Lua Nova em Áries – Morrer para Renascer
A Lua foi nova hoje, 07 de abril, às 08h23min no horário de Brasília e às 11h23min no horário de Lisboa. A Lua Nova de Áries marca o começo definitivo deste ano astrológico, que foi iniciado com a ingressão do Sol em Áries, mas ainda no ciclo de Peixes. Portanto, se estávamos precisando de energia, impulso ou mesmo um “empurrão” para acordar e renascer, o momento é agora! Esta é a nossa deixa para sair da coxia, passar pelo doloroso canal do parto e entrar no palco central da vida, berrando e esperneando. Ruidosamente, desabridamente, começar de vez este ano que até agora parece ter apenas se arrastado!
Áries é o signo da iniciação, que traz presente o arquétipo do parto, o momento primeiro da nossa entrada na encarnação, nesta experiência humana, terrena e material. Flávio Gikovate diz que o parto é uma “evolução para pior”, porque no útero já estávamos naquele estado de felicidade urobórica, em perfeita unidade com a mãe-vida-Deus, no êxtase e beatitude da unidade com o Todo. E então a gente é expulso desse Paraíso! “Vá nascer!”, “Cabô moleza!”. À semelhança do mito da criação, somos expulsos do Paraíso e jogados neste Vale de Lágrimas. “Com o suor da fronte comerás o pão, até que voltes à terra, porque dela te tiraram; pois és pó e ao pó voltarás”. E Adão foi povoar o mundo junto com Eva, lutando permanentemente contra o impulso de morte e contra o desejo de retornar ao Paraíso, que no fundo são a mesma coisa. E lá vamos nós, nascer na vida, no Vale de Lágrimas!
Áries nasce das Águas Ulteriores de Peixes que, exatamente por serem as Derradeiras, voltam a ser as Águas Primordiais, de onde surge toda a Vida. Para renascermos em Áries, precisamos morrer em Peixes e assim a Roda da Vida segue seu ciclo, a exemplo da grande serpente Uroboros, eternamente engolindo a própria cauda, na autofagia que leva ao renascimento e ao novo ciclo. Assim, Áries encerra em si esse grande paradoxo: ele surge da Fonte Divina da vida, surge da Unidade, para se diferenciar e individualizar na experiência terrena, individualização que começa pela luta de vida e morte do parto e que se consubstancia no corte do cordão umbilical, a cisão que que corresponde ao click da chave sendo girada no portão do paraíso que acabou de ser cerrado às nossas costas. Agora estamos por nossa conta e risco! Temos a grande missão de ser, de nos individuar. Conseguiremos? A vida dirá!
Este dilema do nascer-morrer-renascer surge, agudo e potente, nesta Lua Nova de hoje. Ser expulsos do Paraíso para uma realidade que é qualquer coisa, menos paradisíaca e ainda assim, recuperar essa memória primordial da perfeição dos mundos, para tentar criar um paraíso na terra, forjado a cutelo, à força do nosso braço, trabalho e suor, abrindo picadas na selva bravia do mundo manifesto, mero reflexo da selva ainda mais selvagem e inescrutável que é a nossa alma densa.
