que levar a ações e atitudes concretas, tem que alterar nossa realidade relacional – Senão, teremos que nos haver com Saturno, regente de Capricórnio, o Senhor do Tempo e do Carma… ou seja, quanto mais a gente adia, maior a conta fica! Vai pagar à vista ou parcelar com juros e correção?
A conjunção Vênus-Marte, obviamente, tem muitas implicações, além dos significados para nossa vida afetiva e emocional. Mundanamente, Marte é o detonador de dinâmicas e configurações e, ao fazer essa conjunção a Plutão, ajudado por Vênus, provavelmente teremos acordos (Vênus) sendo implodidos ou explodidos (Marte-Plutão) ou, debaixo de fortes pressões e ameaças, sendo completamente transformados e reestruturados. A presença de Vênus na conjunção Marte-Plutão em Capricórnio pode suavizar a pressão e impedir a detonação das granadas. Por outro lado, pode ser que Vênus, por estar sem forças e em recuperação, não tenha nenhuma chance e seja completamente esmagada – significando a destruição de muitas esperanças. Algo preocupante, considerando as notícias do mundo: a escalada da Covid em mais uma onda de contaminações e morte; a escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia. Vênus-Marte-Plutão juntos podem significar casamentos ou alianças ultra poderosas e transformadoras, mas também podem sugerir a destruição implacável de acordos longamente costurados.
De 26 de janeiro a 14 de fevereiro, teremos ainda quatro planetas em Capricórnio, com a participação eventual da Lua entre 29-31 de janeiro. É muita realidade para enfrentar e muita ação a adotar! Ao invés de temer tudo isso, cabe-nos perceber como podemos utilizar, bem ao gosto de Capricórnio, todo esse pragmatismo e realismo a nosso favor! Podemos começar adotando posturas muito mais autossuficientes e autorresponsáveis, de nós para conosco mesmos e também nos nossos relacionamentos no mundo, afetivos ou de outra natureza.
Na melhor das hipóteses, uma relação ou casamento simbolizados por Vênus e Marte em Capricórnio é uma união baseada em maturidade, responsabilidade e realismo – e isso é ótimo considerando-se a Grande Euforia e o arrebatamento representados pela conjunção Júpiter-Netuno em Peixes. Arquetipicamente, no casamento capricorniano não há expectativas irreais, não há idealizações, não há indivíduos ansiando que o outro os salve e os redima. Há, sim, uma troca justa, um compartilhamento das responsabilidades, um equilíbrio no dar e no receber. Faz-me lembrar de uma frase de Rilke: “o amor é o encontro de duas solidões que se protegem, se tocam e se acolhem”; e de uma outra de Exupéry: “amar não é olhar um para o outro, mas olharem ambos na mesma direção” – isso, definitivamente, são almas capricornianas planejando os mesmos objetivos de futuro! O fato de Vênus e Marte dialogarem com Júpiter e Netuno em Peixes na sua ascensão por Capricórnio pode agregar muito de gentileza, sensibilidade e imaginação a esses projetos Capricornianos! Se estivermos numa boa sincronia conosco mesmos, esse pode ser o começo do que eu chamo de Ascenção do Amor Real, ou Ascenção do Amor Realista.
Para concluir, esse super casamento Vênus-Marte saindo de Capricórnio e entrando em Aquário (isso aqui já dá outro artigo) pode ser muito bom ou pode dar muito ruim, dependendo, como disse no outro artigo, de como isso ativa nosso mapa, de quais pontos estimula e como, além, é claro, de nosso autoconhecimento e maturação emocional. Já no plano coletivo, é certo que viveremos mais uma etapa desse longo e múltiplo processo alquímico de calcinatio, nigredo e putrefactio iniciado em 2020 ao qual teremos agregado em 2022 uma outra parte do processo; a Solutio de Júpiter-Netuno em Peixes (assunto para outro artigo). Mais uma das muitas horas dessa longa Noite Escura da Alma Coletiva! Se estivermos atentos e fizermos nossa parte do trabalho, teremos uma boa quantidade de pedra filosofal no fim de tudo isso!
Estejamos despertos e prontos!
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