Lua Nova e Eclipse Solar em Escorpião: a vontade e o destino

ECLIPSE SOLAR SCORPIO
Birth Chart Painting – Reprodução

O grau zero de um signo, assim como o último grau, é considerado um grau crítico porque contém a essência pura e extrema do signo em questão. É a introdução do estudo, do livro, da fala, que sumariza o objetivo do livro inteiro. O grau zero do signo mostra a que ele veio. É uma energia extrema e concentrada, que quer ser vista, reconhecida e endossada. Imagine então termos uma Lua Nova que é também um eclipse solar com três planetas conjuntos no grau zero de Escorpião, o signo por excelência da concentração de energia? Pois assim se dá esta Lua Nova super potente de hoje (23 de outubro de 2014, Lua Nova a 19h56min e Eclipse Solar a 19h46min – Horário Brasileiro de Verão, Brasília), Lua Nova que é também o último eclipse do ano de 2014, e o último eclipse em Escorpião com Saturno ainda neste signo, o que vem destacar todo o trabalho empreendido por Saturno nos últimos dois anos na área da intimidade, dos sentimentos, da sexualidade, dos tabus, etc.

E o que simboliza Escorpião? Escorpião é o signo da morte e do renascimento. Da regeneração, da reciclagem, da consciência dos ciclos de vida e morte. É também o signo onde, depois de termos encontrado um parceiro em Libra, vamos ao quarto de dormir para “conhecer” este parceiro mais intimamente – podemos até usar o verbo “conhecer” no sentido bíblico. É pois, o signo do sexo, no sentido em que é a maneira mais íntima de se conhecer alguém – isso se se permite a entrega absoluta, claro. Se é um parceiro de negócios, em Escorpião partilhamos com ele os bens, o dinheiro, a conta bancária – não é por acaso que dinheiro e sexo  são tão intimamente associados, pois é em Escorpião que eles se encontram. Escorpião é ainda o signo do sobrevivente, daquele que não sucumbe e que morre muitas vezes numa mesma vida, para renascer outras tantas, completamente regenerado e pronto para outro ciclo de atividade intensa. É, assim, o signo dos fins e dos recomeços, entre muitas outras coisas. Escorpião tem uma noção tão clara dos ciclos e da finitude da vida, que se sente que uma situação se estagnou, ele próprio provoca sua destruição e seu fim, mesmo que isso signifique sua própria morte e aniquilação. Por isso, o inseto escorpião é quem o nomeia, além de ter também a serpente como um de seus símbolos. Isso é Escorpião, uma energia de morte tão poderosa quanto é a da vida.

Indo além e analisando o mapa da Lua Nova e Eclipse Solar, vemos que há uma grande ênfase no elemento Água, o elemento dos sentimentos, da intimidade, da subjetividade. Isso porque, depois de várias semanas com ênfase em Ar, três planetas ingressaram hoje em Escorpião: o Sol, às 09h58min; Vênus às 18h52min e a Lua, que ingressa às 19h10min, além de Saturno que já está neste signo há dois anos e de Netuno e Quíron em Peixes. Toda essa Água, especialmente a água escorpiônica, fala de um momento denso, de transformação visceral, nos níveis mais profundos da psique, de nossos sentimentos e vivências, na forma como experimentamos o mundo e como sobrevivemos nele. Temos no momento apenas Mercúrio em Ar, e ainda debilitado, retrógrado, prestes a estacionar para voltar ao movimento direto, o que torna as energias ainda mais densas, ainda mais que Mercúrio está enredado numa Cruz T com Urano e Plutão. Falta objetividade, lucidez, clareza, enquanto sobra subjetividade, passionalidade, instinto. Falta ainda realismo e pé no chão, já que Plutão em Capricórnio é o único planeta em Terra. A Mercúrio, como único tom em Ar, cabe a função da reflexão introspectiva, cabe maturar, mediando os reinos conscientes e inconscientes da vivencia na vigília, e a ponderação cuidadosa das escolhas já feitas e daquelas que estamos ensaiando. Porém, estando Mercúrio tão pressionado, há dúvidas quanto à “quantidade” de racionalidade de temos à nossa disposição, por assim dizer.