A Lua Nova ocorre a 18°04’ de Áries, em conjunção aplicativa a Urano e em quadratura separativa a Plutão em Capricórnio. Sol e Lua ainda fazem um trígono separativo a Saturno, o Senhor da Separação por excelência. Urano é o Grande Despertador Cósmico, aquele raio que cai abruptamente, estrepitosamente diante de nós, aluminado tudo em volta, às vezes ao ponto de nos cegar temporariamente, tal a potência e fulgor dessa luz. Essa luz tem o poder iluminar a mente e a realidade, de modo que a percebemos de uma maneira inteiramente nova, como jamais a tínhamos enxergado, mesmo que ela tenha estado diante de nosso nariz por muito tempo. Assim, essa luz traz uma “revelação”. Mas para captarmos e assimilarmos tal “revelação” precisamos estar abertos a ela. Quem tem olhos para ver que veja, quem tem ouvidos para ouvir, que ouça. Urano também sugere que o corte do cordão umbilical é ainda mais rápido, a tesoura de aço inoxidável é também inexorável: a separação, o despertar da névoa e das brumas em que estivemos envoltos precisa ocorrer para já, para ontem! A quadratura a Plutão indica que já morremos muitas vezes antes, que enfrentamos muitos de nossos medos e demônios, já sabemos que eles irão conosco aonde formos porque são parte de nós e agora, de posse da força gerada por este enfrentamento, precisamos renascer, reviver, reinventar-nos completamente. Despertar para a nova realidade, sem anseios regressivos de uma salvação trazida por outrem, mas dispostos a sermos, nós mesmos, os únicos protagonistas da saga heroica que é a nossa história, mesmo que essa seja uma história anônima e comum, longe de holofotes e pós mágicos de celebritismos instantâneos – isso porque, em última instância, essa saga mítica que é nossa, esse mito pessoal, interessa somente a nós mesmos e não deve ser produção em série para ser vendida a troco da validação do olhar alheio. Despertar para nosso mito pessoal e vivê-lo verdadeiramente, com audácia, coragem, vigor e autenticidade, é o chamado dessa Lua Nova!
Contudo, as brumas que deixamos para trás teimam em nos seguir e alcançar. O regente da Lua Nova, Marte, está irremediavelmente engolfado nessas brumas. Marte está em Sagitário, numa conjunção ampla a Saturno, ambos em quadratura a Netuno de um lado e a Júpiter de outro. Temos aqui o planeta da vontade e da individualidade envolvido com companhias complicadas. Dois destes planetas negam, de formas diferentes, os intentos de Marte. Netuno nega pela dissolvição da vontade e das certezas, portanto, precisamos lidar com nosso próprio desânimo e letargia, nossa própria insegurança e falta de rumo representados por Netuno. Muito esforço é requerido para termos uma noção clara das nossas reais possibilidades, já que envolvido com Júpiter-Netuno, este Marte Sagitariano torna-se mais inflado (já é meio inflado em Sagitário) e pode ser apenas um balão de gás, vazio de substância real. Neste contexto, Saturno torna-se um grande amigo, a âncora da realidade no mar bravio dos excessos Jupiterianos e da ilusão Netuniana. Saturno nega porque representa limites e restringe o anseio desse Marte desabrido de “abraçar o mundo com as pernas”, dizendo-lhe que ele poderá até conseguir realizar tais intentos, mas somente à custa de muito trabalho e esforço, de renúncia, estoicismo, disciplina, perseverança. A situação fica um pouco mais complicada: Marte está a exatos nove dias de estacionar para entrar em movimento retrógrado e já trafega o grau em que estacionará. Hesitação. Vacilação. “Estou perdido. Vou, fico ou retorno? A névoa me impede de ver a direção certa. Perdi algo lá atrás, mas não sei direito o que foi, preciso voltar e recuperar… Acho que foi minha vontade que perdi, a conexão com o que realmente sou e quero, o desejo de ser e de me diferenciar. Mas não tenho certeza, porque também perdi todas as certezas. No caminho do regresso, ao encontrar o que foi perdido, saberei do que se trata”. Sem certezas. Assim vamos nós.
