Lua Cheia em Touro – Construir x Destruir / Hedonismo x Estoicismo

29 10 2012 as 15:47

Depois do embate apaixonado e febril que travamos durante a lua cheia de Aries em 29 de setembro, a Lua Cheia em Touro (Sol em Escorpião) nos convida hoje a botar os pés no chão e analisar as decisões que tomamaos lá atrás com seriedade e lucidez. Deliberar sem pressa sobre o mundo visível e tangível (Touro) e sobre as verdades ocultas e misteriosas submersas nas águas profundas do inconsciente, pessoal e coletivo (Escorpião), e que às vezes nos recusamos a ver por serem dolorosas demais. Deliberar sem pressa também sobre se nossas escolhas  lançaram bases sólidas para nossos projetos,  e agora buscaríamos a continuidade; ou se essas decisões foram contaminadas pela paranóia e o medo, impregnando a fundação com o fétido odor da estagnação, sendo exigida então sua destruição completa para que um novo começo seja possível, agora sobre bases mais limpas e sólidas.

Touro-Escorpião é a polaridade do desejo e da posse,  seja de dinheiro, propriedades, comida, luxo e riquezas e de tudo que é tangível e palpável (Touro) ou de emoções, sentimentos e, claro, de pessoas (Escorpião).  Aqui entram em campo o ciúme e o apego excessivos, novamente, seja de coisas ou pessoas. Então nos perguntemos: em que área da nossa vida perdemos o controle e nos tornamos “possessos” pelo apego, pelo ciúme ou pelo desejo insaciável de possuir e consumir?  Ou ao contrário, em que área sentimos que precisamos estar no controle sempre, engessando todas as possibilidades de relaxar e ter pazer genuíno e verdadeiro e de aproveitar do melhor de nossa natureza animal e instintiva? Por que é tão importante “possuir” tal objeto de desejo? Para ostentar, para me sentir seguro, para me sentir importante, para me sentir no controle, para me sentir poderoso?

Touro-Escorpião também é a polaridade do hedonismo, que pregava a busca egoísta dos prazeres momentâneos,  versus o estoicismo, que via no auto-controle e na firmeza de caráter uma forma de superar emoções destrutivas. Assim, traçando uma caricatura bem negativa, o hedonista seria aquele que cede a todos os desejos instintivos dos sentidos e do corpo, seja por comida, bebida, sono ou preguiça, sexo… Aquele que se deixa dominar pela necessidade absoluta do prazer e do deleite , tendo dificuldade de dizer não a si mesmo e de viver com um mínimo de disciplina – Touro é o bebê que está descobrindo o próprio corpo, deleitando-se com as sensações provocadas pelos sentidos, perdido nessas sensações. Já o estóico Escorpião tem uma força de vontade inquebrantável, uma vontade de aço, um auto-controle estupendo, que está acostumado a negar a si mesmo certos prazeres, certas vontades, só para provar que pode resistir a esses apelos. Assim, muitas vezes perde boas oportunidades de viver plenamente e de perceber que não se corromperá se comer uma fatia da sua sobremesa preferida uma vez por semana, ou que o mundo não vai se desintegrar diante de seus olhos se ele relaxar só um pouquinho. Aqui cabe então refletir sobre o corpo e nossa relação com ele, seja de uso e abuso ou de integração e respeito. Anorexia e Bulimia por exemplo, são doenças graves que têm uma relação direta com questões de controle ou falta de. Pergunte-se: como é sua relação com o corpo? Você o vê como um vaso especial da alma e que por isso mesmo precisa ser cuidado, amado, respeitado e honrado em todos os sentidos ou é o corpo um peso e um significador de problemas, doenças, difícil de ser habitado plenamente, algo que precisa ser dominado a qualquer custo? Cedemos à busca desenfreada do prazer sensorial ou o controlamos para provar quem é que manda? Nem tanto à terra, nem tanto ao mar. Como sempre, a chave pra a solução do dilema está no equilíbrio, e era o que Epicuro pregava como resposta ao hedonismo. O Epicurismo busca os pazeres de forma moderada para atingir um estado de tranquilidade (Touro) e de libertação do medo (Escorpião). Também procura a eliminação do sofrimento do corpo através do conhecimento de como funciona o mundo e das leis da natureza, assim como da contenção dos desejos – o que nao [e o mesmo que repressão.

Para terminar, uma outra questão muito pertinente a esse eixo é a contradição construção-destruição. Touro é um signo que procura e precisa de segurança mas se não  toma cuidado, apega-se demais ao estado presente de coisas, não percebendo a hora de mudar, não percebendo que estagnação significa morte ou prisão perpétua no labirinto do monstro devorador, o que dá no mesmo. Escorpião, por outro lado, tem necessidade de crises e transformação constantes, de renovação permanente, correndo o risco de destruir o que existe e que foi conquistado a duras penas só pelo prazer  de ver o circo pegar fogo. Como sempre, a sabedoria está na integração dos dois lados da polaridade. Ficar atento para perceber a hora em que as estruturas precisam ser derrubadas para que algo novo surja ou ter a coragem de defender aquilo que existe e que ainda tem valor e que por isso mesmo deve ser mantido, conservado e continuado. O pulo do gato é descobrir quando fazer o quê.

Sue Tompkins, uma grande astróloga inglesa diz que “Touro pode ensinar a Escorpião a aceitação e a paciência, já Escorpião pode apresentar a Touro a paixão e a possibilidade de viver a vida de forma mais profunda e apaixonada”. Como numa dança a dois, um fica incompleto sem o outro.

(Touro é regido por Vênus, que está dignificada em Libra. Mais tarde escreverei sobre isso e sobre a conjunção Sol-Saturno)