Lua Nova e eclipse solar Escorpião 2014
Lua Nova e Eclipse Solar em Escorpião – 23 de outubro de 2014, Lua Nova a 19h56min e Eclipse Solar a 19h46min – Horário Brasileiro de Verão, Brasília

Essa Água toda é ainda realçada pelos dois únicos aspectos maiores que a Lua Nova faz. Um é a conjunção com Vênus, que está apenas alguns minutos atrás do Sol e da Lua – embora Vênus seja considerada um planeta benéfico, em Escorpião ela também não está na sua melhor forma, tendo ação mais sombria e introspectiva. O outro aspecto é um trígono a Netuno em Peixes, e este trígono, mesmo sendo um aspecto visto como “harmonioso”, não muda a natureza de Netuno, que sensibiliza, confunde, nubla, ilude. E, claro, conforme falamo no início, há três planetas no grau zero de Escorpião, tornando as qualidades representadas por este signo muito importantes aqui.

Outro ponto preocupante é que Marte, o regente primeiro de Escorpião, está “fora de limites” por declinação, viajando a 24°55’ ao Sul. Um planeta está “fora de limites” quando cruza o limite máximo do caminho do Sol, seja ao Norte ou ao Sul. No seu caminho anual, o Sol se desloca até 23°26 graus ao Norte ou ao sul do Equador, voltando na direção contrária ao atingir este limite. A maioria dos planetas do sistema solar mantém-se dentro destes limites a maior parte do tempo, mas eventualmente algum deles ultrapassa essa fronteira, e é então chamado de “fora dos limites”. O que significa isso? Ora, a expressão fala por si mesma! Sem limites! Explico: o Sol é considerado a autoridade máxima num mapa astrológico, isso porque representa a consciência, o senso de propósito; é um centro controlador e norteador de toda a personalidade. É como o Rei e o reino está sob seu domínio e jurisdição, arquétipo, aliás, associado ao Sol. Se um planeta vai além dos limites do Sol, significa que está fora do seu controle, fora dos limites da autoridade máxima, que “deixa o caminho bem trilhado controlado pela autoridade central (o Sol) e desaparece na floresta sombria” (2), fazendo o que lhe der na telha, tendo ação extremada, voluntariosa, selvagem, quebrando todas as regras e agindo somente a partir de si mesmo. Agora, se lembrarmos que Marte já é instinto puro e que já é impulsivo e precipitado sob a condução do Sol, imagine então se estiver “fora dos limites”! Torna-se um fora da lei, o que significa resultados imprevisíveis na ação durante o período em questão. A meu ver, o fato de Marte estar fora de limites aumenta a subjetividade dessa Lua Nova. O que nos remete ao eclipse em si.

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Geometria de um eclipse solar – Wikipedia – Reprodução

E que é um eclipse solar? Num eclipse solar a Lua interpõe-se entre a Terra e o Sol, bloqueando e “ocultando” a luz solar sobre a Terra. Como dissemos acima, o Sol representa a consciência, o centro regulador da personalidade, assim, num eclipse solar temos diminuída a objetividade e a consciência solar e aumentadas a subjetividade e a sensibilidade lunares.

O que quero dizer com tudo isso? Que este é um eclipse difícil de se prever os efeitos e os resultados, pois nos guiamos mais pelo instinto e pelas paixões, tendo pouca objetividade e consciência do que estamos fazendo; tem uma qualidade compulsiva e extremada neste eclipse, sinalizada de várias formas, aumentando a intensidade com que é sentido.

Saros New North 17
Série Saros 17 New North

Referindo-me aos estudos da Dra. Bernadette Brady (1) sobre eclipses, encontro que este eclipse pertence à Série Saros 17 new North, a mesma série do eclipse de duas semanas atrás. Como eu dizia no post de então, analisando o mapa inicial desta Série Saros, percebe-se que o tema do desejo e da paixão é intrínseco a esta família de eclipses.  O mapa inicial desta série, que se inicia em 28 de julho de 1870, às 11h18min (GMT) mostra “Vênus conjunta a Marte enquanto o Nodo ocupa o Ponto Médio entre a Lua Nova e Vênus e entre a Lua Nova e Marte, assim como o Ponto Médio entre Mercúrio e Vênus”, diz Brady. Sua interpretação é a seguinte: “Esta série traz uma energia impulsiva aos eventos. As socializações se tornam agitadas emergem questões que motivam o indivíduo. Esta motivação pode ser relacionada a projetos financeiros ou a questões de relacionamentos. Qualquer que seja a motivação, ela é impulsiva, passional e excitante” (1). Havendo uma conjunção Vênus-Marte, aumenta-se a passionalidade e a impulsividade. Neste mapa de hoje, Marte e Vênus estão em sextil próximo, mas fora de signo (fora de signo porque Escorpião, signo em que Vênus está, faz sextil natural com Capricórnio e não com Sagitário, onde Marte atualmente trafega). De qualquer forma, em Escorpião Vênus está submetida a Marte e é profundamente visceral e intensa.