A situação de Marte indica que há muita ambivalência no nosso renascimento, que já não temos muita certeza se queremos, de fato, renascer – seria tão fácil desistir e nos deixar arrastar pela correnteza, tão mais simples e menos dispendioso… Para quê tanto esforço? Marte hesita. Hesitamos nós. Para lá ou para cá? Marte, como dispositor e regente da Lua Nova sugere o desejo regressivo de voltar ao Paraíso Perdido, como se o bebê hesitasse em tomar o canal do parto e se delongasse no útero, adiando a cisão, adiando o nascimento; ou como nosso despertar de manhã cedo, em que dizemos “só mais cinco minutinhos e eu levanto”. Mas sabemos aonde a hesitação do bebê nos leva: à morte! De fato, precisamos lidar conscientemente com este impulso de morte, o desejo de desistir, de parar a luta, o desejo de não ser, que está presente neste ciclo, indireto, mas insidioso. Conscientemente marchamos na infantaria, peito aberto, aparentemente dispostos à luta e a fazer o que for necessário para nos mantermos vivos. Mas lá na frente, quando já divisamos o inimigo diante de nós, tememos e trememos e, ao invés de lutar, ansiamos por simplesmente nos render, porque temos dúvidas se tal luta valerá o esforço, se valerá a pena todo o sacrifício, se temos qualquer chance de ganhar. Será? Contudo, Marte envolvido com Netuno e Júpiter também pode representar prodígios e benesses, se soubermos tirar proveito do posicionamento e ficarmos atentos às suas armadilhas: Marte-Netuno-Júpiter, que são os aspectos mais próximos aqui, indicam grande sensibilidade, imaginação rica e ilimitada e uma vontade que se move pela compaixão e pela fé mais do que pelo desejo egoísta de realização individual. Então, é claro que este Marte também traz potenciais de poesia e rica sensibilidade.
Nota rápida: é interessante que, falando particularmente da situação do Brasil, quando olhamos o mapa levantado para Brasília, vemos que A Lua Nova cai na cúspide da Casa 12, apontando, de novo, para esse paradoxo Peixes-Áries, dissolver-se ou diferenciar-se; morrer ou renascer; render nossa vontade, render-nos nos braços de um “salvador”, ou assumir nossa responsabilidade pelo que queremos realizar. O que isso diz sobre o momento do Brasil? Deduza você!
Há outras dificuldades inerentes a este ciclo, simbolizados pela falta de Ar neste mapa. Tudo aqui é Fogo e Terra. Há apenas Netuno e Quíron em Água e nada em Ar. Mercúrio, o planeta da mente e do raciocínio, está em Touro e praticamente sem aspectos, a não ser por uma sesqui-quadratura muito ampla a Saturno. Uma mente literal e obtusa, que só vê o que quer ver. Rigidez e fixação de ideias e pontos de vista. De modo geral, há dificuldade em planejar, em projetar adequadamente a ação e em nos distanciar para ter uma visão ampla daquilo que tentamos construir. É como imaginar e idealizar algo (Fogo) e SEM se dar ao trabalho de planejar ou ponderar sobre sua viabilidade, já nos lançarmos à sua execução e concretização. Todo mundo que já tentou realizar algo desta maneira teve que parar no meio da história porque faltou material, tempo, dinheiro ou qualquer outro recurso ou porque simplesmente surgiram toda a sorte de problemas não cogitados. Falta de planejamento e elucubração. Falta de Ar. Mercúrio sem aspectos demanda cautela para não nos tornarmos obsessivos e obtusos em nossas ideias, sem dar ouvidos a ninguém. Este é um dos grandes riscos do ciclo: falta de planejamento adequado naquilo em que nos lançamos e desejamos realizar. E sem planejamento, ficamos presos entre uma visão grandiosa (Fogo) e as muitas limitações para realizar tal visão (Terra). A Terra, que simboliza a capacidade de realização e concretização, pode tornar-se apenas símbolo de limites e de imperfeição. E voltamos ao dilema da expulsão do Paraíso.
É engraçado que eu não tinha analisado o Símbolo Sabiano previamente, antes de construir minha linha de raciocínio para este artigo. Às vezes eu faço isso de propósito, para me deixar surpreender ou para me desafiar a encontrar maneiras de “costurar” o Símbolo dentro da minha argumentação. Ele confirma ou contradiz a minha análise? Este símbolo é uma grata surpresa: “Um tapete mágico paira sobre a realidade depressiva do cotidiano numa área industrial”.
