Lua Nova e Eclipse Solar em Touro: Foco ou dispersão?
A Lua Nova em Touro desta terça-feira é também um Eclipse Solar Anular (29 de Abril, 03h14min, hora de Brasília). O eclipse anular é um tipo de eclipse parcial do Sol, em que o diâmetro da Lua não é suficiente para encobrir o Sol, criando-se uma espécie de halo ou anel de fogo.
Segunda Lua Nova do ano astrológico, este eclipse fecha a primeira estação de eclipses do ano e de certa forma sinaliza a diminuição da tensão psicológica dos últimos meses. A Grande Cruz Cardinal vai gradualmente se desfazendo, ficando ativa até o dia 25 de maio, se permitirmos uma orbe bem ampla de 10 graus.
O eclipse ocorre no grau nove de Touro (8°51’), conjunto a Mercúrio a 12°31’ e ao Nodo Sul a 28°24’ de Áries. Faz também um sextil próximo a Netuno em Peixes e um sextil amplo a Júpiter em Câncer e ainda trígono a Plutão em Capricórnio e quincunce aplicativo a Marte. Há uma ênfase extraordinária em Terra e Água, sendo Marte o único ponto em Ar e Urano o único de fogo, indicando um mapa pesado, realmente denso, em que outras perspectivas mais leves não vêm facilmente. Fogo e Ar tornam-se funções inferiores e vão para o inconsciente. A carência de Ar nos fala de uma falta de objetividade e de distanciamento racional e quando há um ponto único por elemento como é o caso aqui, este ponto tende a ficar “dormente”, inconsciente e quando irrompe, o faz de forma compulsiva, impondo-se a tudo o mais, como a recuperar o tempo em que esteve inoperante. Pouco Fogo também aponta para uma falta de visão, de otimismo e de motivação e ignição e novamente temos um único ponto neste elemento, Urano em Áries. Com tal ênfase em Terra e Água a tendência é vermos o mundo de forma muito literal, favorecendo a “realidade” e estendendo nossa subjetividade para o mundo à nossa volta. Assumimos que todos pensam, sentem e vivem como nós, ou pelo menos deveriam, pois o nosso jeito é o jeito “certo”.
Touro é o bebê descobrindo o próprio corpo de forma sensorial, perdido em si mesmo, de modo que tem dificuldade de olhar para fora (isso só vai acontecer na próxima fase de desenvolvimento, em Gêmeos). Assim, a maior parte do tempo tendemos a ver o mundo e resolver as coisas de forma prática, literal e subjetiva, mas de vez em quando a função inferior irrompe e torna-se dominante, levando a comportamentos extremistas. É quando de repente, a despeito de tudo o que viemos fazendo, temos “surtos” de objetividade excessiva (Ar) e de otimismo exagerado e infundado (Fogo), contradizendo diretrizes e ações tomadas anteriormente. Às vezes estes “surtos” têm um efeito positivo, mas em muitas outras pode ser devastador. Como resultado, nossa ação carece de equilíbrio e coerência.