Tudo isso vem significar para mim que muitas das transformações que ocorrem na psique e ao nosso redor, talvez aconteçam à nossa revelia, à revelia da consciência solar, obedecendo mais ao ritmo do inconsciente, a um “se deixar levar, se deixar ser guiado”. Isso não quer dizer que podemos simplesmente relaxar e fazer nada. Muito pelo contrário! Aqui é que precisamos ficar mais atentos e vigilantes, para não sermos tomados por impulsos instintivos e talvez até destrutivos. As energias intensas deste eclipse obscurecem a lógica, a lucidez, a objetividade, demandando que entremos em meditação, que estejamos ancorados e tentemos alcançar um centro de serenidade, para que estejamos prontos a entregar o que nos for pedido, seja lá o que isso for, evitando, ao mesmo tempo, atuar por impulsos irracionais e paixões cegas. É preciso alcançar um equilíbrio delicado entre o estado de presença e inteireza de quando estamos plenamente conscientes do que somos e do que fazemos e o estado de rendição e humildade de quem se permite ser trabalhado e ser transformado – exatamente como um Escorpião positivo, que é, ora catalizador de transformação, ora submetido a ela de forma inexorável. Há coisas que precisamos deixar para trás, abrir mão, permitir que sejam eliminadas e extintas, até mesmo eliminado-as de forma ativa e consciente; e há outras coisas que talvez sejam tiradas e eliminadas de nossa vida à nossa revelia e tudo o que podemos fazer é concordar com o novo, confiando que a Consciência Maior sabe o que faz. Ativamente precisamos limpar as gavetas, os quartos, os porões, os quintais, sabendo que haverá coisas que não conseguiremos jogar fora, por um motivo ou outro, e que, se tais coisas forem arrancadas de nós, devemos deixá-las ir, sem perder a cabeça, o tino, a razão, estando leves, com pouca bagagem, prontos e dispostos a embarcar numa nova viagem, numa nova aventura quando ela bater à nossa porta.

Falando em aventura, o Símbolo Sabiano para o grau zero de Escorpião onde ocorre o eclipse e onde temos os três planetas em conjunção exata (Vênus, Lua, Sol) tem a seguinte imagem: “um ônibus de passeio repleto de turistas”.  Lynda Hill diz que este símbolo fala “de tomar o mundo através dos sentidos: visão, paladar, tato, olfato… Observando-se e entrando em contato com o que está acontecendo; pode haver uma sensação de saber o próprio destino, de se ter um mapa ou guia, mas sem saber qual é o destino realmente; de se sentir guiado e protegido, mas há o sentimento de ser um mero observador e às vezes, de ser observado. Há também a sensação de se estar separado do que está acontecendo em volta. Provavelmente levaremos souvenirs e tiraremos fotos da viagem. A dica deste grau é jogar-se na vida, alcançar todos os tipos de aventuras, e, acima de tudo, aproveitar o passeio. Observar a vida. Ver como as pessoas vivem. Timing. Ser pontual. Assistir de longe. A estada não tentada e não trilhada, ou o mesmo caminho. OVNIS e extraterrestres”. Hill ainda alerta para tomarmos cuidado com “sentimentos de ingenuidade e credulidade; sentir-se alienígena mesmo no ambiente familiar; sair da própria profundidade; ansiedade de separação; incapacidade de concentração”. (3)

Como vemos, é questão de concentrar a energia; de equilibrar a vontade e a escolha pessoal sem deixar de aproveitar o passeio, jogando-se na vida com ímpeto e confiança, sem nos tornarmos crédulos e ingênuos. Experimentar o mundo e a vida a partir das próprias sensações, da própria subjetividade, sim, mas sem deixar de ter um distanciamento mínimo, sem se identificar demasiadamente com o que experimentamos e sentimos. Por fim, somos confrontados com a escolha entre a estrada não experimentada, ainda não tentada ou seguir pelo mesmo caminho – o que não quer dizer que seja ruim só por ser conhecido.