Um tapete mágico é algo que permeia nossas fantasias e que sugere a ideia de escapar para terras também mágicas, onde tudo é possível. Este tapete, símbolo da capacidade de escapar pela magia e imaginação, paira sobre uma área industrial depressiva, símbolo da competição humana e do desenvolvimento industrial com suas consequências nefastas de depredação e obsolescência da vida como um todo, ou da “vida baseada na produção e consumo material, com a resultante poluição”* . O tapete representa a capacidade de nos distanciarmos e observarmos as situações de fora, refletindo sobre elas mais impessoalmente, sem nos deixar contaminar por elas, sem nos envolver demasiadamente – talvez este símbolo enfatize com isso a necessidade de analisarmos as coisas de fora e nos reporta à falta de Ar desta Lua Nova, já analisada acima.
O tapete pairando sobre esta realidade sombria de uma área devastada pela ação humana, em nome do “progresso”, remete-nos novamente, para o tema do nascimento e enfrentamento da realidade em que nos encontramos (Sol-Lua em Áries-Saturno + Lua-Plutão) versus os apelos regressivos e escapistas representados pela situação “grudenta” e capciosa de Marte-Júpiter-Netuno… Obviamente esta é uma leitura negativa deste Símbolo. Entretanto, o Símbolo, como tudo na Astrologia e na vida, também tem uma interpretação auspiciosa: o tapete vem simbolizar que, não importa quão depressiva e feia esteja a situação, ainda podemos nos elevar acima de tal realidade e transcendê-la.
Faço questão de trazer na íntegra o texto de Lynda Hill* sobre este símbolo: “’Um Tapete Mágico’ talvez seja o que é necessário agora. Ao nos elevar acima das ‘realidades depressivas’ ao nosso redor, podemos ter uma melhor perspectiva sobre as questões mais difíceis da nossa vida. O ‘Tapete Mágico’ é, na verdade, um veículo para a imaginação e usar a imaginação pode elevar nosso entendimento, consciência e existência às místicas, às vezes fantásticas esferas. Há uma mensagem clara de que você tem a habilidade de se elevar acima de ou mesmo transcender, preocupações e contendas. As coisas serão reveladas a você se você permitir que as verdades espirituais e criativas aflorem à sua consciência. é preciso cautela para não subestimar o poder em potencial nas coisas mais prosaicas e mundanas, porque pode haver sinas ‘mágicos’ nelas. Talvez você esteja sendo escapista ou sonhando com o impossível. Você está tentando usar o ‘Tapete Mágico’ para ver uma Verdade Maior? Quais novas ideias você pode materializar na sua vida para se elevar acima de onde você está agora? Palavras-chave: Visões e perspectivas elevadas. Achar um veículo para a transcendência. Elevar-se acima dos problemas. Meditação. Pensamento lateral e criativo. RISCOS: incapacidade de lidar com a realidade. Escapismo. Anseio por se perder. Perder-se completamente em fantasias irreais. Drogas e álcool para escapar da realidade. Poluição. Sentir-se estagnado”. Sim, o símbolo é mágico e magicamente confirma os temas da Lua Nova.
Como vemos, a Lua Nova aponta em duas direções básicas: escapar, desistir e morrer, abrir mão da vontade e dissolver-se no caos por não conseguir enfrentar a dureza e a imperfeição da realidade; ou renascer corajosamente e abrir-se à revelação que será instrumental para o nosso despertamento pessoal. E há, ainda, uma terceira via: enfrentar a visão sombria dessa realidade fumacenta e elevar-se acima dela, não para escapar, mas para transformá-la. Nascer nessa realidade para transformá-la e buscar a transcendência. Usar os insights e revelações gerados pela rica imaginação e pelos flashes Uranianos para criar uma outra realidade, de maior consciência e verdade. Como respondemos a este desafio? Renascemos ou nos deixamos perecer?
*Lynda Hill é uma astróloga australiana que se dedica ao estudo dos Símbolos Sabianos e escreveu um livro sobre sua interpretação: Sabian Symbols – 360 degrees of Wisdom
Show
Gratidão!! 😀
VOU SUBIR NO MEU TAPETE MÁGICO, PEGAREI A FORÇA DO AR E IDEALIZAREI VIDA NOVA. VOU RENASCER.
É isso aí, Claudia!
😀