Lua Cheia em Câncer: celebrando os vínculos, honrando a memória
A Lua foi Cheia hoje, 25 de dezembro, dia de Natal, às 09h11min, no horário de Brasília e às 11h25min no horário de Lisboa. A Lua Cheia ocorrendo no eixo Câncer-Capricórnio sempre nos leva de volta à família, às nossas raízes, às nossas memórias. Abri as redes sociais e vi exatamente isso: relatos emocionados de ceias de outros tempos, fotos de família em que se vê várias gerações, reuniões de amigos, celebrações, e, claro, tudo ao redor de mesas fartas, bonitas, com muuuuuuita comida, como supõe uma Lua CHEIA em Câncer e um dia de Natal. Isso porque Câncer é o signo da nutrição, não só física, mas também emocional e amorosa. Sendo signo de água e cardinal, é o signo cuja ação visa exatamente estabelecer a vinculação. A Água é o elemento dos sentimentos e da sensibilidade e para se criar vínculos duradouros os sentimentos são requisitos essenciais – Interessante notar que desde 1977 não tínhamos uma Lua Cheia coincidindo com o Natal e isso certamente enfatiza seus temas.
Câncer é o signo que nos lembra de onde viemos, que cristaliza a ideia de família, lar, raízes, a ideia de pertencimento, de pertencer a um clã. E um clã geralmente está inserido num grupo social maior, a tribo, representada pelo sigo oposto, Capricórnio, por onde trafega atualmente o Sol. Câncer representa nossa necessidade de vínculos, que em desequilíbrio pode se manifestar como carências, apegos ou dependências emocionais; a dificuldade de andar só e de ser independente; a necessidade frequente de colo e do olhar da mamãe, por isso a relação de Câncer com a Mãe é tão poderosa. Capricórnio, por outro lado, signo oposto regido por Saturno obriga Câncer a cortar o cordão umbilical e crescer e amadurecer; em Capricórnio aprendemos a ser autossuficientes, independentes, a nos sustentar nas nossas próprias pernas. Mas em desequilíbrio a Cabra se endurece e se torna fria e passa a perceber as pessoas apenas em função de sua utilidade; ignora a família e aqueles que o amam porque o trabalho, o dever, o poder, o status, as obrigações, o contrato, a empresa, etc, são mais importantes. O Sol está em Capricórnio, enaltecendo as melhores qualidades Capricornianas da maturidade, da capacidade de se virar sozinho, de se liberar dos apegos familiares para construir algo maior para além da família, que beneficie a sociedade… Mas daí a Lua se enche em Câncer e precisamos olhar para a família de novo e honrá-la e a tudo o que ela representa: origem, carinho, nutrição, afeto…
Família é aquele povo que vive brigando entre si mas que esquece os próprios conflitos internos para se defender mutuamente do mundo. Assim é em todas as famílias. Nossa família moldou muito do que somos, não só pela herança genética, material ou cultural que tenha nos deixado, mas também pelo inconsciente psicológico, que é mais influente em nossas vidas do que gostaríamos de admitir. As experiências na família também moldaram nosso caráter, tanto os ensinamentos diretos e explícitos, quanto aqueles sugeridos ou apenas intuídos por uma linguagem sutil, não expressa claramente, mais ainda assim, inequívoca. Os códigos, crenças e histórias familiares são poderosos e remontam a muitas gerações, a influenciar nossos comportamentos e escolhas, sem que percebamos. Achamos que somos muito “diferentes” e ultra-inovadores, super criativos em nossas escolhas, quando na verdade pegamos emprestado um talento de uma tetra-avó, um comportamento de um tio distante, sem rosto, um tique de um outro perdido nas brumas do passado familiar, um padrão “esquisito” de um bisavô que nem chegamos a conhecer… Não somos tão originais assim, ouço essa frase constantemente de alguns terapeutas de Constelações Familiares. É verdade, repetimos muita coisa da nossa família, coisas positivas e luminosas e outras sombrias e pesadas. Memória. Memórias. Memória consciente e memória inconsciente. Temas que ficam super realçados com a Lua Cheia em Câncer e que nos convidam a refletir sobre todas essas coisas e a honrar a família e a memória, especialmente porque ocorre num dia tão especial como o Natal, em que a grande maioria das pessoas volta para seu clã, para celebrar aquela Família Sagrada lá de Nazaré.
Que tal olhar para nós mesmos e nos perguntarmos de onde tiramos os muitos “retalhos” que compõem nossa personalidade, talentos, escolhas, comportamentos, habilidades? Por certo que temos nossa singularidade, mas ficaríamos surpresos em descobrir que provavelmente não se trata daquelas características que imaginamos… E mesmo sem saber de quem herdamos ou pedimos emprestado tais características e talentos, é bom agradecer, reverenciar e honrar todos aqueles que vieram antes de nós, que passaram tantas dificuldades e “perrengues”, para que nós pudéssemos ter uma vida melhor, para que pudéssemos ser mais livres e ter mais escolhas. Eles lutaram, do jeito que puderam, com as condições que lhes foram dadas, para que a vida continuasse e nós somos a vida em continuação. Por causa deles estamos aqui. A Lua Cheia em Câncer nos convida a reverenciar, a honrar, agradecer e celebrar esses homens e mulheres que vieram antes de nós, a maioria deles já sem rosto, perdidos na memória e no passado familiar longínquos, mas perfeitamente visíveis no inconsciente desta mesma família.