Para termos esse senso de timing, de estarmos prontos quando a vida nos requer, é preciso estar inteiro, completamente presente, aproveitando o que há ao nosso redor, sem, no entanto julgar, nem nos identificar com nada, exatamente como nos estados meditativos profundos. Um raro e delicado equilíbrio entre a subjetividade, vontade e intenção consciente e a Vontade maior chamada Destino. Este estado meditativo ajuda também a conter e lidar com a ansiedade e a intensidade do momento sem que isso cause estragos desnecessários.

Se conseguimos este delicado equilíbrio, temos chance de ver descortinada à nossa frente uma vida nova, transformada, regenerada, renovada, de novas e mais autênticas intenções. Assim, é, escolher o trajeto e aproveitar o passeio, estando inteiro no momento presente.

NOTA: Pessoas com planetas nos últimos graus, ou nos últimos dias dos signos cardinais (Áries, Câncer, Libra, Capricórnio) e nos primeiros graus e primeiros dias dos signos fixos (Touro, Leão, Escorpião, Aquário) sentem as energias deste eclipse de forma mais intensa.

(1) Bernadette Brady – The Eagle and The Lark – Predictive Astrology

(2) Lunarium – The out of bounds planets

(3) Linda Hill – Sabian Oracle

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Maria Eunice Sousa é astróloga de orientação psicológica, formada pelo Centro de Astrologia Psicológica de Londres, fundado e dirigido por Liz Greene. Mora em Cuiabá, onde atende com Astrologia, trabalhando também como tradutora e intérprete (Inglês-Português). Além de Mapa Natal e Revolução Solar, também atende com Astrocartografia e Espaço Local (formada pelo Kepler College), Mapa Infantil, Mapa de Relacionamento e Mapa Vocacional.

7 thoughts on “Lua Nova e Eclipse Solar em Escorpião: a vontade e o destino

  • 24 de outubro de 2014 em 10:17
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    Maria Eunice, sua análise desta lua nova é surpreendente e reveladora…novidade pra mim a questão do planeta “fora do limite”, anotei essa pra por em prática em minhas análises (sou também astrólogo consultor). Grato! Marcio

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    • 24 de outubro de 2014 em 10:35
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      Olá Marcio, que bacana, você também é astrólogo!

      Então, com um eclipse solar na casa 12, esqueletos saem do armário e você vai precisar lidar com eles, com coisas escondidas, talvez até na própria familia. Em aspecto com Netuno, vai mexer com tudo o que Netuno significa: seu idealismo, romantismo, espiritualidade, anseios de redençao… Também com sua credulidade, ilusões, então cuidado com propostas que pareçam boas demais para ser verdade… Possível sensação de confusão, de estar perdido, desamparado, vulnerável… Seus medos inconscientes podem vir à tona e pode ser uma boa hora para lidar com isso. Só não entendi como o Sol pode quadra Netuno a 1 de Escorpião, estando a20 de Libra… Voce quis dizer conjunção ampla? Abraços

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      • 24 de outubro de 2014 em 11:17
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        Olá Eunice, eu quis dizer que Netuno está está enquadrado pelo Sol (técnica dos enquadramentos), não em quadratura…meu Sol está entre Júpiter e Netuno, está em conj ampla…abçao!

  • 24 de outubro de 2014 em 10:20
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    Outra coisa, tenho meu Netuno natal a 01 grau de Escorpião, em conjunção larga com meu nodo norte (10graus) na casa 12 e enquadrado pelo Sol a 20 de Libra (na 11)…teria alguma dica? Grato!

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  • 24 de outubro de 2014 em 12:42
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    Olha, com meu Sol em Aquário e Ascendente e Plutão em Escorpião, posso dizer que depois que li sobre este eclipse entendi porque estava quase explodindo!

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    • 25 de outubro de 2014 em 09:50
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      Obrigada pela visita e pelo feedback, Lucas!
      Realmente, um eclipse super intenso, acho que todos o sentimos, em menor ou maior grau. Você então, com todos estes signos fixos destacados, certamente o sentiu de forma inequívoca!
      Mas é para nossa transformação e evoluão!
      Volte mais vezes!
      🙂

      Resposta
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