Lua Cheia em Gêmeos – A desilusão como aprendizado
A Lua foi Cheia em Gêmeos hoje pela manhã, às 10h26min, hora de Brasília (13h26min hora de Portugal). A Lua Cheia em Gêmeos vem destacar os temas relativos a essa polaridade Gêmeos-Sagitário: conhecimento, aprendizado, viagens, educação, comunicação, mente inferior (lado esquerdo do cérebro), mente superior lado direito), o detalhe versus o macro, análise versus intuição. Gêmeos-Sagitário também traz presente o tema da dualidade, da duplicidade, da ambivalência.
Para termos noção da colheita que conseguimos na Lua Cheia é preciso olhar para o que plantamos na Lua Nova e aqui nos remetemos ao mapa da Lua Nova de Sagitário que ocorreu no dia 22 de novembro. Naquele mapa tínhamos Lua e Sol conjuntos no grau zero de Sagitário, os dois em conjunção ampla a Vênus, e todos eles em quadratura a Netuno, traduzindo uma falta de objetividade e clareza, um escapismo e talvez uma tendência ao auto-engano ou a expectativas irreais. Agora na Lua Cheia esses ideais encontram em Quíron o desvelar dessas ilusões, a percepção clara do que a névoa tinha escondido antes: que alguns daqueles objetivos ou metas eram ilusórios, irreais, não alcançáveis. Especialmente porque se na Lua Nova não havia Ar, não havia essa objetividade, agora a Lua em Gêmeos traz presente o Ar mais primitivo, e é essa objetividade clara que também nos ajuda a ver e perceber o que antes não víamos. Mas isso é motivo de nos desmotivarmos e desesperarmos? Claro que não!
Em Sagitário miramos alto, apontamos para o infinito, buscando elevar nosso espírito acima dos limites humanos. Em Sagitário filosofamos, buscamos significado, voltamo-nos para o futuro e o projetamos, auspicioso e alvissareiro. Em Sagitário somos a águia da montanha que sobrevoa a amplidão e tudo vê com sua visão de longo alcance. A visão é macro, é a visão do todo. Essas foram as sementes plantadas: sementes de expansão, de desenvolvimento, sementes que simbolizavam o ir além do conhecido, extrapolar os limites do cotidiano, além da mente racional e lógica para a mente superior e mais elevada, que aprende e descobre pela intuição, que não é explicável racionalmente.
Agora em Gêmeos descobrimos que precisamos integrar aquilo que antes ignorávamos ou talvez até desprezávamos: os detalhes, o como fazer, a realidade imediata em contraponto às projeções de futuro; em Gêmeos percebemos que a visão macro é importante, é vital, mas não funciona sozinha, pois vai deixar escapar detalhes que também são essenciais e que não são visíveis lá de cima, é preciso estar perto para percebê-los. Agora a mente superior e elevada precisa da mente inferior e lógica para pôr a Grande Visão em funcionamento, para fazê-la inteligível para outros e aplicável no dia a dia.
Essa integração da visão macro e micro, da informação com o conhecimento mais amplo e abstrato, da razão e da intuição, isso passa necessariamente pela assimilação e aceitação das limitações incontornáveis, como simbolizadas por Quíron. Aliás, todo este ciclo lunar trata do lidar com essas limitações, pede que negociemos dentro de nós os anseios de perfeição com a realidade factível. Isso porque A Lua foi nova em quadratura a Netuno, sugerindo, como já disse expectativas e ideais altos demais; o Quarto Crescente se deu com a Lua em Peixes “ensaduichada” entre Netuno e Quíron – e ali as ilusões já começavam a ficar meio desbotadas, já começávamos a suspeitar de algo fora do lugar – Mercúrio, o regente de Gêmeos já se aproximava da quadratura a Netuno; agora a Lua Cheia traz esse tema a um clímax; e mesmo na Lua Minguante, Lua e Sol ainda estarão em contato com Quíron, mesmo que de forma ampla, a Lua estando em Virgem, simbolizará então a assimilação e o aprendizado final, o que fica de útil depois de tudo o que experimentamos.
Lua e Sol estão, pois, em oposição, como é o caso na Lua Cheia e ambos fazem uma quadratura próxima a Quíron, que recebe hoje a quadratura exata de Mercúrio, o regente da Lua Cheia. O que isso nos diz? Primeiro, que agora finalmente acordamos do sonho, dissipamos a névoa, emergimos das águas netunianas e nos percebemos muito diferentes, “estranhos”, e que aquilo que tínhamos imaginado não se encaixa, que talvez sentimos que “nós” não nos encaixamos, por sermos tão diferentes, por termos esses ideais tão “estapafúrdios”, esquisitos, etc. Então, há um desapontamento, uma frustração, um impedimento à realização do ideal e do propósito e à satisfação das necessidades emocionais. E que tal impedimento deve nos levar a uma reavaliação na forma como lidamos com as necessidades e como buscamos tais propósitos. Que antes de nos deixarmos massacrar pela desilusão e pela revelação da verdade não tão dourada como tínhamos imaginado, precisamos na verdade integrar a experiência toda do começo ao fim, e colocá-la a serviço da cura da alma, a serviço de algo maior que nós, a serviço do todo; que a desilusão nos ajude a perceber a limitação e a feiúra da vida, mas que isso nos leve a exercitar a compaixão, o altruísmo, descobrindo o sentido da experiência através de uma abertura psíquica, que ultrapassa racional e intuitivo, que transcende as linguagens dominadas por nós e nosso cérebro.