A conjunção com Mercúrio indica um afunilamento das percepções, uma dificuldade em ver o ponto de vista de outros, uma visão de vida que tende a ser rígida e inflexível. Por outro lado, os aspectos que Sol e Lua fazem com Júpiter e Netuno adicionam um pouco de imaginação e fantasia, mas de novo, como estes planetas estão em Água há certamente uma fertilização e fecundação pois a Terra absorve a Água tornando-se úmida e propícia ao plantio, porém, a densidade é aumentada e continuamos focados apenas em nossas próprias impressões e sentimentos. O Grande Trígono em Água formado por Júpiter-Saturno-Quíron pode significar uma compaixão que nos obrigue a olhar para fora, mas Grandes Trígonos são complicados porque tendemos a tê-los como garantidos e não nos esforçamos por utilizar os talentos e benesses por eles prometidos, o que em última instancia implica desperdício. O trígono a Plutão favorece a profundidade e a habilidade de lidar com crises, mas de novo, um trígono pode ser mal aproveitado e não há garantias de que empregaremos devidamente os recursos por ele oferecidos. A conjunção com o Nodo Sul sugere que questões do passado podem aflorar dificultando o avanço em direção a algo realmente novo, pois o Nodo Sul sempre nos puxa para o que é mais fácil e cômodo. E por último, há ainda um quincunce amplo, mas aplicativo a Marte retrógrado em Libra, simbolizando tensão, irritação e uma grande incongruência entre a vontade idealista, mas frágil de Marte em Libra, a diretriz maior do Sol e a necessidade de segurança e nutrição da Lua. A motivação vem e vai, instável, sem constância alguma e dispersamos energia movendo-nos de uma causa a outra, sem finalizar nenhuma, desperdiçando tempo e recursos. A Lua Nova acena com a promessa da realização de algo sólido e tangível, mas o potencial talvez não se cristalize porque o homem da ação e execução, Marte, pode se perder em abstrações excessivas e ideais de perfeição. Ou, indo numa outra direção, talvez o excesso de pragmatismo Taurino embote completamente uma abstração saudável e necessária e que poderia adicionar leveza e beleza – substância demais pesa, qual pão com muita massa e pouco fermento. Richard Idemon diz que quincunces sempre falam de paradoxos, e no caso de Touro-Libra é exatamente a discrepância entre Ideal e Real. Libra anseia por perfeição estética, algo impossível na dimensão do real, porque tão logo manifestamos a visão no plano concreto, ela é percebida como falha porque é da natureza da realidade ser imperfeita, além disso toda idéia é potencialmente perfeita enquanto está sendo planejada uma vez que está ainda no reino das possibilidades infinitas, todavia, para que algo seja concretizado, precisamos fazer escolhas entre todas essas possibilidades, e pôr a mão na massa, na matéria bruta e imperfeita, o que imediatamente implica limitar o ideal.
Vênus, a regente do eclipse, está exaltada em Peixes, uma posição bastante favorável por ser extremamente imaginativa e compassiva, o que diminui a excessiva literalidade e brusquidão de Touro. Porém Vênus está fora de curso*, submersa em suas próprias fantasias, perdida em si mesma. Alguns autores (2) relacionam planetas fora de curso com irritação e tendência a procrastinação, que obviamente deve ser combatida. Considerando que o planeta não vai fazer aspecto com nenhum outro até entrar no próximo signo, acredito que isso traz um isolamento e dificuldade de comunicar os objetivos e anseios relacionados àquele planeta. Neste caso, vejo uma certa inabilidade em trazer à tona e concretizar as aspirações, sonhos e visões desta Vênus tão sonhadora; uma tendência a procrastinar na resolução de conflitos relacionais, algo realçado por estar Marte, o planeta da ação, retrógrado em Libra, também regido por Vênus.
A Interpretação de Bernadette Braddy para esta série de eclipses confirma isso. Este eclipse faz parte da Série Saros 16 Sul de acordo com a nomenclatura de Brady, ou Série 148, de acordo com a Nasa. Esta série iniciou-se a 21 de setembro de 1.653, às 16:12, no Pólo Sul. Brady aponta que Netuno está no Ponto Médio entre a Lua Nova e o Nodo Sul e que Marte está no Ponto Médio entre Urano e Netuno e sua interpretação é a seguinte: “Sob a influência desta família de eclipses indivíduos se encontram lidando com questões de energia desperdiçada ou motivação mal direcionada, particularmente ao lidar com grupos. Pode haver inspirações repentinas, mas que são potencialmente insatisfatórias. Ações reais não devem ser tomadas.”
Colocando tudo junto, não se trata de ser pessimista, de fazer drama ou de ver somente os aspectos difíceis dessa Lua Nova. Na verdade, é exatamente o contrário: trata-se de ser realista como exige Touro. De se permitir longas deliberações ao invés de ação impulsiva e imprudente.