O mapa da Lua Cheia traz como aspectos principais apenas a oposição Sol-Lua e depois disso a Lua faz um trígono a Netuno e o Sol faz um sextil, indicando muita sensibilidade e uma ativação extra da memória pelas vias da nostalgia e da saudade. Mas outra coisa ainda chama a atenção no mapa da Lua Cheia: Urano está estacionário para se tornar direto em algumas horas, sugerindo uma retomada no despertamento simbolizado por este planeta, como também uma liberação de tensões e pressões que tinham ficado sem expressão nos últimos meses e agora voltam a ser expressas em direção a uma maior consciência e a um despertamento que quedava apenas latente.
Se Urano ajuda a liberar tensões, isso pode implicar uma potencialização da energia da Lua Cheia, que é, por si só, uma energia de crise, de cisão e de pico. Isso significa que nos próximos dias podemos ver pipocar mais discussões e crises familiares, conflitos que eclodem depois de terem ficado dormentes por muitos dias ou semanas. O fato de eclodirem não necessariamente é ruim. Apesar das discussões acaloradas ou cenas potencialmente desagradáveis, o desconforto que antes era disfarçado ou não ventilado agora vem à luz e as pessoas podem, finalmente, abrir o coração e dizer o que sentem, falar a verdade, serem honestas com o outro e consigo mesmas. Assim, apesar de ser crítico, o momento de liberação limpa o ar e desanuvia a atmosfera e faz todos voltarem a se olhar nos olhos novamente, sem receios ou culpas mal encobertas.
O Símbolo Sabiano para o grau 04 de Câncer (03° a 03°59’) traz uma imagem peculiar, que nos lembra exatamente crises familiares: “Um gato discutindo com um rato”. Um símbolo que implica, de forma imediata, a ideia de pessoas que convivem proximamente, no mesmo ambiente, se perderem em discussões que podem ser frutíferas ou completamente inúteis. Também nos lembra, de acordo com Lynda Hill, que há um desequilíbrio ocorrendo aqui, como práticas de bullying, jogos mentais e manipulação, assim como a capacidade de enfrentar oponentes maiores do que você e ser capaz de ganhar, como na história de Davi e Golias, por exemplo. Há a referência de se buscar proteger os oprimidos e mais fracos. De qualquer forma, o símbolo evoca uma imagem de conflitos de poder e a necessidade de se discernir entre discussões maduras e necessárias, em que se coloca as dificuldades na mesa para que o diálogo possa ocorrer, versus discussões inúteis em que apenas se quer ter razão a qualquer custo, para dominar o outro, ou ainda, discute-se apenas pelo hábito, pelo vício, pela troca negativa. Qual é o nosso caso? Em qual tipo de discussão costumamos nos envolver? Pelo quê discutimos? É bom refletirmos sobre isso também porque nossa resposta define nosso grau de maturidade neste momento, ou em relação às pessoas com as quais discutimos.
Ao redor da mesa posta celebramos e criamos vínculos. Partilhar comida é uma maneira de estreitar os laços, porque comer é um ato universal, que nos reduz à nossa condição mais humana: a necessidade de alimento. Mas partilhar comida também é um ato pacífico porque, já se disse, se você tem as mãos ocupadas com comida não sobra espaço para armas – embora alguns possam argumentar que os talheres bem podem substituí-las, mas não é disso que estamos falando aqui – o certo é que comer junto aproxima as pessoas, porque é um ato de grande generosidade, uma vez que você está partilhando não apenas o alimento da sua despensa e da sua mesa, que em muitos tempos já foi muito escasso – e ainda o é em muitas regiões do mundo – mas principalmente, você está partilhando sua intimidade. Por isso, só convidamos para sentar à nossa mesa pessoas com quem temos muita afinidade, a quem respeitamos ou de quem gostamos muito e quando as convidamos, estamos dizendo implícita e explicitamente: você é um de nós, você é parte desta família, mesmo que não tenhamos laços de sangue, mesmo que seja apenas um amigo. Diz-se que os amigos são a família escolhida. Eu diria que os amigos são a família estendida.
A Lua Cheia de Câncer nos diz que é tempo de celebrar: celebrar os laços amorosos, os vínculos afetivos; a generosidade que nos faz convidar outros a partilhar da nossa intimidade; a maturidade emocional, a capacidade de termos autonomia, mas de sermos ainda humanos o bastante para admitir que precisamos uns dos outros e que a vida e as conquistas são mais saborosas quando partilhadas com aqueles a quem amamos. Sobretudo, a Lua nos diz que é tempo de honrar nossa memória e o nosso passado familiar: todos os que vieram antes de nós, a começar pelos nossos pais, que foram corajosos o bastante para nos dar a vida, a despeito de quaisquer incertezas ou dificuldades que tenham enfrentado em seu tempo. E aqui estamos nós, a passar adiante seu legado, agregando nossa própria contribuição individual. Celebremos e brindemos a isso!
E eu agradeço, reverencio e honro, particularmente, ao meu Pai e à minha Mãe, que me deram a vida e agradeço a todos os que vieram antes deles, por tudo o que foram e que fizeram, do seu jeito, no seu tempo e que me permitiram estar aqui, neste tempo e neste lugar, sendo quem sou, do jeito que sou, com um pouco mais de escolhas do que eles jamais tiveram. Do jeito que foi, do jeito que é. OBRIGADA!
Feliz Lua Cheia para você!
Lindo. Para reflexão.