A quadratura Mercúrio-Quíron, exata hoje, nos diz isso, que nem sempre é preciso entender tudo para vivenciar e usufruir a experiência; que há coisas que ultrapassam os limites de nossa consciência racional, e sem se indispor ou se defender contra isso, ganhamos mais ao abraçar a dúvida, a incerteza, o vazio e a falta de respostas objetivas. Então, lembro a frase de Sri Sri Ravi Shankar, que diz: “é bom estar desiludido. Significa que você está fora da ilusão e veio para a realidade”. A desilusão é na verdade um despertar e nisso, temos Urano fazendo seu papel nos trígonos ao Sol e a Mercúrio e no sextil à Lua Cheia de Gêmeos: precisamos despertar pra a verdade, acordar para a realidade do que realmente somos, assim, paramos de criar expectativas falsas, tanto a respeito de nós mesmos quanto dos outros com quem convivemos. O trígono Vênus-Júpiter também nos dá uma força para que não caiamos no tédio e no marasmo decorrentes das decepções e na conseqüente sensação de paralisia. Júpiter-Saturno também enfatizam a necessidade de equilibrar realismo e expectativa. Assim, não é o caso de largarmos tudo, a colheita pela metade, frutos esparramados pelo chão, só porque uma parte do plano não se revelou plenamente satisfatório ou se mostrou não realizável. Pelo contrário, essa experiência deve funcionar como um grande aprendizado, que é uma das funções de Gêmeos, deve ser usada para nos impulsionar para a vida com mais maturidade, com mais lucidez, sem escamas nos olhos, com a clareza luminosa da verdade, continuando a mirar alto, mas sem perder a noção do ambiente imediato em que estamos e suas limitações.
Corroborando isso tudo, o Símbolo Sabiano do grau 15 (14° – 14°59’) de Gêmeos traz uma imagem prosaica e de muita leveza: “Duas crianças holandesas conversando e estudando juntas a lição”. Lynda Hill explica este símbolo: “O símbolo mostra que se deve ser capaz de relaxar e de se sentir confortável com amigos, além de ser capaz de falar da própria verdade. Há necessidade de clareza e de pessoas afins comunicarem suas idéias espontâneas e criativas umas com as outras. A sensação de isolamento causada por sermos diferentes deve nos impelir a procurar aqueles com quem podemos compartilhar idéias e “estudar” assuntos de interesse comum. Deve haver alguém por perto que possa nos aconselhar ou nos ouvir quando precisarmos nos expressar em nossa forma única e singular para alguém que nos compreenda. O risco implicado no Símbolo é o de excluirmos a outros que são vistos como ‘diferentes’, talvez porque temamos, nós mesmos, a exclusão”.
Integração dos diversos reinos e esferas da experiência humana não é necessariamente fácil, mas é uma das nossas tarefas nesta vida, que nos cobra completude, inteireza. E inteireza não significa perfeição, significa exatamente abraçar a dúvida, a decepção. Integrar claro e escuro, pesado e leve, masculino e feminino, positivo e negativo, ideal e realidade. E termino com a frase lá de cima, porque acho que ela é forte e resume a mensagem desta Lua cheia: “É bom estar desiludido. Significa que você está fora da ilusão e veio para a realidade”
Que seu despertar seja suave e que a realidade lhe seja gentil!
gratidão! venho acompanhando os seus escritos desde quando você escreveu sobre as influencias de netuno na lua nova, e tenho tentado observar os meus processos com muita atenção. É impressionante como nunca tinha reparado a energia netuniana antes dessa forma…. e dessa vez ela veio poderosa.
me vi construir um castelo de areia durante a lua nova, com a lua em peixes entre netuno e quiron , o vento soprou forte e derrubou o meu castelo, pois era frágil e feito de ilusões. não era real, era tudo projeção… sabia que ainda que tivesse sentido a primeira rajada de vento, a cura pra ser verdadeira deve acessar os nosso cantos profundos e escuros, e isso nos leva a mais processos. ainda que o castelo tivesse caido, me parece que continuava a alimentar esperanças e expectativas de que talvez ele ainda pudesse ser reconstruído. A lua cheia me trouxe as frustrações e desilusões, a verdade nua e crua e também a assimilação desses movimentos. Sei que a ainda devo fechar esse ciclo na lua minguante, e que seja curador!
Gratidão pois os seus post, no meio de tanta nevoa, me trouxe luz para saber com que energia eu estava lidando, aceitei e estive atenta aos seus movimento.
Olá Renata,
Fico feliz que os posts tenham sido úteis. Realmente não é fácil lidar com a energia de Netuno, porque simplesmente não sabemos com o quê estamos lidando. Netuno pode se metamorfosear em qualquer coisa, derreter-se na pisagem, de maneira que não sabemos onde está, o que é… E vem mexer nos nossos anseios mais profundos de redenção e amor incondicional. Lidamos não com os enganos do outro, mas com as ilusões criadas por nós mesmos, e que apenas se manifestam através do outro. Espero que o ciclo seja de fato curador e que traga sabedoria e serenidade. Sempre há o risco de entrarmos na armadilha de nos culparmos, nos autoflagelarmos – não é o melhor caminho. Aceitar as coisas do jeito que foram, sem buscar culpados é mais sábio para que se possa aprender algo. Toda vez que buscamos “culpados”, ainda estamos nos recusando a ver a verdade.
Sagitário traz a bênção de descobrirmo um significado pra as coisas. Espero que você consiga, dissipada a névoa, perceber qual o sentido maior da experiência.
Desejo luz e serenidade e que o próximo ciclo seja restaurador!
Gratidão imensa por partilhar sua vivência aqui!
Tudo de bom!
🙂