A grosso modo, o Eclipse Solar e Lua Nova de hoje vêm propiciar um chão sólido onde firmarmos os pés depois de todos os terremotos a que estivemos sujeitos nos últimos meses. Sugere um novo ciclo de manifestação no plano real das mudanças que adotamos recentemente, algo que seja prático. Sim, é tempo de plantar novos e fecundos começos (Lua Nova em Touro), porém sem tomar medidas radicais; é preciso não criar expectativas excessivas e cuidar para não tentar abraçar o mundo com as pernas, porque o resultado poderá ser de fato desperdício de energia e de recursos (Vênus-Peixes/Marte-Libra). É preciso também cuidar com a tendência a ver as coisas de forma unilateral, excessivamente focada, qual burro com viseiras ou antolhos, que só permitem ver o que está à frente, sem possibilidade de cogitar o que está ao lado ou atrás (Touro). Lembrar de ter distanciamento e objetividade (Ar) e permitir que a intuição e a imaginação (Fogo) se manifestem de vez em quando. É preciso também atentar para a regressão aos padrões antigos que já deveriam ter sido ultrapassados e transmutados, ou no mínimo utilizar a segurança do conhecido como trampolim para os novos desafios, ao invés de permitir que isso seja ponto de estagnação (Nodo Sul).
A Grande Cruz Cardinal, ainda bastante ativa, demanda que continuemos fazendo ajustes. A Grande Cruz é como um cruzamento de trânsito em avenidas super movimentadas. Todos querem passar, todos têm pressa e se todos vão ao mesmo tempo o desastre é fatal. Para que se consiga trafegar sem problemas é preciso grande coordenação e negociação, onde um cede a vez ao outro, onde ajustes são necessários para que a ação e tráfego possam fluir. Como pano de fundo desse eclipse, a Grande Cruz exige que façamos estes ajustes entre o sonho visionário e a realidade concreta; entre o tangível (Touro), o intangível (Peixes) e o ideal (Libra); entre nossa visão focada e concentrada e o mundo à nossa volta.
De resto, é tocar a vida adiante, fazendo estes ajustes onde for necessário e sendo grato pelas dádivas que se nos apresentam, apreciando seus prazeres de forma inteira, como quando se chupa fruta madura e suculenta, mas sem necessariamente se empanturrar ao ponto da indigestão. A simplicidade, o realismo, o pragmatismo, a cautela e a deliberação de Touro aliados à sensibilidade de Vênus em Peixes podem funcionar como contraponto ao excesso de tensão e ação dos últimos tempos, desde que fiquemos atentos ao grande potencial de dispersão de energia implicado nesta Lua Nova. símbolo do novo ciclo.
De forma mais específica, para se ter uma pista dos efeitos pessoais deste eclipse, volte 18 anos no tempo, exatamente a 17 de abril de 1996, que foi quando ocorreu o último eclipse desta série, a 28° de Áries. Vale a pena verificar o que estava acontecendo na sua vida naquele período porque os temas desencadeados são os mesmos. Outra coisa: eclipses e Lunações são sentidos mais intensamente quando tocam algum ponto sensível no mapa natal, como um planeta ou um ângulo e sua manifestação e feitos são verificados na área de vida representada pela casa em que ocorre. Caso você tenha planetas ou ângulos entre os graus 3 a 13 dos signos fixos (Touro, Leão, Escorpião e Aquário) certamente sentirá seus efeitos de modo agudo.
(*) Um planeta fica Fora de curso ou vazio quando não fará mais nenhum aspecto maior com outros planetas antes de entrar no signo seguinte. Este termo é mais comumente atribuído aos movimentos da Lua.
Leia sobre a Lua Nova e eclipse Solar em touro de 2013
Leia sobre a Lua cheia em Touro de 2013
Fontes Consultadas:
(1) Berdadette BRADY – The Eagle and The Lark – Predictive Astrology
(2) Jill MELICHAR, citada por Molly CLIBORNE GAUTHIER em seu site: mollysastrology.com
(3) Karen HAMAKER-ZONDAG – Aspects and Personality
(4) Sue TOMPKINS – The contemporary Astrologer’s Handbook
Lindo texto, maravilhosa análise, adoro quando me permito o tempo necessário para ler seus posts.
Obrigada.
bjs
Gratidão imensa, Juliana Crudo!
Adoro quando sei que você leu meus textos!
Grande abraço!
🙂
Adorei esse seu artigo Maria Eunice! Muito bem fundamentado e objetivo. Fui lendo e concordando ponto por ponto. Certamente orienta o leitor a questionar-se caso toda essa planetada em touro, exercer sobre si uma influência teimosa que o leve a empacar em algum assunto…Grata por tão boa leitura!